O DEMÔNIO DA CASA

O DEMÔNIO DA CASA

Paulo Sergio Larios

Sammael estava de volta aquela localidade, após um longo período afastado, e agora sentia um prazer enorme em andando por ali, notar que algumas coisas estavam exatamente como ele deixou e outras foram pioradas pelos seus companheiros.

Sammael era um demônio antigo, dos primórdios, Ele conseguira galgar um grau maior, obtendo, com muita maldade, o cargo principesco de Potestade. Sammael estava agora envolvido com coisa grande, onde milhões de vidas eram decididas num debate com outros demônios. Mas, ainda assim ele tinha um prazer enorme de andar por ali, naquele lugar, de todos os lugares do mundo. Ele gostava, verdadeiramente daquelas pessoas e daquele lugar. Andando despreocupado pela rua, enquanto assobiava uma antiga canção pop, ele sorveu com carinho e gosto o ar daquele lugar. Aquele lugar, para ele era perfeito. Uma mistura da cor das casas, da maneira de ser e de falar das pessoas, dos tipos de pecados que aquelas pessoas admiravam mais e praticavam, seja, talvez porque ali ele lembrava de um tempo mais simples, lá atrás, onde os anjos conheceram as mulheres e se encantaram com elas.

Algumas coisas ele gostava mais do que outras e Sammael gostava das roupas americanas da década de cincoenta. Vinha ele vestido, enquanto assobiava, com um terno antigo, listrado e camisa branca, de linho puro, o sapato bem engraxado no pé, bico fino, a moda da época, tudo ornava-se com uma gravata vermelha, chique.

Ele já estava no seu afazer durante umas duas horas e não se cansava, porque era tão gostoso ali, o Sol havia se posto a pouco e a noite chegava morna. Sammael entrou em direção a mais uma casa, de porta de madeira trabalhada, que atravessou já vendo a sala de jantar sua conhecida. Fora a TV nova e alguns poucos móveis menos memoráveis, o sofá era o mesmo, surrado e feio. Ele adorava aquele sofá, cheirava a pecado, até o tutano. Muita coisa tinha acontecido naquele sofá.

Andando pela casa, subiu as escadas atrás do dono, um senhor de uns sessenta e poucos, que estava se barbeando. Sammael sorriu quando o viu, como se cumprimentasse o velho amigo. Estendendo a mão, tocou na testa do homem, que sem ver nada, sentiu um desejo muito forte de fumar e matar. O velhinho, para avizinhança tão querido e bonzinho, tinha dois corpos enterrados no quintal, que ele mesmo matara, sob as vistas do demônio. Duas filha, que ele amara muito e agora estavam com ele, para sempre, no seu quintal, debaixo da terra.

Saindo pela janela, onde saiu flutuando, Sammael entrou numa casa em frente, onde uma mulher de uns trinta anos, ou pouco menos estava passando roupa. Sammael adorava essa mulher. Ele parou e escutou a mente dela, por um pouco - ele tinha esse poder, não eram todos que tinham, mas ele tinha – e sem que ele fizesse nada a mulher estava mais uma vez tendo seus devaneios sexuais e pervertidos, onde ela pensava absurdos que ninguém no mundo imaginaria que ele tivesse. Sammael a vinha enlouquecendo desde que ela tinha seis anos de idade e conseguira uma proeza, a deixar louca, sem que ninguém mais soubesse. Dentro da mente pervertida e louca daquela mulher havia um mundo sombrio, causado pelo demônio antigo. Ele na verdade não precisava fazer mais nada com ela, mas não resistiu e começou a susurrar no ouvido dela palavras de pecado que fez com que a mulher ficasse num estado eufórico de pecado sexual. Ele adorava, simplesmente aquela moça, que já dormira com homens casados e solteiros, com meninos e meninas. Ela era uma das suas preferidas no bairro inteiro.

Dali foi pra rua, descendo as escadas normalmente. O marido estava na sala, oprimido, com as duas filhas, uma já adolescente, que ele tentava, colocando na sua mente perversidades para com sua filha. Nada tinha acontecido ainda, o pai realmente amava a filha, mas não dormir com a mãe estava apressando um passo que Sammael não tinha pressa nenhuma. Ele, num dia, a alguns anos atrás, vira como o pai olhara para as pernas da filha, com desejo no olhar e na carne. Ele ficara surpreso, pois aquilo não partira dele, do demônio, mas era algo natural do pai. Sammael brincava com aquele pai, até que um dia iria dar um bote mais certeiro.

E assim foi boa parte daquela noite prazeroza, onde ele visitou o mendigo que louco andava pelas ruas, arrastando um saco nas costas, enquanto falava sozinho, vendo vultos e o Inferno.

Ah, lá vinha uma moça linda, que ele estivera no seu nascimento e visitara a casa dos seus pais, para descobrir quem eram e como eram e gostara da filha e andava com ela, desde que a mocinha começara a andar. Já faziam alguns anos que ele não a via, outros contratos tiveram que ser feitos e ele se fora, para se tornar um Príncipe. Mas lá vinha ela, com seus estudos, sua faculdade, seu jeitinho meigo de boa moça, mas ele vinha tratando com ela, para que um dia ela se tornasse uma assassina cruel, pois esse era o instinto dela. Essa mocinha estudiosa e boa filha, era muito conhecida em algumas camas. Todos a imaginavam virgem e o demônio fazia com que pensassem isso. Faze-los imagina-la virgem facilitava a sua licenciosidade.

Próximo a eles passou um rapaz desconhecido, que desconfiava que a sua mulher o estava traindo, Sammael soprou sobre ele um pó preto e o camarada agora estava decidido a matar a esposa assim que chegasse em casa. Nessa noite algumas lágrimas dolorosas iriam serem derramadas.

Entretanto, já chegando no final da rua, ele sentiu como que um choque percorrer todo o seu corpo. Algo diferente acontecia no seu bairro, que nunca houve antes. Preoupado Sammael foi pelo instinto até uma casa humilde, onde já haviam alguns demônios a cercando. As outras casas tinham um demônio, dois, mas essa tinha uns trinta, ou mais. Alguns demônios reconhecendo nele uma Potestade, um Príncipe demoníaco, o saudaram com a saudação familiar do Exército das Trevas. Sammael foi até a janela e olhou pelo vidro para dentro, la estavam um homem e sua esposa e um casal de crianças, o menino sendo mais novo uns dois anos do que a menina. Ele dirigiu-se até a porta e tentou atravessa-la, mas quando assim fez foi jogado para trás quase uns vinte metros. Alguma coisa o acertara. O demônio velho levantou-se com o corpo dolorido da pancada. Erguendo as mãos furioso invocou um furacão, mas uma brisa contrária impediu que o furacão se formasse. Estendendo as suas duas mãos para frente Sammael jogava câncer naquela família, mas nada acontecia, o seu poder estava minado. O seu poder maligno ao se aproximar da casa era minimizado, não chegando quase nada. De novo ele foi até a janela e percebeu que o pai e a menina o estavam enxergando. Mais rápido do que a surpresa dele, o pai e a filha juntos, o repreenderam em Nome de Jesus e um soco muito forte o atingiu no rosto, jogando-o contra a parede mais próxima, que rachou. Os outros demônios estavam também todos estropiados, notou a Potestade. Só havia uma resposta pra isso, aquela família era cristã. Malditos crentes - pensou o demônio que não podia influenciá-los e nem atingi-los de maneira alguma. Sammael foi então para o meio da rua e convocando os demônios que estavam ali, lhes disse para agirem num ataque concentrado, todos ao mesmo tempo, contra a casa, e a família. Rodenando a casa, de lado e no ar, todos ao mesmo tempo, num gesto planejado, tentaram entrar pelas portas, pelas janelas ou por alguma fresta da casa, mas ao se aproximarem uma luz branca, muito forte os cegou, e não podendo mais retornar eles bateram contra um muro de poder branco. Alguns bateram a cabeça, ou a perna, outros estavam no chão desmaiados. Sammael achava que tinha quebrado o braço. Dando um urro feroz, ele sabia que não poderia com aquela família de crentes. Ele ainda ficara dois dias acampado, juntamente com os outros, tentando achar uma brecha, mas não encontrava. É lógico que todos eles tinham pecados e que eram feios e horríveis, mas eles se esforçavam em Deus para não praticarem. Quando os demônios jogavam setas de pecado ou de doença, ou dor, eles sentiam o ataque e oravam a Deus que mostrou que aquela casa estava cercada por uma quantidade exata dobrada de anjos. Para cada demônio havia dois anjos para combate-lo. Sammael era a única Potestade ali, e para combate-lo haviam dois Príncipes de Deus, com igual poder e força. A luta era desigual, se os crente iam para a Igreja e oravam a Deus.

Dois dias depois, Sammael teve que ir embora do seu bairro, sabendo que ele nunca mais seria o mesmo, pois crentes sinceros imploravam perdão e misericórdia a Deus. Uma família inteira - Inteira! Não era possível. - na presença do Senhor, era algo que azedou definitivamente a sua estadia naquele bairro tão oprimido por ele e por outros anjos maus a tanto tempo. O Evangelho chegaria a outros, ele sabia. Os dias de trevas e dor, estavam contados ali. Foi com o coração triste, que Sammael despediu-se do seu bairro, sabendo que se um dia voltasse, a luta seria muito grande. Brigar com crente, é perder.

pslarios
Enviado por pslarios em 24/06/2013
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