A bruxa sortista
Aquela sortista ou vidente, não saberiam nominá-la, poderia realmente trazer sorte ou azar na vida das pessoas. Tudo dependia da sua crença, dizia a mulher. Mas ela tinha alguma coisa que incomodava. Talvez o seu olhar quando chegaram ou a sua antipatia, ou poderia ser somente o seu jeito carrancudo de ser.
O fato é que foi divertido escutar que eles teriam uma vida nova pela frente, repleta de sucesso e realizações improváveis, na certeza que tudo era mentira. Para as notícias ruins era sempre uma morte que estava próxima ou um casamento arruinado. Nada que lhes valesse importância.
Quando saíram da saleta, viram a chuva forte lá fora, repentina, com o vento empurrando violentamente os grandes pingos na porta de madeira.
Aguardaram alguns minutos para que o céu finalizasse o aguaceiro, mas o vento parecia aumentar. Um mal estar súbito apoderou-se do casal que já esperava aflito o tempo passar. Quando deram uma olhadela na “bruxa”, um meio sorriso desdenhoso apontou em seu rosto, como se quisesse dizer que a desgraça estava constantemente os olhando, apesar de ela ter-lhes afirmado o contrário na sua consulta profética.
O casal saiu de lá entristecido, pensando somente na lama que grudava nos seus sapatos, com uma enorme angústia depressiva nas costas curvadas.