O que você fez?

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Nadia esperava por uma resposta, mas ele permanecia ali calado, quieto, tentando organizar suas idéias.

- Ivo? Tira um, fica quatro, tira dois fica cinco. Ela mal ouviu a charada e conseguiu decifrar tão rápido! E o que o Ivo me fez para se tornar um traidor? Há anos eu o conheço. Mas eu também conhecia o Jonas, e aquele traidor havia me tirado toda a parte da fábrica. Mas o Ivo? Não vejo como ele poderia me trair.

- Max? – A voz dela penetrou em seus pensamentos despertando ele como se acabasse de levar uma bicada do próprio relógio cuco. Max olhou para ela ainda descrente de tudo que havia ocorrido até ali. Aquele estava sendo com certeza o pior dia de sua vida.

- Como descobriu o nome tão rápido? – Ele a perguntou.

- Essa é muito fácil! Pense Max! Tira um fica quatro, são só três letras, a charada já diz. Então o que se tem que fazer é sempre pensar nas dicas como letras que se associam à números. Tirar um de três letras e ficar quatro, o que importa então é o que fica. O que seria quatro pra você se agora só tem duas letras?

- Quatro? Apenas letras... – ele pensava alto como sempre.

- Isso mesmo! – Nadia incentivava.

- Algarismos romanos? – Ele arriscou.

- Perfeito Max! O que seria o quatro?

- IV! Realmente fácil. E se tiro duas, no caso do I e O, resta o V, que corresponde a cinco. Caramba! – Ele disse aparentemente satisfeito por ter entendido aquilo, por mais que nada que acontecesse ali lhe traria um sorriso naquele momento.

- Perfeito Max. Sempre imagine letras, ligue as dicas a letras. Não importa o que te digam. É um nome, então tem que ser letras! Entendeu? – Ela perguntou como se fosse uma professora em uma sala de aula, com uma proeza incrível. Max a olhou um tanto bobo com a situação e assentiu com a cabeça, deixando para responder apenas alguns segundos depois.

- Sim, agora entendi.

- Mas quem é Ivo? – Ela insistiu.

- É meu jardineiro. – Ele disse dando de ombros pra ela.

- Um jardineiro? O que esse cara fez com você pra merecer morrer?

- Não sei, mas ele me conhece desde que eu ainda era um rapaz. É um amigo de confiança. Ele tem quatro filhos, sua esposa já faleceu. Ele até cuidava de minha casa quando íamos viajar. Não faço realmente a mínima idéia do que ele tenha feito, mas precisamos descobrir. Venha!

Eles então saíram da lanchonete e entraram no carro. Max girou a chave e acelerou.

- Você está pronta pra isso?

- Pra quê?

- Matar alguém? – Perguntou como se ele algum dia tivesse feito um curso de como matar amigos traidores.

- Eu não! Quem vai matá-los é você, pisa fundo! – Ela disse enquanto colocava o cinto de segurança.

Eles seguiram pela avenida principal rumo a casa de Ivo. O silencio predominou por algum tempo, ambos absortos em tudo que havia acontecido naquele dia infernal, sem saber que aquele era só o principio. Max pensava em seu filho, no quanto Bernardo precisaria dele, no quanto seu filho poderia estar sofrendo.

- Quanto tempo temos? – Ela perguntou interrompendo os pensamentos de Max e aquilo o trouxe certo alivio.

- Quinze minutos. – Max respondeu. – Mas é bem perto.

- Quem é ele? O assassino? – Nadia indagou.

- Não sei. O que sei é que é um cara muito esperto. Culto, e de uma mente doentia. Ele não deixou escapar nada Nadia? Quero dizer, na lanchonete, algo que pudesse identificá-lo. Qualquer coisa. – Max investigou.

-Não! Realmente ele é muito esperto! Lá na lanchonete ele falava apenas o necessário. Acho que era para que nós não reconhecêssemos sua voz. E também usava luvas. Um boné de entregador provavelmente para omitir a cor dos cabelos. Além da máscara é claro. Mas era alto, cerca de 1,83 m, e seus olhos eram sinistros.

- Como assim?

- O seu olhar era inquisitivo, sabe. Ele parecia ter o dom para fazer interrogatórios, o que mais assusta é sua frieza, ele é calmo demais. Mas uma calma estranha, insana mesmo.

- Isso é o que mais me assusta também! Pessoas assim não tem controle do que fazem quando explodem. É o que mais me preocupa. Preciso tirar logo meu filho de perto dele. – Foi quando o telefone tocou e eles se entreolharam.

- É ele? – Ela perguntou.

- Sim. Mas o número sempre é outro. Ele nunca liga do mesmo telefone. Deve estar com vários chips diferentes e provavelmente deve descartá-los após a ligação. – O telefone continuava a tocar.

- Alô? – Max atendeu.

- Que bom que estão se entendendo Max. Vejo que decifraram a charada.

- Sim! Mas o que ele fez. É só um senhor. Um amigo.

- Tem certeza? Quantas vezes precisarei te dizer Max! Há um câncer à sua volta. Estou te ajudando a arrancá-lo.

- Onde está meu filho? – Perguntou Max.

- Ele está bem! Ele resisti por mais três horas. Por aí... Mas não se preocupe com isso ainda.

- Quero falar com ele!! – Gritou Max ao telefone.

- Eu sei que quer Max, ele também deve estar querendo muito falar com você, mas acho que ele está muito ocupado tentando viver. – ele dizia com sua voz mecânica e fria, Max sentia que ele estava rindo do outro lado da linha e aquilo o trazia a mente seu pior medo. Bernardo poderia já estar morto e aquilo tudo não passar de um joguete. – Mas acalme-se. Daqui três horas o verá, se vencer o jogo é claro!

- Não toque nele cretino! – Max ordenou como se ele estivesse no controle da situação.

- Não, não Max. Eu nem precisarei disso. Vá até o Ivo Max. E lembre-se. Eu sou a chave! Quem é a porta? A ligação caiu.

- O que ele disse? – Nadia perguntou.

- Não me deixará falar com meu filho. Tenho medo do que pode estar acontecendo lá. Precisamos acabar com este jogo logo. Max dirigiu mais alguns minutos e de repente girou o volante e entraram numa rua de terra.

- É nesta rua?

- Sim. É um sitio no fim da rua. Ele morava lá com sua família, mas seus filhos se casaram e agora ele vive aqui sozinho. Adora cultivar suas plantas e também as revende para floriculturas. Além de também cuidar dos jardins do bairro. Não vejo motivo para ele me trair Nadia. É só um velho.

Era uma construção antiga, mas bem cuidada, um belo jardim na frente da casa, cheio de rosas, e árvores, mangueiras, jabuticabeiras, laranjeiras, uma parte gramada, mas em sua maioria era chão de terra batida. Eles deixaram o carro e entraram pelo portão. Faltavam onze minutos. Max ia á frente, Nadia o seguia. Estavam agora a porta da casa. Max bateu e chamou:

- Seu Ivo? Você está aí. – Mas não ouviu nada. Chamou novamente, porém o silêncio era total. Girou a maçaneta e abriu a porta de madeira que rangeu escandalosamente e os dois entraram.
A sala da casa era enorme, havia dois jogos de sofás velhos, uma TV de 29” e um toca disco na estante eram as únicas coisas que puderam vislumbrar. Adentraram pelo corredor, e viram as quatro portas dos quatro quartos que ficavam mais à frente. Max abriu a primeira, mas não havia ninguém ali, foi para a segunda, e também não encontrou nada. Nadia ia espiando por cima do ombro dele. O terceiro quarto também estava vazio. Restavam apenas o banheiro, um ultimo quarto e a cozinha. Eles continuaram. Max abriu a próxima mas Ivo não estava novamente, seguiram para porta do banheiro e ali também não encontraram nada. Chegaram à cozinha e novamente não havia ninguém ali. Max estava confuso com aquilo tudo, tentava raciocinar, quando ouviu o grito de Nadia.

- O que foi? – Ele perguntou abruptamente. Max se virou na direção de Nadia e lá estava.

Era a porta que dava para o fundo da casa. Havia uma forca desenhada a sangue e um "?" desenhado. Eles abriram a porta e quando Max pisou do lado de fora, ouviu o som de algo e encontrou um monte de metais brilhando no chão, mas não eram simples metais, eram chaves, ele havia pisado num amontoado de chaves. Nelas havia um chaveiro cheio de tetra chaves. Ele estava banhado de sangue. Ele o pegou.
Nadia acompanhava cada passo. Havia uma pequena placa onde estava gravado Siga-me. A principio Max não entendeu. Mas foi quando Nadia disse.

- Que chaves são essas? Havia uma chave a cada metro de distância, o sol batia nelas fazendo com que elas brilhassem, era uma trilha. Eles seguiram apressando-se, foi quando Max percebeu onde estavam indo e começou a correr. Nadia o seguiu da mesma forma. Era a estufa. Logo puderam ver o corpo dele mesmo de fora dela, pela lona transparente que cobria toda sua estrutura metálica.

- Meu Deus do céu! – Nadia não se conteve e fechou os olhos.

A estufa não era grande, ali Ivo cultivava apenas suas rosas mais preciosas. Havia rosas lindas ali, entretanto Max e Nadia não podiam nem perceber aquela beleza, pois o que se destacava naquele momento era um corpo ensangüentado. Ivo estava dependurado entre duas colunas da estrutura metálica, as cordas estavam amarradas e enroladas em seus braços, uma corda em cada um, uma saindo de seu braço e amarrada no alto da coluna á esquerda, enquanto a outra corda, do outro braço era amarrada á direita. Uma terceira corda estava amarrada na viga superior e descia até seu pescoço, mas isso não era o pior, nas cordas havia rosas, rosas vermelhas lindas e cheias de espinhos, seus ramos entrelaçavam as cordas. O pescoço dele estava ensangüentado. Ivo precisava manter as cordas esticadas ou morreria enforcado. Dava para ver os músculos dele tencionados, as veias de seu braço altas, estava nu como Jonas, seus pés suspensos no ar á cerca de um metro e meio do chão, mas havia uma corda de sessenta centímetros, uma ponta amarrada em seus pés e a outra ao saco de esterco que estava encima de uma estante de metal de um metro e vinte centímetros de altura usada para colocar sementes, alguns fertilizantes e outros utensílios necessários para o cultivo das rosas. O sangue escorria por todo seu corpo até chegar a ponta dos dedos dos pés até se perder de vê de seu corpo. Eles então entraram na estufa. Ivo viu Max. Sua boca estava livre, mas de que adiantava gritar ali. O sitio era muito afastado das outras casas e ele estava muito longe do portão de entrada.

- Max!!! Ainda bem. - dizia ele ofegante, bufava pela força que fazia para manter seu pescoço o mais longe da corda cheia de ramos espinhentos. Seu pescoço e nuca sangravam, fez mais força com as mãos se erguendo para que sua dicção melhorasse sendo que a corda era outro fator que o impedia de falar, pois pressionava sua garganta.

- Me ajude amigo! Por favor!

- O que é isso em seu peito Ivo? Perguntou Max que via o desenho a sangue.

- Ele é louco Max! Louco! Não o ouça! – Ivo agora estava com um olhar de pânico. – Me ajude, por favor, amigo!

- Eu perguntei o que é isso! Me responda!! – Max agora gritava com ele, sua ira só aumentando.

Nadia levantou os olhos vencendo o medo e viu o peito do homem nu à sua frente. Espantada viu o desenho até então sem sentido para ela. Havia uma chave desenhada e abaixo estava escrito:

“EU SOU A CHAVE”

- Mas o que isso significa? – Ela perguntou completamente confusa.

- Me perdoe Max! Eu não sabia! – O medo consumia a face de Ivo que começava a tremer, aquilo fez com que ele perdesse força e os braços cederam ao peso de seu corpo fazendo com que os ramos penetrassem mais em sua pele. Ele gemeu de dor e forçosamente ergueu a corda o máximo que pôde.

- O que você fez? Você matou ela! É culpa sua, seu cretino! O Bernardo te respeitava como um avô e você nos sentenciou a isso?? O que ele te deu?

Nadia continuava sem entender o que se passava e em seus pensamentos procurava compreender a situação:

“O que significava aquele desenho? O que ele havia feito?”

- Ele me pagou Max. Mas não foi o mesmo homem. – A corda escorregava em seus braços já roxos e marcados, Ivo perdia cada vez mais a força. Os espinhos rasgando sua pele, a saliva saindo de sua boca enquanto falava. – Ele disse que só iria entrar na sua casa e roubar. Isso foi há muito tempo, Max. Aquele roubo há um ano, lembra-se?? Eu precisava de dinheiro na época. Minha filha estava muito doente. Eu, eu pensei que não iria acontecer mais nada, eu juro!! Depois que encontraram o rapaz que eu havia dado a chave morto enforcado. A policia disse que havia sido suicídio, eu havia ficado tão aliviado com a morte dele, ele também me enganou Max!! – Disse Ivo em meio a lágrimas de seu desespero.

Max levantou a mão e abriu-a. Uma tetra chave estava na palma de sua mão.

- Eu sei Max! Eu errei! Sinto muito. Eu não devia ter dado a chave pra ele.

- Você senti muito, Ivo? É a chave da minha casa. As palavras do assassino repetiam-se em sua mente. “Eu sou a chave, o que adianta a chave sem uma porta, Você primeiro tem que encontrar a porta depois terá a chave.” Lembrou-se do interrogação na porta. Ele não estava falando dele, era de você!! – Max naquele momento teve um surto e começou a gritar e quebrar os vasos à sua volta, ele parecia estar louco.

-Você a matou!! Ela te adorava!! Eu confiava em você!! – Max por fim se controlou e então fechou os olhos, tentando se acalmar. Virou-se para Ivo com um olhar frio que ele mesmo nunca imaginou que poderia ter.

- Max, não faça isso comigo!! – Implorou Ivo.

- Feche os olhos de novo Nadia! – Mais um traidor vai morrer! – Ela fechou os olhos, Max pegou um vaso maior e olhou nos olhos de Ivo e disse:

- Eu te perdôo Ivo, mas o Bernardo vive!

Max jogou o vaso contra a estante, que tombou e caiu. O que se seguiu foi muito rápido. O saco de esterco desceu puxando os pés de Ivo para baixo, ele não podia dizer mais nada. Tentou por um segundo suportar todo aquele peso, mas foi em vão. Os espinhos penetraram em sua pele, rasgaram seu pescoço, arranharam seus pulsos e o sangue jorrou pelo seu corpo. Seus olhos de repente ficaram vazios. O pescoço deslocou-se de uma forma estranha, para traz, esticado, o queixo para cima e Ivo de repente estava inerte, dependurado em um coleira de espinhos. Os braços levantados para o céu. Max não fechou os olhos, ficou firme ali, olhou para o relógio, engoliu seco e virou-se para Nadia.

- Vamos sair daqui? – Ele disse aparentemente como se nada tivesse acontecido.

- Por que você não disse logo. – Ela falou e eles saíram. quando estavam no portão do sitio o telefone tocou.

- Alô? – Disse Max.

- Belo trabalho! Excelente! Agora faça-me o favor Max, coloque o telefone no viva voz. A Nadia precisa escutar.

- Qual a próxima dica? – Perguntou Max após colocar no viva voz.

- Acalme-se Max. Parabéns, pois passou de nível novamente. Parabéns a você também Nadia. Bela parceira! Eu não poderia achar uma melhor para o Max. Suportou muito bem. E Max, você teve sorte em achá-la.

- Pela primeira vez concordo com você. – Disse Max olhando para ela.

- Nosso primeiro diálogo amistoso. Fico feliz por isso. – o assassino ria friamente. – Pegue o gravador Max e ligue!

- Diga a charada! – Max havia ficado zangado. – Estou gravando!

- Qual é o nome dele? Um dos quatro da terra o inicia enquanto um mudo separa 19 de 20 os convidando para dançar ao lado desta cadeira minúscula, até que o erro perca suas vogais e se torne uma só consoante findando sua busca. Vocês tem uma hora Max!

- Quantas letras? – Nadia perguntou.

- Fase três, as regras mudaram!! Preparem-se. Fim de ligação!

- Você sabe essa? – Max perguntou para Nádia.

- Ainda não faço a mínima idéia, e você?



Continua...
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 15/07/2013
Reeditado em 15/07/2013
Código do texto: T4387771
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