O grito desesperado da mulher, o fez entrar apressado no quarto do filho. ”Que diabos?” Ele começou a dizer, mas interrompeu a imprecação ao reparar na criança. Um lado do rostinho estava bastante ferido, e metade do cabelo arrancado, espalhado pela cama. O garoto estava vivo, mas em estado catatônico. Seus olhos azuis fitando o nada. O homem foi o primeiro a reagir. Pegou o menino no colo e correu em direção ao carro. Atarantada a esposa o seguiu com lágrimas escorrendo pelo rosto. O doutor limpou e examinou a criança. Os ferimentos pareciam ter sido causados por mordidas profundas. O que mais o impressionou, foi aquela imobilidade. Qualquer um estaria gritando de dor, depois de ter tido quase toda a carne da face mastigada. O garotinho continuava inerte. Como se não fosse com ele. O médico não soube precisar que tipo de ataque à criança sofrera, e depois de medicá-lo, a entregou aos pais. Pediu com tudo que o levasse no dia seguinte para a trocar as ataduras. Durante o restante do dia, e a noite, o menino dormiu profundamente. Nem um gemido foi ouvido. Pela manhã o conduziram novamente ao hospital. O doutor primeiro se espantou com o olhar que o observava atentamente. Em seguida sufocou um grito ao notar que o rosto do garoto estava totalmente curado. Não havia nem sombra dos terríveis ferimentos. Os pais fitaram sem entender o médico, e ficaram ainda mais boquiabertos ao perceberem que cabelos haviam nascido nos lugares onde foram arrancados. Sem nada mais a fazerem ali pegaram a criança e voltaram para o sitio. Os dias se sucederam. O garoto voltou a andar, mas não falava, e passou a rejeitar os alimentos oferecidos. Passava quase todo o tempo sumido pela propriedade. Os pais começaram a se preocupar. Era muito estranho uma criança de oito anos não se alimentar, e estar cada dia mais robusto. E não era só isso. O garoto olhava os pais de uma forma esquisita, com raiva. Sem nenhum afeto. A mãe em algumas ocasiões tentou uma aproximação, mas foi ignorada. A água e a comida que ela deixava no alpendre, continuavam intocadas. O menino não se banhava, não entrava na casa, e começou a dormir ao relento. Esticava debaixo de alguma árvore e por ali passava a noite. De comum acordo, seus pais tentaram coloca-lo no carro para ser examinado pelo médico, mas furiosamente, o garoto ameaçou ataca-los. O doutor veio então para vê-lo. Ao avistá-lo o menino começou a balbuciar algo incoerente, e a babar. Com cautela o profissional foi se aproximando falando carinhosamente no intuito de acalmá-lo. As palavras parecem ter surtido efeito, pois o garoto ficou imóvel. Confiante o médico se aproximou ainda mais. De repente um urro foi ouvido, e o garoto avançou enfiando com força os dentes no pescoço do doutor. Esse ainda tentou se libertar, mas o menino tinha uma força diabólica. Minutos depois, a criança encarou os pais com ódio. A boca ainda cheia de sangue. Apavorados os dois correram e se trancaram dentro de casa. (Fim da primeira parte)