Nestor nunca foi ligado nessa onda de bodas disso, bodas daquilo para os anos de casamento. Ana, sua esposa que era aficionada por esse tipo de coisa.
 
O mais engraçado é que hoje faria onze anos de casamento e dizem que esse tempo equivale a bodas de aço.
 
O destino foi muito literal...
 
Sentado à beira da cama, com dedos titubeantes a percorrerem o gatilho da arma que ainda fumegava. Sim, o revolver prateado comprado especialmente para esse momento, cumpriu sua missão. Nestor tenta encontrar uma desculpa. Se é que existe desculpa para tal ato.
 
Os lençóis com manchas escarlates, únicos a testemunhar tamanho nível de bestialidade que um ser humano cego de ira consegue chegar. Nestor ultrapassou os limites da sanidade:
 
No bar do Carlão que era parada obrigatória de Nestor para tomar “uma” antes de chegar à sua casa. Bochichos começaram a criar força quando os desocupados que passavam a maior parte do dia no bar que fica a apenas cinco casas da morada de Nestor com sua linda esposa Ana. Enquanto Nestor ia buscar o sustento, Ana recebia um individuo aparentemente mais jovem que o cansado corno. Isso já fazia dois dias seguidos. O rapaz chegava logo após o almoço e só ia embora minutos antes de Nestor chegar.
 
O próprio Carlão contou para o amigo. Noticia que fez o sangue subir tão rápido que Nestor chegou sentir um baque na nuca, seus olhos ficaram vermelhos, injetados de sangue. “Isso não... não pode ser!”
 
A vontade de Nestor era de exterminar todos que estavam ali com olhares que diziam mais que mil palavras. Mas Carlão, seu amigo o aconselhou.

- Calma meu amigo. Faça o flagrante e não perca seus direitos. Mulher tem de monte por ai. Dê apenas um corretivo no galinho e na vaga... Quero dizer, na mulher que te põe um galho...
 
Sim, mulher tem de monte, mas não como Ana. Como ela pode fazer isso comigo? – pensava o marido traído enquanto amargava uma terrível dor, tão profunda que parecia rasgar todos os seus órgãos internos...
 
Nestor fez um enorme esforço para não demonstrar que já sabia de tudo e fez sua rotina parecer normal. Só não conseguiu fazer sua refeição, pois seu estomago dava cambalhotas e sua vontade era somente vomitar, mas se segurou. A coisa tem de ser bem feita – dizia para si.
 
De manhã Nestor saiu normalmente como de costume, deixando Ana mergulhada em seu sono inocente. “Como pode dormir assim? Leve como uma pluma?”
 
Sem nenhuma dificuldade conseguiu uma arma e da mesma forma munição, para acabar com tudo aquilo. E seria hoje.
 
Nestor estava à espreita e viu quando o jovem chegou no horário de sempre. “A pontualidade do filho da puta é britânica” pensou o marido que já sentia crescer os chifres psicologicamente insustentáveis. “Apenas cinco minutos e acabo com isso”.
 
Estranhamente, ou melhor, propositalmente o bar do Carlão estava fechado e na rua ninguém se habilitava a expor-se ao calor causticante emitido pelo sol do meio dia. O bairro parecia deserto...
 
Nestor adentra sua casa e busca ouvir algum barulho que certamente denunciaria os amantes que já deviam estar na cama que um dia foi somente deles.
 
Ouve risos e vozes vindo do quarto, o carpete ajudou a não denunciar o corno que caminhou lentamente para ouvir um pouco da conversa...
 
- Qual seria a reação do seu marido? – A voz de galinho empenando do garoto soou como uma afronta aos ouvidos de Nestor.
 
- Ahh! Espero que ele gost...
 
Antes de terminar a frase Ana recebe na nuca o tiro que lhe tirou a vida e seus olhos permaneceram abertos após a queda encima da cama, demonstravam apenas surpresa. Ela estava de costas para a porta sem a parte de cima da roupa, mostrando um lindo sutiã vermelho...
 
O rapaz não teve tempo de se assustar, a segunda bala cortou seus óculos enquanto fazia caminho por entre os olhos.
 
“Moleque insolente, tirando a roupa dela devagar, pois o corno aqui ia demorar a chegar. Né?”
 
Antes de terminar seu pensamento Nestor vê algo que faz seu corpo estremecer e sua visão embassar...
 
Um grande arranjo de flores acompanhava uma cesta contendo vinhos e morangos e também um enorme envelope que destacavam os nomes do casal em letras garrafais com os seguintes dizeres: “Feliz Boda de Aço”. Que foram entregues enquanto Nestor providenciava a arma. Como se o chão faltasse aos seus pés, Nestor ainda abriu a bela caixa que continha um presente. Um belo relógio com aro e pulseira de aço escovado e um cartão que complementaria os dizeres do belo envelope.

“Meu amado esposo, hoje concluímos mais de uma década juntos e completamos Bodas de Aço. Que nosso amor seja resistente igual ao aço. Te amo mais que ontem e menos que amanhã... De sua sempre Aninha”

Em desespero correu até o rapaz também sem vida, que agora, olhando de perto se via muitas agulhas e alfinetes denunciando sua profissão. O cara era um “Personal Stilist”, desses que vão até a casa da pessoa para costurar sob encomenda e estava dando o ultimo ajuste no vestido que Ana vestiria na noite de aniversario de casamento. Sem duvida, uma surpresa para Nestor.

“Não existe perdão para o que acabo de fazer. Bom, ainda resta uma bala...”

O dedo de Nestor cria força para mais uma vez fazer o cão da arma trazer alivio para aquela mente culpada. Um assassino que foi traído por sua própria ignorância. Seus olhos eram negros, transparecendo sua alma.
Sem duvida sua eternidade seria no inferno.




 
Olá amigos e amigas do RL. A pedido de Sidney Muniz (ver sua pagina), eu tentei escrever um conto para participar do 9º DTRL. Espero que gostem. Comentem, pois seus comentários estarão me ajudando a melhorar.
Abraço de Paulo Moreno.


Paulo Moreno
Enviado por Paulo Moreno em 18/06/2013
Reeditado em 18/06/2013
Código do texto: T4347222
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.