A Vingança de Carina
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 Lauro era piloto de em uma companhia aérea que fazia fretes particulares. A sócia majoritária era Noêmia Kazomildes. Uma morena clara, alta de cabelos longos e olhos verdes. Noêmia tinha herdado a companhia aérea do pai, um grego que soube expandir seus negócios de aviação por quase todo o mundo.
 
 Há três meses estavam juntos. Foi amor à primeira vista. Lauro era casado e Noêmia não aceitava ser a outra. Por muitas vezes tinham discutido o relacionamento do casal e Lauro bem sabia que a esposa jamais daria o divorcio.
Em uma noite depois de fazerem amor, Noêmia mais uma vez pediu:
- Você precisa se livrar dela – levantou-se e foi para a sala.
Lauro ficou ali ainda um bom tempo, pensando nas palavras da amante.
 
Estavam jantando no terraço, quando ela voltou ao assunto.
- Você não vê?  Ela esta agarrado a você. Estar destruindo sua vida, nossas vidas querido!
- Eu não sei o que fazer Noêmia, uma única vez que tentei sair de casa ela tentou o suicídio.
- Não sabe o que fazer? Pois estamos nisto juntos! Eu ajudo você.
Ele sabia do que ela estava falando, só não sabia se teria coragem.
 E antes que abrisse a boca para protestar, ela o calou com um beijo.
Na manhã seguinte enquanto tomavam o café ele perguntou preocupado:
- E se formos apanhados?
- Se formos espertos não seremos.
- Noêmia, todos os amigos que tínhamos em comum sabem que não temos um casamento solido... E se a policia desconfiar?
- Tem de parecer um acidente – Disse Noêmia – de forma que não haja investigação policial.
- E se eles forem investigar?
- Não vão. O acidente não vai acontecer aqui no Brasil.
- Onde então?
- Ioannina, na Grécia. Lá existe inúmeros pontos turístico, um acidente em um desses pontos não seria anormal.
Ela o encarou e não viu tom de reprovação. Começaram então a traçar o plano macabro.
 
A vigem até Ioannina foi tranquila. Para Carina o cenário da cidade parecia bíblico, alguma coisa saída de uma outra época. Se hospedaram no hotel  Pindus, rodeado pelas belas torres dos Alpes.
- Parece tudo tão perfeito!– Exclamou Lauro
Enquanto Carina desfazia as malas, Lauro desceu até a recepção.
- O que se faz por aqui? – Perguntou ao recepcionista
- Tudo senhor, no hotel temos varias atividades como jogos, piscinas, uma estação de agua para tratamento de saúde. Na cidade podem-se fazer excursão, pescar nadar, sair de barco.
- Qual a profundidade do lago?
O empregado encolheu os ombros.
- Ninguém sabe, senhor. É um lago vulcânico. Não tem fundo.
- E as grutas são perto daqui? – Perguntou interessado
- Ah! As grutas de Perama? Ficam só a alguns quilometro daqui.
- Já exploradas?
- Algumas delas. Algumas ainda estão fechadas. São um tanto perigosas.
Era tudo que Lauro queria ouvir. Pegando um guia turístico voltou para o quarto.
 
 Na manhã seguinte Lauro acordou animado. Assim que Carina saiu do banheiro ele falou:
- Querida, que tal um passeio pelas grutas de Perama? – mostrou fingindo casualidade com o guia nas mãos.
- Faremos o que você decidir meu querido.
- Feito. Vamos depois do almoço. Vou até a cidade comprar umas coisas.
 
 Na cidade Lauro encontrou um armazém onde comprou uma lanterna de bolso, algumas pilhas e um rolo de linha.
- Esta hospedado no hotel? Perguntou o vendedor.
- Não – respondeu ele – Estou só de passagem a caminho de Antena.
 
 As grutas de Perama ficavam a 30 quilômetros de Ioannina. O local tinham se transformado em grandes atrações turística.
Quando Carina e Lauro chegaram lá eram 5 horas, uma hora antes de fechar. Lauro comprou dois ingressos e um guia da gruta.
Um guia mal vestido veio e ofereceu seus serviços.
- Não precisamos de guia.
Catarina olhou para ele, surpresa pelo tom rude.
- Vamos – Falou enquanto a levava pelo braço.
- Tem certeza que não precisamos de um guia?
- Pra que? Tudo que temos a fazer é entrar e olhar a caverna. O folheto nos dirá tudo!
A entrada para as grutas era maior que eles imaginavam. Toda iluminada com lâmpadas e cheia de turistas que entravam e saiam.
- É fantástico! – exclamou Carina verificando o folheto – Ninguém sabe a idade exata delas.
A voz dela soava cavernosa, sobre o teto rochoso. Ao fundo da caverna tinham varias entradas, em uma delas, um cartaz impresso onde dizia:
 
PERIGO NÃO ENTRE
 
 Sem Carina perceber, Lauro desviou sua atenção do aviso, entrando abraçado com ela no local proibido.
- Estar úmido aqui. Poderíamos tentar aquela outra entrada?
- Não! - o tom de Lauro era firme - O empregado do hotel me garantiu que as mais estreitas são as mais belas de se ver.
- Mais esta escuro, tem certeza de que é seguro?
- É claro! Eles trazem as crianças das escolas aqui!
 De alguma forma ela não estava se sentindo segura. Tinha razões para tal pressagio.
 Entraram pelo túnel e tinham andado apenas alguns metros quando o circulo de luz da caverna principal atrás deles, foi engolido pela escuridão.
- Vamos para a esquerda.
- Querido não acha que devíamos voltar? Esta ficando tarde e já deve estar na hora de fechar.
- Fica aberta até as 9 e tem uma gravura em especial que o recepcionista falou que seria primordial lhe mostrar.
 Tomaram o túnel que ia pela esquerda e andaram com cuidado, por causa das pedrinhas que escorregavam sob seus pés. Lauro colocou a mão no bolso e um momento depois, Carina ouviu alguma coisa cair.
- Você deixou alguma coisa cair?
- Chutei um pedra disse ele – vamos andar mais rápido – e foram adiante sem Carina perceber que atrás deles um tubo de linha se desenrolava.
- Acho que esse lugar não gosta de nós – disse Carina.
- Não seja ridícula Carina, é só uma caverna!
- Falta muito para chegar onde você quer?
- Não muito.
- Eu estou ficando com frio querido, vamos voltar!
- Eu esquento você quando voltarmos para o hotel.
 Viraram o túnel  a direita, com o feche de luz fazendo um desenho estranho e tremulo na rocha cinzenta.
- Merda! - exclamou ele.
- Que foi?
- Acho que tomamos o caminho errado.
Carina concordou.
- Esta certo. Vamos voltar?
- Deixe-me ter certeza. Você fica aqui.
Ela olhou para ele surpresa.
- Onde é que você vai?
- Só alguns passos. Vou voltar para a entrada.
- Eu vou com você!
- Não! Posso ir mais depressa se for sozinho Carina. Só quero dar uma olhada onde fizemos a ultima curva. Volto em menos de 30 segundos.
- Esta bem – disse ela contrafeita – mas por favor, não demore!
 Carina ficou ali contando os segundos em pensamento, depois os minutos e as horas.
Lauro não voltou.
Ela gritou e a voz saiu rouca e tremula... Limpava a garganta e gritava de novo.
 As horas negras passavam e ela começou a encarar o fato de que alguma coisa estava terrivelmente errada. Lauro poderia ter sofrido um acidente e naquele momento estar sangrando a alguns passos dela.
Uma sensação de sufoco começou a tomar conta dela , oprimindo-a, enchendo-a de incontrolável pânico. Ela se virou e começou a andar devagar na direção em que viera. O túnel era realmente estreito, e se Lauro tivesse caído e ferido ela o encontraria.
 Gritou alto enquanto andava, e então ouvia o som de sua voz mergulhar no silencio. Um zumbindo vinha em sua direção. Ficou mais alto, correndo em direção a ela. Estava ficando cada vez mais perto. De repente, bateu em seu rosto em meio à escuridão. A pele fria e viçosa se agitou contra sua face e tocou-lhe os lábios. Carina sentiu algo se movendo sobre sua cabeça e garras afiadas nos cabelos. Se sentiu sufocada pelo bater enlouquecido das asas de algum horror que a atacará na escuridão.
Ela desmaiou.
 Estava deitada em uma ponta de pedra que a incomodava, e isso a fez recuperar os sentidos.
 Havia morcegos na caverna.
 Com dificuldade ela levantou-se, de algum modo tinha perdido um sapato e o vestido estava rasgado. Passando as mãos no rosto sentiu que estava sangrando. Tentou lembrar o que sabia sobre morcegos e nada vinha a sua memoria.
 Parou de repente. A distancia podia ouvir novamente o som do zumbido movendo-se em sua direção. Como que em transe encontrou-se nas paredes úmidas. Mais uma vez aquelas asas frias e pegajosas grudavam em sua pele. As garras afiadas dessa vez não pouparam seu rosto. Ela tentava em vão se proteger com as mãos. Antes que a escuridão lhe envolvesse, um pensamento macabro veio a sua mente.
- NÃO FOI UM ACASO, LAURO QUERIA ME MATAR!
 
Quando Lauro chegou à saída das grutas já estavam fechando. Fingindo desespero procurou o guia e falou:
- Por favor me ajude! Minha esposa estava logo atrás de mim, quando percebi ela já não estava mais!
 
 Uma equipe de busca foi formada em menos de 10 minutos. Durante toda a noite as buscas foram intensa. Lauro acompanhou todo o processo incansável. Quando amanheceu o dia ele foi conduzido a uma delegacia para prestar depoimento.
As buscas foram encerradas três dias depois. Carina Veiga, turista Brasileira, foi dada oficialmente como desaparecida. Lauro foi liberado pela policia grega depois de ouvir do policial que sua esposa não tinha sido a primeira turista a desaparecer nas grutas Perama.
 
 Ela estava deitada, quieta e rígida para que os morcegos não pudessem encontra-la... Procurou ouvir o bater das asas, com os olhos bem fechados.
Uma voz de mulher disse:
- É um milagre que a tenhamos encontrado.
- Ela vai ficar boa? – perguntou outra voz.
- Sim. Mas seu rosto foi destruído.
- O que será que aconteceu irmã?
- Só Saberemos quando ela acordar.
 O convento das carmelitas ficava ao norte de Ioannina, Carina tinha sido encontrada vagando por uma estrada que dava a lugar nenhum pelo padre Lombardini que ia até aquele convento uma vez por mês para rezar a missa.  Seu rosto era uma massa deforme de sangue, seus braços e pernas estavam cobertos de sangue, descalça e com o vestido em frangalhos foi acolhida na velha caminhonete e conduzida para o convento, onde as freiras fizeram o que foi possível para salva-lhe a vida.
Um ano tinha se passado quando o magnata Demitris Douglas que sustentava aquela instituição ao fazer uma visita as irmãs carmelitas, ficou chocado quando por acaso avistou na beirada do lago que rodeava o convento aquela menina mulher sem rosto.
 
 Para Demitris foi um desafio. Carina não lembrava quem era, ou o que tinha lhe acontecido. Depois de convencer as irmãs, levou aquela menina para Antenas onde a entregou ao doutor Katz dizendo:
- Refazer esse rosto agora é uma questão de honra. Procurei o melhor entre os melhores e encontrei você. Refaça-o.
Carina seria eternamente grata a Demitris. A muito tinha percebido que ele estava apaixonado, mais seu coração não tinha espaço para o amor.
 
 Agora estava na hora de cobrar sua divida. Depois de passar por uma equipe de psicólogos e varias cirurgias plásticas, ela sabia quem era e o que tinha lhe acontecido. No inicio Demitris tentou faze-la desistir de sua vingança. Mas ela foi irredutível:
- Faça então o que tem que fazer, meu amor. Estarei te esperando aqui em Ioannina.
Dona de um corpo escultural, o rosto lhe era desconhecido, mais as feições refeitas eram perfeitas. O doutor Katz tinha feito um ótimo trabalho.
 No passaporte tinha o nome de Celina Santareno. Embarcou para o Brasil com uma mala cheia de ressentimentos. A hora da vingança tinha chegado!
 
 Há dois meses trabalhava para a companhia Kazonildes. O escritório no Brasil ficava em Santa Catarina. E era naquela cidade que o casal vivia felizes, achando que seria para sempre.
 Com sua formação profissional e um rosto bonito, não foi difícil ser contratada como secretaria particular do agora presidente da companhia Lauro Cerqueira.
 De secretaria a amiga do casal foi um salto. Noêmia tinha ela como sua amiga e confidente. Certa tarde, Noêmia a chamou na sala e convido-a para acompanha-los em um final de semana a sua cabana de caça. Finalmente a oportunidade que esperava.
A viagem foi tranquila, a cabana não ficava muito longe da cidade e um final de semana seria suficiente para o que ela tinha em mente.
 
 Chegaram ao final da tarde, e como uma boa secretaria e amiga, se ofereceu para preparar o jantar, enquanto o casal preparava os equipamentos de caça.
O casal estava no alpendre quando ela chegou com dois drinques e entregou a cada um.
- E você não nos acompanha? – Perguntou Lauro.
- Prefiro não! Preparei apenas dois, do mais, não bebo antes do jantar.
 
 Depois dos primeiros goles o casal reclamou de dormência no corpo. 5 minutos depois, estavam ambos passando mal.
 Com os olhos embasados e a língua enrolada, Lauro perguntou enquanto tentava reanimar Noêmia que parecia em pior estado que ele.
- O que você fez?
Com um sorriso no rosto ela falou.
- Não é melhor você perguntar quem eu sou?
 Naquele momento, Lauro sabia que ia morrer. Ali na sua frente, estava nada mais nada menos que  Carina, a mulher que ele acreditava ter morrido nas grutas de Perama.
- Pois é Lauro, pelo seu olhar de pânico acho que já sabe quem sou. Agora quanto ao que fiz, não se preocupe! É só um veneno que vai lhe deixar dormente por um bom tempo. Tempo suficiente para sentir a dor de ver o fogo consumindo sua pele e da vadia de sua atual esposa.
Impossibilitado de qualquer movimento eles se viram sendo arrastado para dentro da cabana.
- Me perdoa Carina! – Ainda tentou implorar com a língua enrolada, - Foi tudo ideia dela!
 Noêmia implorava clemencia e jurava nada saber do que eles falavam.
- Não zombe de minha inteligência - Falou Carina - tenham ao menos a decência de morrerem com dignidade.
 
 Depois de transportar os dois para dentro da cabana. Foi até o carro, com uma mangueira e retirou o que pode da gasolina. Jogou nos cantos estratégico da cabana, não esquecendo de deixar um pouco para molhar o casal. Não queria correr os mesmos riscos que eles correram.
 Ficou ali parada vendo as chamas consumir a cabana enquanto os gritos do casal lhe servia de musica para seus ouvidos.
 
 Três dias depois em Ioannina, despertou ao lado de Demetris, o homem que a ajudou a se reconstruir. Abriu a janela do quarto e seus olhos prestigiaram o caminho até as cavernas, onde tudo começou.
Zeni Silveira
Enviado por Zeni Silveira em 31/05/2013
Reeditado em 31/05/2013
Código do texto: T4318951
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