Amigos do Recanto das Letras.
Esta é a terceira parte do conto Casa do Medo. E eu tive a imensurável alegria de receber a participação mais que especial de um grande amigo e professor que com sua imensa bondade vê em mim um escritor. Alberto Vasconcelos, muito obrigado pela honra recebida de poder escrever contigo.
Vocês também podem ver os contos escritos por Alberto. Cliquem no link abaixo:
Alberto Vasconcelos
Esta é a terceira parte do conto Casa do Medo. E eu tive a imensurável alegria de receber a participação mais que especial de um grande amigo e professor que com sua imensa bondade vê em mim um escritor. Alberto Vasconcelos, muito obrigado pela honra recebida de poder escrever contigo.
Vocês também podem ver os contos escritos por Alberto. Cliquem no link abaixo:
Alberto Vasconcelos
Ao fim do imenso trabalho de limpeza do casarão, Tereza tomou banho disposta a dormir o sono dos justos.
Arrumou as roupas no armário e notou que a sua maleta de maquiagem não viera.
Tinha que voltar em casa buscá-la.
Afinal a maleta de maquiagem é uma das coisas mais importantes na vida da mulher. Como ela poderia ficar sem as suas sombras, delineadores, cremes, batons?...
Uma mulher normal não pode viver sem esses acessórios básicos da subsistência do universo da beleza.
Não, não podia. Mesmo cansada como estava, precisava ir, tinha que ir.
Vestiu calça e blusão de lã, calçou o tênis azul e colocou a fita no cabelo, ainda molhado, para combinar, em ton-sur-ton, com o conjunto. Mirou-se no espelho e aprovou o que viu.
- É. Quem me vê assim, há de pensar, ela vai para a academia! E academia de ginástica é lugar aonde as pessoas vão para suar. Suor borra maquiagem, portanto, estou de acordo com a regra. Essa bolsa pequena, de ir ali, está ótima.
Chegou-se ao quarto de Patrícia. A patroa estava deitada, adormecida, apenas enrolada na toalha com que se enxugara depois do banho, quente e reconfortante, igual ao que ela também tinha tomado. Tereza pensou. Acho que não devo acordá-la. Ela tem dificuldade para conciliar o sono e eu vou lá e volto rapidinho. Onde estaria a chave? Olhou na mesa de cabeceira, no cabide de chapéus, na cozinha, na sala...
- Acho que Patrícia colocou no piano.
Enquanto procurava abrir a pesada tampa do instrumento, Tereza largou o celular, fechou e dirigiu-se à biblioteca. A chave estava na mesinha do centro.
Quando Tereza abriu a porta, quase cai de susto. Um homem negro, alto e magro, estava com a mão levantada na altura de sua cabeça. Com o grito preso na garganta ouviu o homem dizer à guisa de desculpa.
- Eu ia bater. Parece que a campanhinha está com defeito. Eu sou Aylé. Sou o jardineiro de todas as mansões dessa rua e vim oferecer meus serviços. Eu vi a mudança chegando ontem.
- Devia ter vindo antes para ajudar também...
- Desculpe, mas eu estava trabalhando na casa do banqueiro, do outro lado da rua, e ele não admite que o serviço seja interrompido.
- Você fala com um sotaque diferente...
- É que eu sou etíope. A língua de vocês é muito difícil. Meu nome é Aylé, o mesmo do último imperador do meu país. Ele era descendente de Salomão e da rainha de Sabá.
- Olha, daqui a pouco, quando eu voltar, vou falar com Patrícia, porque agora eu estou atrasada para a ginástica. (e noutro tom) como eu faço para pegar uma condução para o centro da cidade?
- Desça duas quadras e dobre à direita. Na Avenida Perimetral, passam todos os ônibus para o centro.
Distraída com o dialogo, Tereza puxou a porta que travou com a chave por dentro.
Era muito fácil chegar ao ponto de ônibus e Tereza só se deu conta de que havia esquecido o celular e que estava sem a chave quando já estava sentada, dentro do ônibus lutando contra o sono, e pensou em ligar para Amilcar, o namorado eventual, quebra galho de todas as horas, para trazê-la de volta.
Tudo aquilo era bastante sinistro. O casarão, o jardim imenso, a rua sempre deserta. Não, decididamente ela não voltaria só. Principalmente agora que se dera conta do esquecimento da chave. A porta teria que ser aberta por Patrícia, se ouvisse as batidas da argola, presa aos dentes do leão de bronze no meio da porta, coisa que ela muito duvidava se a patroa tivesse realmente pegado no sono.
De um orelhão Tereza ligou para Amilcar, e este atendeu surpreso por ler no visor de seu celular um numero estranho. Mas relaxou ao constatar que era sua menina.
Com poucas palavras acertaram tudo e Amilcar iria com Tereza até a mansão. De posse de sua inseparável maleta de maquiagem Tereza ia encontrar-se com Amilcar.
Não demorou muito e o rapaz encosta seu carro onde marcaram, e brinca:
- A moça está sozinha? Quer uma carona?
Com um beijo demorado ela o recebe e responde:
- Seu bobo. – dando-lhe outro beijo um pouco mais quente.
Durante o percurso falaram de muitas coisas e Tereza relatava os detalhes da enorme casa.
Já em frente à grande casa Tereza percebe algo que a deixa aflita:
- O que foi amor? – Amilcar pergunta ao notar o semblante lívido da moça.
- A porta está entreaberta e eu a tranquei sem querer. – consegue dizer num fio de voz.
- Talvez sua patroa esteja acordada, vamos entrar.
- Será? Não é melhor chamar a policia?
- Relaxa gatinha, vamos ver se tem alguém ai dentro, caso notarmos algo estranho ligaremos. Ok?
Entraram e foram em direção às escadas que levavam para os muitos quartos da mansão. Mas ao passarem pela sala onde fica o piano pararam estáticos como se estivessem sido imobilizados pela imagem que viam... Mas logo os olhos do casal contemplaram a escuridão e tudo ficou negro, silenciosamente negro...
De cabeça para baixo amarrado ao estilo pau de arara Amilcar acorda, mas não consegue emitir som algum, pois a mordaça cobre toda sua boca. Com movimentos de cabeça ele tenta descobrir onde está sem sucesso, a pouca luz emitida pela fresta de uma enorme porta não facilita as coisas para ele.
De repente ouve um gemido e teme ser de sua Tereza. Já arrependido por não ter dado ouvidos à sua namorada ele se move freneticamente na tentativa vã de se soltar...
Exausto, ele para por um instante e percebe passos atrás de si. Ao se virar para ver de onde vem o som, recebe um tremendo chute na face que o faz desmaiar novamente.
Os gemidos de Tereza chegaram baixos ao ouvido de Amilcar e foram aumentando conforme sua consciência ia se restaurando. O medo fez com que o rapaz urinasse nas calças e o liquido quente desceu pelas costas dele devido a posição que se encontrava. Uma luz azulada foi criando força e Amilcar pode ver sua namorada em cima de uma mesa onde estavam objetos que lembravam aparatos cirúrgicos sujos de sangue. Ela estava nua e seus olhos estavam fixos no teto negro daquele úmido calabouço e Amilcar notou que não piscavam, somente externavam o terror vivido por ela nos últimos instantes de vida. Tereza estava morta.
No próximo capitulo:
Os personagens da trama começam a mostrar a cara, mas não se iludem, pois a morte ainda fará muitas vitimas...
Aguardem!
Os personagens da trama começam a mostrar a cara, mas não se iludem, pois a morte ainda fará muitas vitimas...
Aguardem!