A dor sem descanso

Diz a lenda que um homem elegante e de boa aparência teria vivido em Amsterdã, desde jovem sonhava em encontrar o seu verdadeiro amor, teria tido algumas namoradas em sua vida, mas nenhuma que permanecesse. Um dia esse homem andava pelas ruas debaixo de uma forte chuva quando se depara com uma moça correndo, ela acaba escorregando no chão molhado e cai, o homem corre em direção ao local de sua queda, se ajoelha próximo a moça e lhe pergunta se está tudo bem, ela responde que sim, ele então se oferece a levá-la em casa, a jovem um pouco sem graça aceita a proposta e lhe da a mão a fim de se levantar. O homem lhe empresta seu casaco e os dois andam mais uns dois quarteirões até chegarem em um carro, ele abre a porta e ajuda a senhorita a entrar, ela lhe passa o endereço de sua casa e o carro começa a funcionar.

Quando chegam ao destino a moça elogia e agradece sua atitude, diz que não é sempre que se encontra um cavalheiro e lhe convida a entrar, o homem tenta recusar o convite, mas ela insiste. Eles então entram para dentro, a jovem trás uma xícara de café e alguns biscoitos e lhe pergunta aonde mora, por sinal os dois não tinham endereços muito distantes e nem interesses muito diferentes. Conversa vai, conversa vem, o tempo vai passando até que percebem que já era noite, o cavalheiro diz a moça que havia sido muito bom conversar com ela e se não fosse o relógio em seu pulso, ele nem teria percebido o quanto o tempo já havia passado, mas que agora ele precisava ir. Se levantam e seguem em direção a porta, ela pergunta quando se veriam de novo e ele a convida para jantarem em um restaurante no dia seguinte.

Pouco mais de um mês depois o homem só pensava naquela bela moça que encontrara, ele sabia que estava apaixonado por ela e resolveu pedir sua mão em namoro, ela não tinha pais e nenhum parente próximo que estivesse vivo, ele só precisava da sua aprovação. Ele então compra um belo buquê de flores e a convida para ir no Parque das Tulipas.

Algumas horas se passam e lá estava o homem pensando no momento em que receberia a resposta que tanto esperava, ajoelhado na grama em frente a um lago e com o buquê em uma das mãos. Ela estava com um belo vestido caminhando em sua direção, e então vem a pergunta e a resposta esperada, nada menos que um sim, depois um longo beijo e passaram algum tempo observando a paisagem do lago, olhavam o reflexo que as árvores faziam sob ele.

A manhã seguinte era maravilhosa, o homem acordou pensando em sua donzela, com a sensação dos beijos que recebera a noite passada, ele estava mais feliz, mais disposto e sorridente, parece que os dias agora eram melhores e não bastou pouco mais que um mês para que ele já não imaginasse mais sua vida sem ela. Foram seis meses depois daquela noite, exatamente seis meses e se casaram. Ela entrando deslumbrante com seu longo vestido branco, ele sorrindo, a troca de alianças, o beijo. Passaram a morar juntos e agora as manhãs eram mais felizes do que nunca, agora ao acordar a donzela não estava apenas no pensamento, mas estava deitada ao seu lado. E foi assim, por eternos três anos.

Um dia enquanto o homem estava lendo em seu quarto ele avistou um pequeno bilhete caído no chão próximo a um suporte onde estava pendurado o casaco de sua amada, ele recolheu o bilhete que se tratava de um encontro no Parque das Tulipas que aconteceria pela noite, o feitor do bilhete a tratava pelo nome ‘’amor’’, o que fez com que ele tomasse um grande susto que depois se misturou a um sentimento de raiva e inúmeras perguntas surgiram, mas o que ele mais se interessava em saber é se estava sendo traído por aquela moça que tanto confiava e amava. O homem não podia aceitar aquilo em hipótese alguma, já era noite e ele pegou um punhal e se dirigiu ao parque, se encontrasse algum sinal de traição ele jurou matar, quem quer que fosse. Ele chega ao local do encontro, se esconde atrás de uma grande árvore e vê sua amada beijando outro, uma lágrima escorreu pelo seu rosto, pegou o punhal escondido em suas roupas e seguiu em direção a eles, os dois homens lutaram por alguns instantes, até que o amante consegue desarmá-lo e lhe apunha-la no pescoço, o homem cai ao chão e leva mais uma apunhalada na barriga, sua amada e o amante arrastam seu corpo até o lago e o jogam na água junto ao punhal, agora o sangue se misturava a água. Os amantes correram e fugiram no carro que estava estacionado próximo ao parque, os dois extremamente atrapalhados não sabiam o que fazer naquela situação, acabaram indo pra casa da moça e combinaram que se alguém os visse, diria que ele era um primo que morava em outra cidade e que apenas veio passar uns dias em Amsterdã.

Entraram para dentro cautelosamente, o rapaz limpou um pouco de sangue que caíra em sua roupa e começaram a discutir sobre a situação, depois de uma longa conversa acabaram dormindo nos sofás da sala até que foram acordados por um ruído. Era o homem, com o mesmo punhal, riscando uma mesa de madeira. O amante partiu para cima dele, mas levou uma apunhala em seu abdome, o homem puxou o punhal de volta e nesse momento tripas envoltas por muito sangue saíram pra fora, o rapaz foi imediatamente ao chão. Agora caminhava em direção a moça, ela implorava que não fizesse nada. Ele a puxou pelo braço, jogando-a no chão e disse: ‘’Eu te amei como jamais amei alguém, você fazia parte do meu mundo e agora partiu meu coração.’’ Começou abrir seu peito com o punhal e lhe arrancou o coração, ela agonizava mas antes que morresse teve seu próprio coração enfiado na boca e suas mandíbulas abertas e fechadas por várias vezes e o homem fala mais uma vez: ‘’Agora, coma seu coração falso e egoísta.’’

Dizem que depois disso todas as noites no Parque das Tulipas um homem bem vestido e de boa aparência começa a conversar com alguma jovem visitante e as convida para ir até as proximidades do lago, ele então as agarra junto ao seu corpo levando-as para dentro do rio. O corpo do suposto assassino e de suas vítimas nunca foi encontrado.

Lara Cristina
Enviado por Lara Cristina em 16/06/2013
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