Antonio havia fechado as portas da recepção daquela pequena pousada no meio do nada. “Essa hora e com essa chuva ninguém se habilita a vir para essas bandas” – pensava o senhor grisalho, porém robusto com corpo de fazer inveja aos rapazes freqüentadores de academia.
Seu filho Marcos havia ido à cidade para comprar mantimentos para o seu negocio e também para a sobrevivência deles. Ligou dizendo que talvez não voltasse, pois as águas que vertiam do céu poderiam ter destruído a estrada e achou melhor ficar por lá esta noite.
O negocio não ia lá muito bem, mas era dali que eles tiravam o sustento de ambos...
O único empregado, seu Jorge, estava com eles desde quando Marcos era ainda um pequeno menino. Seu Jorge dormia nas dependências da pousada e já havia se retirado quando Antonio ouve insistentes batidas na porta.
“Quem será? Marcos teria retornado?”
Por precaução Antonio pegou sua arma, uma cartucheira que sempre estava à mão para qualquer eventualidade e se dirigiu à porta de onde vinham as batidas que há essa hora havia aumentado de intensidade.
Os relâmpagos incessantes rasgavam o céu e serviram para que Antonio enxergasse o rosto do forasteiro.
- Pois sim? Em que posso ajudar? – disse pela fresta da porta, ocultando sua arma.
- Senhor, procuro pouso, meu carro quebrou a uns dois quilômetros daqui e achei melhor não ficar até o dia amanhecer dentro dele. – O homem que tiritava de frio estava encharcado e após uma breve avaliação do anfitrião foi convidado a entrar.
- Temos quartos. Qual o seu nome?
O homem gaguejou ao pronunciar seu nome, como se fosse pego de surpresa com a pergunta de Antonio.
- Ma-marcos.
Nesse momento Antonio foi alertado pelo seu instinto de sobrevivência que algo estava errado.
- Você tem o nome de meu filho, não será difícil guardá-lo.
Antonio teve a impressão que o homem sorriu por baixo de sua barba molhada, mas convenceu-se que não.
- Fique com aquele quarto - fez um movimento de cabeça indicando o quarto de numero doze. - meu filho usa quando chega fora de hora, mas esta noite ele não vem. Eu vou preparar algo para você comer.
O homem de poucas palavras comia sob os olhares perscrutadores de Antonio que não demorou em puxar conversa.
- Marcos, você mora por perto? Nunca o vi por essas bandas.
- Não, eu sou da capital. - responde o homem com voz baixa olhando para o chão.
A cada palavra do homem Antonio parecia se lembrar daquele rosto que agora estava escondido sob a vasta barba.
De repente uma onda de lembranças toma conta de Antonio. “Não pode ser! Seria ele? Depois de tanto tempo?”
Antonio é um homem solitário, Carla o deixou quando Marcos tinha apenas dois meses.
Ela o deixou por um homem que nada tinha, apenas o deixou e as palavras do bilhete ainda ressoam em sua mente...
“Antonio, estou indo embora com o homem que me faz gozar loucamente e isso você nunca conseguiu com que eu fizesse. Cuida do Marcos.”
Não houve despedidas e nem pedido de desculpas, simplesmente ela se foi. Levada por aquele cara que Antonio viu uma única vez a mais de vinte anos...
Agora Antonio o tinha ali bem perto de si. Mas é preciso ter certeza e Antonio o interrogava sutilmente.
Talvez, percebendo a manobra de Antonio, aquele homem se esquivava a cada pergunta, dando mais certeza ao algoz do passado dolorido.
- Agradeço imenso pelo pouso que pagarei de bom grado e pela refeição, mas preciso dormir, pois estou exausto.
- Quarto doze, amanhã pela manhã acertaremos tudo.
A idéia de vingança brotou solta e os lábios de Antonio contraiam-se ao sentir o gosto acre do passado sendo agora substituído pelo sabor doce da vingança.
Absorto em seus pensamentos Antonio adormece e sonha com o fatídico dia em que Carla o abandonou, sonha também com o choro do filho pedindo pela mãe em noites de insônias. Lagrimas amargas descem involuntárias tirando o triste homem de um sono ruim, trazendo-o de volta para a vida que agora clama por vingança...
Carla confessou antes de morrer vitima de um câncer no cérebro que Celso era o verdadeiro pai do menino que foi criado pelo ex-marido e abandonado pela mãe que preferiu viver uma aventura a viver dignamente...
Celso percebeu que Antonio o reconheceu, e agora que perdeu a viagem, Marcos não estava, precisava sair dali.
O quarto doze ficava no térreo, porem a janela não tinha grades como os outros, pois Antonio não tinha costume de locar aquele e Marcos gostava às vezes de trazer mulheres para casa e sempre usava o quarto.
Saltou pela janela sem dificuldades sumindo engolido pela escuridão da noite que vez ou outra era cortada pelos relâmpagos. Celso desapareceu para nunca mais voltar.
Foi até a dispensa onde seu Jorge guardava as ferramentas utilizadas para a manutenção da propriedade e encontrou uma foice perfeitamente afiada, propicia para o momento.
Adentrou o quarto que ele ofereceu propositalmente com a cópia de emergência, sem fazer barulho e armado com a foice. Lembrou a figura literal da morte quando um relâmpago fez sua sombra na parede e o mesmo relâmpago mostrou onde estava a cabeça do homem que dormia solto o sono dos justos.
Apenas um golpe e somente se ouviu um baque surdo e nada mais...
Abaixou-se e pegou a cabeça que permanecia com os olhos fechados, sem expressão, sem vida...
Sem entender, cumpriu as ordens do seu amigo patrão. Pegou o corpo e juntou a cabeça, tudo em um saco preto e após limpar o quarto. Foi para os fundos da propriedade e enterrou Marcos o menino que seu Jorge ajudou Antonio a criar.
Marcos, após ligar para seu pai avisando que não voltaria, mudou de idéia ao não conseguir um lugar para dormir e notando que a chuva tinha perdido um pouco sua força decidiu aventurar-se de volta. Chegou minutos depois que Celso, seu verdadeiro pai, que havia partido pelos fundos da pousada...
Seu filho Marcos havia ido à cidade para comprar mantimentos para o seu negocio e também para a sobrevivência deles. Ligou dizendo que talvez não voltasse, pois as águas que vertiam do céu poderiam ter destruído a estrada e achou melhor ficar por lá esta noite.
O negocio não ia lá muito bem, mas era dali que eles tiravam o sustento de ambos...
O único empregado, seu Jorge, estava com eles desde quando Marcos era ainda um pequeno menino. Seu Jorge dormia nas dependências da pousada e já havia se retirado quando Antonio ouve insistentes batidas na porta.
“Quem será? Marcos teria retornado?”
Por precaução Antonio pegou sua arma, uma cartucheira que sempre estava à mão para qualquer eventualidade e se dirigiu à porta de onde vinham as batidas que há essa hora havia aumentado de intensidade.
Os relâmpagos incessantes rasgavam o céu e serviram para que Antonio enxergasse o rosto do forasteiro.
- Pois sim? Em que posso ajudar? – disse pela fresta da porta, ocultando sua arma.
- Senhor, procuro pouso, meu carro quebrou a uns dois quilômetros daqui e achei melhor não ficar até o dia amanhecer dentro dele. – O homem que tiritava de frio estava encharcado e após uma breve avaliação do anfitrião foi convidado a entrar.
- Temos quartos. Qual o seu nome?
O homem gaguejou ao pronunciar seu nome, como se fosse pego de surpresa com a pergunta de Antonio.
- Ma-marcos.
Nesse momento Antonio foi alertado pelo seu instinto de sobrevivência que algo estava errado.
- Você tem o nome de meu filho, não será difícil guardá-lo.
Antonio teve a impressão que o homem sorriu por baixo de sua barba molhada, mas convenceu-se que não.
- Fique com aquele quarto - fez um movimento de cabeça indicando o quarto de numero doze. - meu filho usa quando chega fora de hora, mas esta noite ele não vem. Eu vou preparar algo para você comer.
O homem de poucas palavras comia sob os olhares perscrutadores de Antonio que não demorou em puxar conversa.
- Marcos, você mora por perto? Nunca o vi por essas bandas.
- Não, eu sou da capital. - responde o homem com voz baixa olhando para o chão.
A cada palavra do homem Antonio parecia se lembrar daquele rosto que agora estava escondido sob a vasta barba.
De repente uma onda de lembranças toma conta de Antonio. “Não pode ser! Seria ele? Depois de tanto tempo?”
Antonio é um homem solitário, Carla o deixou quando Marcos tinha apenas dois meses.
Ela o deixou por um homem que nada tinha, apenas o deixou e as palavras do bilhete ainda ressoam em sua mente...
“Antonio, estou indo embora com o homem que me faz gozar loucamente e isso você nunca conseguiu com que eu fizesse. Cuida do Marcos.”
Não houve despedidas e nem pedido de desculpas, simplesmente ela se foi. Levada por aquele cara que Antonio viu uma única vez a mais de vinte anos...
Agora Antonio o tinha ali bem perto de si. Mas é preciso ter certeza e Antonio o interrogava sutilmente.
Talvez, percebendo a manobra de Antonio, aquele homem se esquivava a cada pergunta, dando mais certeza ao algoz do passado dolorido.
- Agradeço imenso pelo pouso que pagarei de bom grado e pela refeição, mas preciso dormir, pois estou exausto.
- Quarto doze, amanhã pela manhã acertaremos tudo.
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Em seu quarto Antonio revivia as dores do abandono. Suas lagrimas vertidas na época foram enxugadas pela presença de Marcos, sua única razão de viver.A idéia de vingança brotou solta e os lábios de Antonio contraiam-se ao sentir o gosto acre do passado sendo agora substituído pelo sabor doce da vingança.
Absorto em seus pensamentos Antonio adormece e sonha com o fatídico dia em que Carla o abandonou, sonha também com o choro do filho pedindo pela mãe em noites de insônias. Lagrimas amargas descem involuntárias tirando o triste homem de um sono ruim, trazendo-o de volta para a vida que agora clama por vingança...
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No quarto doze o homem anda de um lado para o outro com o medo estampado nos olhos, seus lábios tremiam embaixo da barba que ele deixara crescer de propósito. Celso viera até a pousada para ver seu filho Marcos.Carla confessou antes de morrer vitima de um câncer no cérebro que Celso era o verdadeiro pai do menino que foi criado pelo ex-marido e abandonado pela mãe que preferiu viver uma aventura a viver dignamente...
Celso percebeu que Antonio o reconheceu, e agora que perdeu a viagem, Marcos não estava, precisava sair dali.
O quarto doze ficava no térreo, porem a janela não tinha grades como os outros, pois Antonio não tinha costume de locar aquele e Marcos gostava às vezes de trazer mulheres para casa e sempre usava o quarto.
Saltou pela janela sem dificuldades sumindo engolido pela escuridão da noite que vez ou outra era cortada pelos relâmpagos. Celso desapareceu para nunca mais voltar.
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Antonio levantou de sobressalto, e decidido a executar o veredicto de sua sentença. Morte.Foi até a dispensa onde seu Jorge guardava as ferramentas utilizadas para a manutenção da propriedade e encontrou uma foice perfeitamente afiada, propicia para o momento.
Adentrou o quarto que ele ofereceu propositalmente com a cópia de emergência, sem fazer barulho e armado com a foice. Lembrou a figura literal da morte quando um relâmpago fez sua sombra na parede e o mesmo relâmpago mostrou onde estava a cabeça do homem que dormia solto o sono dos justos.
Apenas um golpe e somente se ouviu um baque surdo e nada mais...
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Como de costume, seu Jorge levantou de madrugada e preparou o café para os hospedes, Antonio chegou uma hora depois e tomou o café preto e chamando seu único funcionário que virou mais que um amigo, pede para fazer uma limpeza no quarto doze. Sem questionamentos seu Jorge vai até o local e vê um cadáver sem a cabeça que agora está embaixo da cama sobre a grande quantidade de sangue que já se coagulava deixando o piso escarlate.Abaixou-se e pegou a cabeça que permanecia com os olhos fechados, sem expressão, sem vida...
Sem entender, cumpriu as ordens do seu amigo patrão. Pegou o corpo e juntou a cabeça, tudo em um saco preto e após limpar o quarto. Foi para os fundos da propriedade e enterrou Marcos o menino que seu Jorge ajudou Antonio a criar.
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Marcos, após ligar para seu pai avisando que não voltaria, mudou de idéia ao não conseguir um lugar para dormir e notando que a chuva tinha perdido um pouco sua força decidiu aventurar-se de volta. Chegou minutos depois que Celso, seu verdadeiro pai, que havia partido pelos fundos da pousada...