Noite Macabra
Esta história é verdadeira! Como sei? Aconteceu comigo. Não vi os mais velhos contarem, não ocorreu com nenhum amigo, não é uma lenda urbana ( ou rural), e não li em lugar algum...Senti pessoalmente as emoções descritas!
A alguns anos, fui morar com meus pais por algum temo, em uma fazenda em Joaquim Egídio, em Campinas, interior de São Paulo.
Nessa época, possuía uma Cherokee ano 98. Era verde clara, com grandes rodas para trilha e potentes faróis.
Na maioria das vezes, como trabalhava durante o dia e estudava á noite, eu voltava para casa muito tarde, por volta das onze e meia ou meia noite.
Sempre gostei de histórias de suspense, então durante a curta viagem noturna, colocava um Metallica no som e dava asas á imaginação. Imaginava histórias de suspense, mortes, e terror. Histórias que poderiam acontecer com outras pessoas, mas principalmente...comigo. Já havia visto vários " trabalhos" nas poucas encruzilhadas que a curta estrada de terra ( cerca de 5 kilômetros) possuia.
Num desses trabalhos, a anos atrás, tinha visto uma coisa diferente ( presumindo que os trabalhos "normais" eram compostos de velas pretas e vermelhas, dinheiro, bebidas e algumas galinhas pretas, abstraídas de suas vidas). Parei para ver e fiquei estarrecido; era uma grande cabeça de macaco, dentro de um prato cheio de sangue. quilo me marcou.
Nessa estrada, pouco antes da fazenda de meus pais, havia o sítio do pai de um amigo, que deixava as vacas soltas á noite, para poderem aproveitar o capim da beira da estrada. Eram 15 ou vinte, e eu sempre reduzia a velocidade neste trecho, porque fatalmente havia uma ou duas ( ás vezes mais) deitadas no meio da estrada, e as outras atravessavam na frente de quem viesse.
Com tempo de sobra e idéias obscuras na cabeça, inventei uma brincadeira, a qual chamei de "Noite Macabra".
Na semana de lua cheia, com o tempo limpo e com o céu cheio de estrelas, a visibilidade na estrada de terra era muito boa; dava para dirigir sem utilizar os faróis. Como a estrada ficava em uma pequena serra, num trecho de descida, eu desligava os faróis e colocava a camionete em ponto morto, descendo sorrateiramente, em silêncio, os olhos atentos, com um sorriso macabro no rosto...
Quando chegava perto das vacas deitadas, acelerava repentinamente a camionete, acendia os faróis e apertava a busina. As coitadas das vacas ficavam loucas... Umas corriam, outras tentavam se levantar rapidamente, outras simplesmente rolavam no chão, desesperadas... E eu seguia para casa, com dores de barriga de tanto rir.
Certo dia, porém, senti na pele o desespero dessas criaturas malhadas. Era por volta de meia noite, e caía uma chuva fina, depois de um temporal de fim de tarde. O céu carregado e sem estrelas escurecia a tenebrosa estradinha, e minha imaginação vagava por cemitérios.
Quando fiz uma curva acentuada na estrada ( próximo do fatídico local da Noite Macabra), me deparei com uma coisa branca, enorme, flutuando a mais ou menos três metros, bem no meio da estrada. Minha espinha gelou, uma sensação ruim se apoderou de mim. As pernas amoleceram, e senti uma ânsia subindo pela goela acima, causada pela adrenalina.
Joguei a camionete para a esquerda, passando entre um alto barranco e a "alma penada", o "fantasma", ou o que quer que fosse, aterrorizado, com os olhos fechados e a alma condenada, e acelerei o mais que pude. O coração quase arrebentava dentro do peito, e nem sequer as vacas estavam lá! Com certeza era coisa do diabo!
Muitos metros depois, meu instinto masculino (você é homem ou não é, p***!), desafiado pela curiosidade mórbida, me obrigou a fazer o impensável. Parei na beira da estrada, na encruzilhada do macaco morto, fiz o retorno e voltei bem devagarzinho. Afinal de contas, nunca vira um fantasma, e não ia perder a chance por nada!
Quando cheguei perto da coisa, a surpresa: A chuva havia derrubado um poste, e um cabo telefônico estava pendurado uns 4 metros acima da estrada. O pai de meu amigo, temendo que alguém batesse contra o fio, pendurou um lençol branco no meio dele, para alertar os motoristas. Meu farol alto e a imaginação fértil fizeram o resto do serviço: um legítimo fantasma brilhante.
Uma semana depois, quando fui comprar queijo na sítio do amigo, contei toda a história a ela e ao pai, no estábulo. Tenho certeza de que até as vacas deram risada...