Ritual Macabro

Era uma manhã nublada, a atmosfera parecia mórbida naquele dia. Na sala, eu conversava com a minha prima, sentado numa cadeira de costas para a porta.

-Daqui a pouco mamãe chega, ela virá aqui hoje para te conhecer. –Minha prima falava.

-Do que você está falando, Susana? Eu já conheço a sua mãe, que coincidentemente é minha tia. –Eu falei sorrindo.

-Tem certeza? Bem, vamos saber logo, porque ela acabou de chegar. –Susana disse apontando para a porta.

Ao virar a cabeça, eu estremeci. Um arrepio nunca sentido antes tomou conta do meu corpo. E a mulher à porta, sorria. Ela era negra, mas a cor da sua pele não era normal, não era um tom comum, era algo macabro, obscuro, sombrio. Os ossos da face eram visíveis no seu rosto magro. Seus olhos, profundos. Contudo, ela usava um vestido branco. O que me deixou um pouco confuso. O choque que eu tive ao ver aquela mulher não me permitiu notar, de início, as “pessoas” que acompanhavam aquela esquisita.

Olhando para baixo, eu vi cerca de dez “crianças” ou “bonecas”, eu não era capaz de distinguir. Aqueles seres sequer alcançavam, em altura, o joelho da mulher. Todas as “crianças” eram idênticas a ela, eram como uma versão reduzida e mais assustadora. Ao perceberem que eu havia notado a presença delas, puseram-se a gritar. Um grito sobrenatural, sem fim.

De repente, eu estava em outro ambiente, numa sala de eventos bem espaçosa. As arquibancadas estavam lotadas. Eu não sabia o que seria apresentado ali, eu sequer sabia como havia chegado naquele lugar. Olhei para os lados, e as pessoas pareciam estar ansiosas. No centro do palco, havia uma mesa com um pano negro, um livro de capa escura sobre ela e, perto deste, uma pena dentro de um pote de tinta.

As cortinas, ao fundo, se abriram. E ela entrou. A mesma mulher que eu havia visto anteriormente, contudo, sua pele era, dessa vez, clara como a neve, e o seu vestido, negro. Fiquei confuso, mas sabia que era a mesma pessoa por causa daquele rosto esquelético e macabro e também devido aos dez pequenos seres que a acompanhavam. Ela trazia um deles no braço, colocou-o sentado sobre a mesa, andou alguns passos para frente e começou a falar.

Sua voz ecoava diabolicamente naquele lugar. Ela apontava para algumas pessoas e dizia seus nomes, como se os selecionassem para algum tipo de ritual. Eu não podia ficar ali, não parecia certo. Saí lentamente pela porta dos fundos. Havia um muro alto impedindo que eu passasse. O medo era enorme. Contudo, afastei-me um pouco do muro e corri em direção a ele, conseguindo alcançar o topo. Pulei. Do outro lado, havia uma rua cheia de fogueiras acesas e, no topo dos postes, algumas galinhas com penas pretas estavam penduradas por um cordão. Aproximei-me, para ter certeza do que estava vendo.

Após alguns passos, cheguei próximo o suficiente da primeira fogueira e vi o que havia dentro dela: corpos humanos. Gritei. Olhei para cima, e percebi que as galinhas sangravam sem cabeça. Não sabia o que fazer, para onde ir ou a quem pedir ajuda. Corri. Contudo, não demorou muito para eu perceber que a rua era sem saída. Decidi voltar. “Aquela mulher... tudo isso deve estar ligado a ela”. Pensei.

Pulei, novamente, o grande muro. Entrei na sala de eventos. As pessoas estavam em uma fila única que se direcionava até a mesa do palco. A mulher encontrava-se sentada, com o seu livro negro aberto. Aproximei-me um pouco e percebi o que se passava naquele lugar. Aqueles seres pequenos, parecidos com bonecas vivas, tiravam sangue de cada pessoa para encher os potes de tinta, e a mulher usava a pena negra para escrever os respectivos nomes naquele livro macabro. Senti aquele arrepio novamente.

Tentei correr e procurar outra saída, mas fui atingido na cabeça, caindo. O sangue escorria pelo meu rosto e eu rastejava. Ao abrir os olhos, vi os pequenos ajudantes daquela mulher correndo em minha direção. Não havia apenas dez, pareciam centenas. Tentei correr, mas não tinha forças, tentei gritar, mas nada se ouvia, tentei me defender, mas não consegui. Todos eles se jogaram em cima de mim. Fiquei sem ar. E quando senti a morte chamar meu nome, o despertador tocou e o pesadelo acabou.

Obs.: Baseado em um sonho

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 26/07/2013
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T4405231
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