Noite
Era uma noite curiosa.
As barricadas estavam vazias as luzes apagadas,os lampiões sem chama e a rua sem barulho.
Eu caminhei pelas ruas escuras que um dia vi pessoas andando,conversando.
Olhei para a esquina,onde via mendigos dividindo comida,mas agora nada mais estava lá.
A lua brilhava,de um forma estranha,refletindo na água,de uma forma macabra,como se esnobasse a companhia das estrelas.
Passei pelo mercado,onde um dia vi homens discutindo o preço do leite,agora somente o leite estava lá.
Mais adiante via a igreja,que antes tocava o sino de forma forte e rigorosa,agora somente o vento o movimentava,me lembrando dos dias que um padre o puxava.
Olhei para cima,as estrelas me observavam de um jeito irritante,como se dissessem:”Olhe,como eu tenho companhia nessa noite”
Caminhei mais um pouco,cheguei perto da velha usina,vazia,com as saídas de vapor abertas,destroços para todo o lado.
Nunca mais algum trabalhador bateu o ponto,fazendo aquele apito da máquina e a luzinha vermelha.
Eu caminhei por mais um tempo,cada vez fui chegando mais perto do memorial,um lugar que tristemente lembra a época em que as pessoas passeavam,conversavam ou qualquer outra coisa do cotidiano.
Agora fiquei parado,observando os fios brancos,juntos,interligados,enrolados e presos a uma gigante arvore,em suas copas jaz o inominável,em seus galhos,teias.
E nessas teias,casulos,contendo cada pessoa,desde os mendigos até o padre que tocava o sino,fazendo-me pensar,para eles foi dado a dádiva do sono e para mim,a maldição da existência.