A Casa do Cemitério

**Nota: Olá pessoal! Este conto é resultado de uma parceria entre o Felipe e eu. Antes de mais nada, gostaria de agradecer ao Felipe por ter aceitado o convite e ter contribuído com seu talento para essa obra. Bom, nós gostamos muito do resultado. O texto ficou bem grande, de forma que estou divindindo as postagens em duas. Espero que gostem, e apreciem a leitura!!

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A CASA DO CEMITÉRIO

Bonilha & T.S

1

A casa era linda. Ampla, tinha dois andares e uma piscina.

Mas a sala era a atração principal. O chão descia um degrau no que se formava um quadrado no chão. Dentro desse quadrado estava uma estante aparelhada com um televisor conectado a um potente sistema de som, e dois sofás. O piso de porcelanato branco era coberto por um enorme carpete negro e fora deste quadrado estava o resto da gigantesca sala.

Gustavo adorou. No fundo da casa, uma escada de mármore dava acesso a outras duas menores, que conectavam o piso inferior aos cômodos do andar de cima. Além da sala, três suítes, um closet, uma biblioteca e uma cozinha completavam a oferta anunciada no jornal.

Nos fundos, um quintal com um jardim morto e uma fonte seca e rachada. Bancos com madeiras em estado de apodrecimento completavam o visual.

A casa era antiga, mas de muito boa qualidade.

O velho acomodado em sua cadeira de rodas observava Gustavo com certo ar de ansiedade. Os dedos batucando na mesa de seu escritório na biblioteca demonstravam impaciência e por fim ele respondeu.

-Tem certeza de que é só isso pela casa?

João, com seus 72 anos não estava disposto a correr mais riscos por aquele lugar. Desde que sofrera o acidente há duas semanas ele resolvera anunciar a casa no jornal. Sua esposa morava com suas irmãs e o único filho trabalhava na cidade vizinha.

-O Sr. entendeu bem o que eu disse? Sofri um grave acidente aqui e creio que não sejam frutos de minha imaginação. O padre Arthur confirmou que o que eu vejo aqui não é coisa da minha cabeça. É real, portanto estou deixando isso claro para qualquer um que vier aqui querendo comprar a casa.

Gustavo quis rir, mas não o fez. Ao invés disso contemplou o velho com pouco mais de 20 anos que os dele e estendeu a mão.

-Tenho certeza de que não acontecerá nada comigo.

O padre olhou para ele com certo ar de preocupação e proferiu a frase que João estava por dizer:

-Tem certeza?

-Absoluta. Já vivi algumas coisas desagradáveis na minha vida. Minha mãe morreu atropelada por um caminhão, meu pai foi assassinado, eu fui assaltado...

Ele quis completar seu raciocínio, mas achou melhor parar por aí. Para Gustavo o verdadeiro terror estava nas coisas reais da vida. Coisas que causam dor, ferem os sentimentos, ferem a bala...

-Ótimo, negócio fechado então.

João apertou com firmeza a mão de Gustavo e em seguida este assinou a papelada da compra.

Gustavo, João e o padre Arthur tomaram um café e circularam um pouco pela propriedade.

-É realmente uma casa e tanto seu João.

-É sim, receio que sentirei saudades dela.

-Claro...

O olhar de Gustavo se perdeu por um instante do outro lado da rua. Um cortejo fúnebre seguia cemitério adentro. Algumas pessoas dirigiam o olhar para a casa enquanto outras choravam o infortúnio do falecido.

-Nosso tempo nessa terra é curto, não é mesmo? – indagou o padre.

Os três senhores estavam agora diante do portão da casa. O céu enegrecido testemunhava a chuva que estava por vir. Um temporal certamente prejudicaria sua partida, portanto ele apressou-se em sair dali. Dentro de uma semana Gustavo se mudaria e não teria mais de preocupar-se com isso. Atento a pergunta do velho padre ele respondeu:

-Uns vivem mais, outros vivem menos... Infelizmente a vida não é eterna.

-Não diria isso se fosse você. Há muito mais para se viver fora deste mundo...

As gotas pesadas do temporal interromperam o assunto de ambos e Gustavo apressou-se em correr para seu carro. Não antes, porém de despedir-se de João e Arthur. Este entregou-lhe um papel amassado ao estender a mão.

-Ligue-me se precisar.

Gustavo guardou o bilhete em seu bolso e correu até seu Passat 2008. A casa custara uma pechincha. R$320.000,00 era um preço deveras salgado, mas não para um bem sucedido empresário como ele.

Ao chegar em casa, preparou um banho e dormiu congratulando-se pela conquista. Dentro de uma semana entregaria à esposa, seu grande presente em comemoração ao aniversário de dez anos de casado.

2

- Eu amei a casa, é o melhor presente do mundo! Falou Juliana beijando o marido. A mulher não acreditava que tudo aquilo era verdade.

- Vai demorar um tempo para arrumar, mas logo isso aqui vai estar do jeito que a gente sempre sonhou. Completou Gustavo.

- Sim amor, nova casa, uma nova vida, ainda melhor que tudo que já passamos juntos.

Gustavo sorriu ao ouvir as palavras da esposa, ao comtemplar aquele maravilhoso sorriso. Os dois beijaram-se e continuaram o tour pela nova casa. Depois do tour, veio a limpeza, a organização, para depois de alguns dias agitados, entrar finalmente em uma nova rotina.

3

- Você tem certeza amor? Perguntou Gustavo ainda com sono.

- Sim, tem alguém aqui, eu ouvi passos lá embaixo, alguns barulhos nas paredes. Falou Juliana.

Aquela era a primeira vez que algo do tipo acontecia. Desde que se mudaram para a nova casa, tudo era tranquilo e a estória sobre algum mal sobrenatural pairar sobre a casa, havia caído em esquecimento na mente de Gustavo.

- Tudo bem, fica aqui, eu vou ver. Falou o homem levantando da cama e vestindo seus chinelos.

- Volta logo e deixa a luz do quarto acesa. Disse Juliana.

Gustavo acendeu a luz do quarto e seguiu em direção as escadas que levavam até o primeiro andar.

Atento, o homem procurou por algo, mas era obvio que não encontraria nada. A casa era segura, estava bem trancada. O novo sistema de alarme que instalara na semana seguinte que fizera a mudança era de última tecnologia.

Quando chegou na sala ouviu sons do que pareciam passos. Olhou a sua volta e a primeiro objeto que encontrou lhe serviu de arma. Com um vaso de porcelana na mão percorreu a casa ainda nas escuras. Busca em vão pois todos os cômodos estavam vazios. Mas o som que agora ele entedia que não vinha só chão, mas também das paredes, insistia em lhe corroer a paciência e tranquilidade.

Antes de voltar para o quarto, caminhou até uma das janelas que dava para rua, puxou a cortina e comtemplou o quintal da entrada. Se assustou ao ver do outro lado da rua, através das grades do portão, um grupo de pessoas paradas em frente ao cemitério. Eram aproximadamente seis. Pareciam um conjunto de estátuas.

- Que porra é essa. Sussurrou o homem tentando ver melhor o que acontecia. Foi nesse momento que um dos sujeitos, um que usava um estranho chapéu, lhe encarou e depois, acenou. Acenou como em resposta a toda à observação de Gustavo. Acenou sorrindo, ou melhor, gargalhando.

Assustado o homem se escondeu. Respirou fundo e tentou colocar a cabeça no lugar. Decidido se preparou para sondar novamente e ao fazer isso, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Dessa vez não era só seu quintal que estava vazio, mas a frente do cemitério também. Não havia mais ninguém lá, apenas o portão que dava acesso ao mundo dos mortos.

Subiu as escadas com pressa e disse para esposa que tudo estava bem.

- Acho que são ratos, o corretor me disse que não teria esse problema, mas você sabe como é amor, ratos aparecem do nada.

Abraçou Juliana e pegou no sono. Era melhor não pensar mais a respeito daquilo tudo. Mal sabia o homem, que os estranhos acontecimentos estavam só começando e que sua mulher notara como ele havia voltado pálido de seu ronda em busca do estranho barulho.

4

Se Gustavo soubesse de pelo menos vinte por cento das coisas que aconteciam durante a noite naquela que parecia ser a casa dos sonhos, com certeza não teria a comprado. Com o passar dos dias a sensação de estar sendo vigiado, os calafrios e os passos pela casa durante a noite só aumentaram. Juliana também notara, mas tentava com todas as suas forças esconder esses pensamentos do marido. Ambos não queriam aceitar a ideia de que aquela casa não era normal, ambos não queriam estragar aquele belo sonho. As pessoas tem medo de aceitar a realidade, pois o real está mais para o pesadelo do que para um sonho bom.

- São ratos, malditos ratos. Falou Gustavo no meio da madrugada.

O casal deitado na cama encarava o teto, já faziam duas noites que não conseguiam dormir. As coisas estavam ficando fora do controle quando a noite chegava e eles tinham medo de que algo ruim pudesse acontecer, algo que os machucasse.

- Cada vez que eu lembro das palavras daquele policial, eu fico com mais medo. As palavras eram as primeiras demonstrações de temor real vindo de Juliana. Aquilo serviu como uma gota d’agua para tudo o que vinha acontecendo.

Gustavo lembrou do acontecimento da noite anterior. Onde ele e Juliana tiveram a certeza de ouvir uma conversa no andar de baixo, logo após irem deitar. Assustados, achando que poderiam ser ladrões, chamaram a polícia, que em vez de os tranquilizar, acabou fazendo com que a vontade de permanecer na nova casa só diminuísse.

Policial Antunes, era o militar que atendeu ao chamado. Chegou e bateu palmas, gritou pelo nome de Gustavo, que se arriscou e cruzou a sala às pressas ao encontro da polícia.

- Tem alguém aqui na casa! Nós estamos sendo assaltados! Falou para o PM.

- Fique calmo, eles não vão roubar nada.

- Eles? Como assim?

- Vamos lá, chame sua esposa, eu preciso conversar com vocês.

Gustavo buscou a esposa e então conversaram com o policial.

- Gustavo e Juliana, certo?

- Sim, mas como...

- O padre me falou seus nomes, explicou a situação. Vocês compraram mesmo a casa?

A conversa parecia ser toda fragmentada.

- Compramos, já faz um mês.

- Então se não quiserem se desfazer da mesma, lhe darei um conselho... Vocês precisam aprender a conviver com eles, de alguma forma essa casa também é deles.

- Deles? Eles? De quem o senhor está falando?

- Dos mortos minha senhora. Os mortos habitam a casa, assim como habitam o cemitério. Sejam pacíficos, mas também não os ignorem, vocês não vão querer nenhum deles com raiva de vocês. Seu João viveu por muito tempo em parceria com eles, mas o velho nunca acreditou que tudo era realmente verdade, e assim, acabou virando amigo demais desses espíritos. Esse foi seu erro, com certeza foi.

Muitas vezes o policial parecia conversar com si mesmo.

- Ele me disse que saiu daqui por sofreu um grave acidente. Comentou Gustavo ainda incrédulo.

- Sim, tudo por que da noite para o dia ele passou a ignorá-los, esqueceu que eles também moravam na casa e o relacionamento entre os mesmos se tornou destrutivo. Os mortos já estão mortos, então quem corre risco são os vivos. Foi por isso que João se acidentou, mas graças a Deus ele está longe daqui.

- Mas nós estamos aqui agora! Falou Juliana nervosa. Ao contrário de seu esposo, engolira toda a história. Aceitara como verdade todo aquele relato surreal.

- Eu sei, por isso peço que tomem cuidado, pois não há nada que posso ser feito a respeito. Estarei disposto para conversar sempre que possível, só não entro para falar mais de tudo que sei por que esses ai não gostam muito de mim. De qualquer modo, boa noite e fiquem com Deus.

O casal voltou para dentro da casa, não dormiram.

- O pessoal que vive por aqui é um bando de doidos, a casa seria perfeita se não fosse por esses ratos... Só podem ser ratos, só pode. Falou novamente Gustavo, dessa vez apertando a mão da esposa. Fechou os olhos e tentou dormir, por alguns minutos ficou ouvindo sua respiração e a de Juliana. Em sua cabeça o lembrava daquela que poderia ser sua única prova sobre o sobrenatural, os homens em frente ao cemitério, o sujeito de terno e chapéu que lhe acenou.

Mas e se fossem apenas um grupo de vândalos? Ou trabalhadores noturnos? Era possível, tudo era possível.

Perdeu-se em devaneios, dormiu. Nem percebeu o abraço da esposa, que aos poucos pegou no sono também.

Não sonharam naquela noite, os pesadelos agora só aconteciam enquanto acordados.

5

Quando dia raiou, Gustavo disse que iria para o centro. “Preciso comprar veneno para os ratos”, foram suas palavras. Juliana não o contradisse, mas não gostava do modo que o marido falava. Era notável que ele sabia que não eram ratos.

Muitas vezes parece que vale mais a pena forçar uma mentira, para que assim a vida siga como queremos. O que o casal ainda não entendia, é que certas coisas não podem ser ignoradas.

Naquela tarde, enquanto Gustavo dirigia até o centro em busca daquele que seria o remédio para as noites mal dormidas, para o medo e todo aquele clima de infelicidade, sua esposa Juliana recebeu uma visita.

6

Ela preparava o almoço ouvindo uma música para tentar distrair-se. Os acontecimentos recentes a importunavam de tal forma que estava ficando difícil manter o juízo até mesmo durante o dia, quando tudo aparentava certa normalidade.

Ainda assim, as palavras do policial traziam um misto de apreensão e conforto, coisa que ela ainda não sabia distinguir. Sabia que Gustavo empenhara boa parte de suas economias naquela casa, e sair dali não era opção.

Não pelo menos enquanto ele tivesse cabeça pra aguentar aquilo. Porém a dúvida era: Até aonde ele aguentaria? Juliana conhecia seu marido. Sabia que ele era insistente, e que se algo não o convencesse, faria o impossível para provar que estava certo.

Enquanto a carne de porco dourava sob o forno quente, Juliana checava a consistência da massa do doce que fizera. Estava no ponto. Agora era só colocar no congelador, e quando o marido voltasse ambos teriam uma farta refeição.

Com certeza, isso a ajudaria a esquecer da perturbação que rondava a casa.

Após colocar o doce na geladeira, a campainha soou, quebrando a harmonia que reinava durante a manhã.

Juliana correu até a porta. A sua frente, mais um cortejo fúnebre seguia rua adentro do cemitério. Aquela visão que nos primeiros dias a incomodava, tornou-se normal e casual. Juliana sentia certo remorso por conviver tão perto da morte, e a ideia de que ela estava agora dentro daquela casa lhe dava arrepios.

-Senhora – uma voz engasgada soou pouco abaixo dela, fazendo com que ela inclinasse o pescoço para ver -, posso entrar?

Abaixo de Juliana, um velho senhor em uma cadeira de rodas estendia cordialmente a mão.

-Sou João, antigo dono desta casa. Gostaria de falar com seu marido.

O velho carregava uma expressão cansada, o que o deixava com a aparência ainda mais velha, e suas mãos pareciam duras, mas não entrevadas, o que lhe permitia controlar a cadeira de rodas. O cabelo em sua cabeça estava ralo, os olhos fundos dentro de sua cara magra pareciam estar prestes a ser sugados a qualquer momento e sua boca estava seca. Se ela não soubesse a idade de João, facilmente lhe daria uns 90 anos.

-Oh, sim, por favor, entre. Meu marido foi até a cidade buscar alguma coisa, e estou preparando o almoço. Importa-se de esperar?

O velho fez que não com a cabeça. Parecia estar disposto a não falar, ou pelo menos era de poucas palavras. Naquelas condições, Juliana se surpreendera de como uma pessoa como ele chegou até ali.

-Quer ajuda com a cadeira? – perguntou meio desajeitada.

-Seria muito bom querida. Eu agradeço.

7

O padre Arthur seguia solene junto à família de João. Seus filhos e a ex-esposa caminhavam cabisbaixos ao lado do caixão, cemitério adentro. Teve tempo de ver Juliana abrindo a porta de casa, e aparentemente conversando com alguém. Ele acenou para ela discretamente, porém ela pareceu não ter notado.

João, que há pouco tempo saíra daquela casa, agora teria por morada eterna justamente o cemitério a sua frente. “Que assim seja” – pensava o padre que em seu íntimo temia que o pior acontecesse. “Vou enterra-lo, e em seguida verei como Gustavo e a esposa estão. Acho que é o certo a fazer depois de uma tristeza dessas...”.

A cerimônia durou pouco tempo. A chuva começou a cair pesada, e os poucos que compareceram ao funeral foram embora apressados.

Logo, o cemitério esvaziou-se e com esse vazio, uma estranha sensação de que havia algo errado invadiu a mente de Arthur.

Na casa de Gustavo, uma fumaça enegrecida saía pela janela da cozinha.

Ignorando a chuva que tinha se convertido em tempestade, Arthur correu em direção a casa.

Gustavo e Juliana, assim como o próprio João, ignoraram os mortos.

8

-Aceita uma bebida? – Juliana perguntou a João.

-Seu marido vai demorar? Não sei por quanto tempo posso ficar aqui. – João parecia inquieto. Parecia que algo o incomodava extremamente.

Juliana insistia em ser cortês. O tempo lá fora estava fechado, e logo uma chuva forte viria. Seria um inconveniente: Gustavo ficaria preso na chuva, e João ficaria preso na casa com ela. Tirou o celular do bolso, e antes de ir até a cozinha repetiu:

- Se é pela chuva não precisa se preocupar. Tem certeza de que não quer nada?

O velho nada respondeu.

-Vou ligar para meu marido – disse ela um pouco irritada pelo silêncio.

João continuou ali, calado. Era preciso Gustavo chegar. Só assim ele acreditaria no que tanto se recusava.

9

O limpador movia-se rápido numa tentativa inútil de liberar a visão de Gustavo. O veneno estava ali, e, além disso, ele resolvera comprar uma garrafa de vinho. Iria matar os malditos ratos, se embebedar com a mulher, fazer amor e dormir sob o efeito do álcool, a fim de esquecer todo terror que vinha experimentando nos últimos dias.

Dirigia devagar, praguejando mentalmente a má sorte, e pensando nas palavras do policial: “Os mortos habitam a casa...”.

-Que pensamento ridículo de se ter – disse consigo mesmo -. Uma pessoa dessas certamente merece cuidados especiais.

Ainda entregue a seus pensamentos, Gustavo fez uma curva e se deparou com uma árvore caída, bloqueando sua passagem. Parou o carro incrédulo. Estava a dez minutos de casa, e naquela chuva de merda, certamente levaria o dobro para chegar de carro, e quem sabe quantas horas para ir a pé. Indignado, puxou o freio de mão, baixou a cabeça e suspirou em desalento. O que faltava acontecer agora?

A árvore não era grande. Certamente poderia ser removida sem muito esforço, mas Gustavo voltaria encharcado para o carro. Esperar não adiantaria. Havia muitos casos semelhantes acontecendo, e a ajuda levaria horas para chegar até ali. Decidido, abriu a porta do carro quando seu celular tocou.

-Amor – a voz do outro lado soava estranha. Uma interferência muito forte fazia com que a ligação chegasse cortada em seus ouvidos -. João, es... fa.. com v...

-O quê? Não estou entendendo Ju... A ligação está cortada.

Um som alto de estática eclodiu do aparelho, fazendo os ouvidos de Gustavo doer. Ele afastou o celular e compreendeu:

-Jo... está aqui. João... falar com você!

Gustavo gelou.

Encontrara o padre Arthur em frente ao cemitério, e este tinha dito que dentro de uma ou duas horas o corpo de João chegaria para o funeral. Arthur se adiantara, pois queria ter certeza de que a cova estaria aberta para quando o corpo chegasse. Com a chuva que se aproximava, ele não queria correr o risco de ver os coveiros jogando lama sobre o caixão, e nem mesmo a cova cheia de água, por isso as coisas seriam adiantadas.

A causa da morte? Ninguém sabia. Morreu enquanto estava dormindo...

Após esse breve momento de lembrança, Gustavo berrou:

- Juliana! Saia daí agora! Procure o padre Arthur, já estou a caminho! Saia daí agora!

O som de um clique estalou no celular. A chamada caíra. Em desespero, Gustavo saiu do carro e dirigiu-se para a árvore.

Não eram ratos que estavam em sua casa.

CONTINUA NA PARTE 2. JÁ POSTADA EM MINHA PÁGINA.

Bonilha e Felipe T.S
Enviado por Bonilha em 03/07/2013
Reeditado em 03/07/2013
Código do texto: T4370158
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