A Lei do Mais Forte
O crime havia chocado a comunidade. Todos estavam assustados, tamanha foi a violência do assassino. Na tv não se falava de outro assunto. Queriam que o assassino que foi apelidado pela imprensa de A FERA da favela Bolsão fosse preso, com urgência. falavam que a criança estava a poucos metros vendo o assassinato. A opinião pública falava que aquele ato brutal revelava a descrença em Deus, e que era a ausência do estado na vida do cidadão. Apesar das características do crime,ninguém ouviu,ou viu algo -na favela é assim.
- Caixão fechado?
- Caixão fechado.
Fumaram um baseado, tomaram cervejas, enquanto observavam o féretro passar. Apenas a esposa e o filho acompanhava o caixão. Um enterro de pobre, ou de gente pouco quista na comunidade pobre.
A favela era um mar de barracos a se perder de vista. Famílias formando um bolsão de pobreza insana - que o Bolsa-Família amparava-,pensa-se assim-, quando na verdade, o poder público precisa manter a miséria,haja visto,que dela tira proveito. Os pobres,analfabetos,alienados,bitolados,os miseráveis sustentam o poder. A favela não tem saneamento básico,não tem segurança - a polícia não entra. O tráfico de drogas domina. Os mais jovens são recrutados para o crime, por falta de perspectivas-entram para o submundo, na aventura. As meninas são estupradas ou intimidadas a servir os traficantes e alguns ladrões,com sexo. Quem mora na favela cresce presenciando os mais sangrentos crimes. A vítima, mais um número nas estatísticas. O poder público não tem o interesse em solucionar os assassinatos-a polícia investigativa é ociosa,inoperante e despreparada. Os agentes,barrigudos e velhos-meros funcionários públicos. O secretário de segurança pública, no geral, um mero cargo de indicação política. Desde à Grécia antiga, a política e os políticos são as grandes desgraças da humanidade - organizaram a sociedade para servir a privilegiados,aos poderosos - os de maiores ganâncias, possíveis. Alguns acumulam tanta riqueza pilhada do estado,que vão envelhecer e morrer sem poder gastar a décima parte da pilhagem. Acumulam, por que são doentes,gananciosos,desequilibrados e sem noção. Além do mais, são traídores da nação,os piores possíveis.
na favela não se tem privacidade. Os barracos se dividem em becos e vielas. Alguns de paredes coladas. Barracos de madeira, outros de papelão,alguns de alvenaria. O crime acontece a qualquer hora do dia.
O barraco não foi invadido. Bateram três vezes na porta. O estranho empurrou-o,este caiu sentado, então, aconteceu. As pancadas soavam com som estridente. Ele não pôde gritar. O porrete veloz se chocava contra o seu crânio, de forma cruel. Partia os ossos. Primeiro em pedaços grandes,depois em menores. A massa encefálica foi aos poucos se transformando num amontoado disformes, manchada de vermelho. Os pedaços de crânios voavam por todos os cantos. Mesmo desfalecido,caído ao chão as pancadas se sucediam - o assassino parecia louco,raivoso,insano. O sangue da vítima lhe banhava o dorso, acompanhado de massa encefálica. Em questão de poucos segundos o crânio da vítima era disforme-impossível distinguir o rosto do restante do crânio. Os dentes partiram-se,soltando as arcadas dentárias. O nariz se desmanchou. Os olhos foram esmagados. O menino devia ter apenas seis ou oito anos de idade. Ficou ali parado, olhando a cena macabra se desenrolar, em silêncio. Não tentou correr, não se escondeu ou gritou. Os olhos vítreos. A boca aberta. O pão numa das mãos e o copo com café preto na outra. O máximo de movimento que conseguiu fazer foi sair do banco de madeira, quando o barulho da ação criminosa havia começado. E, ali ficou estático assistindo.
- Desculpe ter feito isso na sua frente.
Falou o assassino, coberto de sangue da vítima. Tinha o porrete numa das mãos.
- Posso voltar a tomar o café?
- Claro, fique à vontade.
O garoto voltou ao banco. sentou-se, enquanto mordia o pão,sorvia pequenos goles do café,que ja estava frio. Olhava a cena macabra, de soslaio-sem esboçar uma reação. O olhar era vítreo.
A favela tem as suas leis, suas próprias leis. Havia uma queixa na comunidade. Um pai pedófilo abusava de uma criança, logo pela manhã, quando a esposa saía para o trabalho. Os vizinhos ouviam a criança chorar, e a voz do desnaturado pai em insinuações censuráveis.
O crime havia chocado a imprensa. Todos estavam consternados, tamanha foi a violência do assassino. Na tv não se falava de outro assunto. Pediam maio rigor nas investigações. Queriam que o assassino que foi apelidado pela imprensa de A FERA da favela Bolsão fosse preso, com urgência. A única pessoa a presenciar o crime não tinha a mínima condição de descrevê-lo. A opinião pública falava que aquele ato brutal revelava a descrença em Deus, e que era a ausência do estado na vida do cidadão. Diziam que era inaceitável que um pai de família tivesse a sua casa invadida e fosse assassinado de forma tão selvagem. O que não sabiam era que aquele pai assassinado usava no seu lar a Lei do Mais Forte.