O Ultimo Beijo

Sei que as vezes uso

Palavras repetidas

Mas quais são as palavras

Que nunca são ditas?”

QUASE SEM QUERER, RENATO RUSSO

Deixa a vela clarear sua face esplendorosa... Alise seu rosto branco por sobre o véu transparente diante do cortejo fúnebre. A copie em sua mente antes que os vermes a devorem!

Segure firme com o braço esquerdo a alça larga do caixão... A moça morta ainda conserva a beleza rodeada por flores frescas. Chore o que tiver pra chorar, olhe para trás, a multidão triste, os familiares inconsolados seguindo o cortejo, rumo a sepultura, ultima morada do seu grande amor.

Eles não sabem, é claro que não sabem que você a matou! Você a amava mais que tudo! Como poderiam eles desconfiar?

E como explicar que foi tudo um acidente sem ser julgado e condenado?

Ela esta morta e isto é fato, você não teve culpa... Talvez tenha, mas se converta em arrependimento, busque a paz de seu espírito e tente acalmar seu coração machucado pela grande perda:

— Eu te amo – Foi as ultimas palavras que sairão da boca dela.

O tiro a atravessou, ela caiu e você a socorreu... Ela antes de fechar os olhos disse que te amava! Queria dizer que estava perdoado, mas... “Eu Te Amo” poderia dizer tantas coisas que você por fim poderia entender o perdão concedido...

— Foi um assaltante... Entrou para levar nossas coisas e acabou tirando o que eu mais amava! – Foi com essas palavras que você se defendeu e foi consolado.

A noite cai, o cortejo chega ao seu destino. O caixão é aberto para a ultima despedida. Fecham ele logo em seguida... A família se despede e ele desce lentamente até a cova profunda.

Você apenas segura a vela acesa e lamenta profundamente... A terra cobre sua amada e as pessoas seguem suas vidas, esqueceram mais cedo ou mais tarde. Mas você não. Você jamais se esquecerá!

A noite se cala. Você está só com ela no cemitério... Esta insano diante do sepulcro de sua amada. Chora, chora em remorso pedindo perdão:

— Por Deus, meu grande amor... Me perdoe... Eu... Eu disparei sem querer... Achei que estava descarregada... Eu jurava que estava... Me perdoe! Me perdoe meu grande amor!!!

Você cai de joelhos, junto com a chuva fina... O desespero lhe culmina e a vela se apaga. Você não consegue se perdoar... A dor e a saudade se fundem e você apela, quer desenterrá-la e beijar-lhe a face, quer invadir com as unhas a terra fofa, rasgar a tampa do caixão, tomá-la em seus braços e dar um ultimo beijo, antes que sua beleza alimente os vermes e seque.

Você cava, cava desvairado, profana com suas mãos imundas o leito sagrado de sua amada! Arranca a moça de seu caixão, de seu enfeite de flores e implora:

— Me perdoe... Não sei viver sem o teu amor...

Ela abre os olhos, te olha tremula. Vê sua reação e triste, diante sua delinquência, indaga:

— Eu não te perdoo!

Você treme, o inferno desce na terra. Ela esta rancorosa e lhe ataca... Como é cruel a dor do remorso... Você se deixa levar pela ira de sua doce amada... Se entrega a fome de vingança de seu grande amor, deixa ela abrir seu peito e devorar seu coração, pois você prometeu que ele seria para sempre dela...

Julio Dosan
Enviado por Julio Dosan em 21/07/2013
Reeditado em 21/07/2013
Código do texto: T4397470
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