Os 7 Demônios: Os Exilados

Chuva... Como a chuva era importante nesses tempos difíceis, todos fazendeiros festejavam ao presenciar os pingos d'água molharem sua lavoura, fazendo-a prosperar, crianças pulavam de alegria enquanto os trabalhadores da Vila comercializavam suas mercadorias como em um dia qualquer. Para todos fazendeiros a chuva era um sinal de luz, um presente dos Deuses para os trabalhadores, nem para todos. Como qualquer outro dia chuvoso, o céu estava totalmente fechado e escuro, para alguns, tempos assim eram ótimos para fazerem seus cultos diversos, nem todos veneravam um Deus, alguns, veneravam Demônios, era muito comum nessa época, as pessoas necessitavam louvar alguém superior, para alegria dos Demônios, isso abria muitas portas para seus rituais sombrios. Excluídos da Vila, existia uma família de fazendeiros um tanto quanto exóticos, plantavam ortigas e cactus, comercializavam suas plantas para o extremo sul da região, não partilhavam seus lucros para o benefício da Vila, deixando os boatos cada vez mais severos, porém, não se importavam nem um pouco, pois acreditavam estar protegidos por um dos 7 Demônios Akhanir. Nesse dia chuvoso, a família não esperava uma visita, então logo aprontaram suas velas e começaram a ler o livro dos 7 Demônios, esperando assim manter as pessoas longe de sua casa, amedrontando todas que atreviam-se a se aproximar da lavoura.

- Eis aqui meu sangue, ó poderoso Akhanir, despejo nessa jarra gotas para que você possa se alimentar e manter a sua palavra de proteção!

O Homem estende suas vestes, deixando a mostra seus braços que já acumulavam dezenas de cortes profundos, mantidos pela promessa de alimentar estes seres para mantê-los longe dos inocentes e proteger a sua lavoura.

- O monstro manteve suas promessas, meu amor, porém, quando iremos receber o tão aclamado Exilado?

- Não repita este nome, mulher, estamos nos referindo a Akhanir, o patrono dos Demônios, não é um simples "monstro". Iremos receber logo, a chuva é o primeiro sinal de sua chegada, assim como a chuva desaparece ao tocar o solo, Akhanir manda um de seus Exilados para exercer o mesmo trabalho, fertilizar nossas terras com fartura e riqueza, enquanto o mesmo propaga devastações diante os que perecem.

Um Exilado nada mais é do que um Escravo que não soube utilizar o poder que lhe foi dado em outros planos, assim sendo expulso do plano que pertencia para planos inferiores, para assim poder exercer suas atividades em prol da evolução do Planeta, porém, nem todos pensam dessa maneira, alguns preferem ser Escravos da Escuridão, trabalham pelo poder e gostam de ser expulsos de planos evoluídos para regressarem a um plano inferior, podendo roubar e maltratar dos outros apenas para sua felicidade, esses são os escravos dos Demônios Akhanir, seres que juraram lealdade pela eternidade em troca de algumas vidas terrenas para atormentar todos que passam em seu caminho. Deste ritual surge Belethor, até então conhecido como filho de Fazendeiros locais, na verdade fora invocado por Akhanir, nas masmorras da escuridão, Belethor é libertado.

- Chegou a esperada hora do meu regresso, ó poderoso Akhanir?

- É chegada sua hora, escravo, vá e faça desse vilarejo uma multidão de cegos seguidores, irei estar assistindo daqui, porém, lembre-se, você serve a nós, tente passar do limite e já sabes onde irá parar.

Akhanir não estava presente na masmorra, mas sim, na mente de Belethor, ninguém conhece o patrono dos Demônios, a sua imagem apenas é vista por um dos sete Demônios, que até então, é desconhecido perante os mortais. As portas então se abrem, onde costumava ser uma parede de barro e lava, acaba materializando-se em um portal de sombra. Sem pensar, Belethor abre um sorriso e entra na sombra que abraça-o como se fosse uma mãe.

Eis que desce um raio a Vila, mais precisamente na Fazenda onde os devotos do Demônio cultivavam seus rituais, nada de tirar a atenção do povo, afinal, era um simples raio. A porta da Fazenda estava trancafiada e seria impossível alguém entrar sem bater, porém, Belethor surge na frente do casal que agora estava com a aparência de uma criança de apenas 10 anos.

- Pacientemente lhe aguardamos, Exilado.

O pobre Homem que mal tinha sangue em suas veias de tantos rituais exercidos sorri novamente, aliviado de finalmente ter um momento de paz em sua atormentada vida.

- Meu nome é Belethor, não gosto que me chamem de Exilado, prefiro que me chamem de Lorde, Lorde Belethor. De agora em diante sou teu filho, visite a Vila e informe que um novo líder aproxima-se.

Belethor então, estende sua mão para o chão, que do mesmo diante as sombras surge um livro, preto, sem símbolo algum, e a olho nu, com as páginas sem nenhuma escrita aparente.

- Este é o livro dos Demônios verdadeiro, nele contém maldições que nem sempre partilham do meu conhecimento, irei usá-lo para seduzir pessoas, dele farei essa família triunfar e logo ao fim governar estas terras com ódio e terror.

- E quanto a nós, filho?

Levanta-se a mulher que estava quieta e com a cabeça baixa, lendo ainda o livro que invocou o exilado.

- Aqui diz que você necessita de nós, somos meros mortais, então qual a necessidade de nos possuir?

Com o livro em mãos, Belethor finge que não escutou o que a mulher disse, e resmunga.

- Devo manter vocês, pois vocês que me invocaram, se eu matar um de vocês, serei eternamente escravizado pelo meu patrono, mas não me preocupo com tal assunto, já que vocês não tem poder algum sobre mim.

O Homem então pega Belethor pelas vestes e o ergue, insatisfeito com a resposta tira o livro de sua mão e o joga contra a parede.

- Passamos anos invocando alguém, para receber o exilado mais mesquinho das trevas? Você é apenas um garoto aqui, não ouse falar com minha mulher, a sua mãe, desse jeito, se repetir, irei lhe colocar com os porcos e irei te criar como um, pivete!

Belethor encosta sua mão na testa do Homem, sua mão começa a se abrir e dela saem sombras que entram nos seus ouvidos, o homem se desespera, começa a gritar erroneamente como uma besta que foi enjaulada.

- MAS QUE DIABOS É ISSO? FAÇA PARAR, FAÇA PARAR!!!!!!!!!!!!!!!!!

- Isso é o que escuto todos os dias, todas horas, todos minutos, nas trevas, você OUSA me chamar de mesquinho, sem nem mesmo saber o que eu SOFRI?

Logo Belethor coloca sua outra mão sobre o buraco que libertava as sombras no ouvido do homem e as sombras simplesmente evaporam no ar. Deitado tremendo e salivando, o homem para por um minuto e volta ao normal. Os exilados nem sempre são bons, e o que os demônios lhe dão como missões eles acreditam ser uma oportunidade para tomar posse do lugar de algum demônio maior. Para Belethor, nada iria pará-lo, nem mesmo Akhanir.

- Agora acho que nos entendemos, sou uma criança, porém, possuo um poder imenso, que nem mesmo um demônio poderia compreender.

Dito isso, a mulher que até então estava pasma com a situação, se conforma, abraça o marido e segue na calada obedecendo todos comandos de seu filho, Belethor.

Para os exilados, o tempo não funcionava como na vida real, ao invés de envelhecer por ano, eles envelheciam por dias, logo passam-se 10 dias e Belethor cresce erroneamente para os 20 anos de idade, logo percebe-se que sua missão deve ser rápida e objetiva, o que acabou não sendo. Belethor fez escravos em sua fazenda, passou a usá-la como uma masmorra de corpos, escondia as vítimas nos quartos dos pais, enquanto eles se matavam plantando e produzindo mais. Ele estava contente, o povo acreditava que Belethor era santificado, criava histórias, amaldiçoava pessoas com demônios escravos, fazendo-o triunfar na vila matando essas invocações. Mal ele sabia que um dia iria entender uma frase completa do livro negro. Somava 35 anos, foram 25 dias que pareciam 2 décadas, os pais de Belethor já não se alimentavam mais, tentavam se matar porém a sombra que emanava na vila não permitia, quando os mesmos faziam algo de suspeito, logo as sombras envolviam os seus corpos salvando-os da morte, era terrível, não tinham escolha a não ser servir Belethor. Seguindo a missão que lhe fora dada, não se importava mais com o povo, pois sabia que eles eram totalmente cegos e acreditavam que Belethor fosse um anjo caído. Nesse dia, Belethor cometeu seu maior erro, julgou os Demônios achando que nunca soubessem o que estava fazendo, tolo.

- Em seu corpo ainda existe nossa marca, Akhanir, ele não passará de hoje, mal ele sabe que irá me invocar, para sua desgraça, irei desmembrá-lo em praça pública e finalmente irei conquistar esse planeta problemático.

- Tenha calma, Gülag, tu não sabes em quem será invocado, lembre-se que o plano da Luz existe, e esta luta nunca será ganha sem estratégia.

- Pf, você realmente acha que um mortal tem capacidade de sobreviver as sombras que percorrem o meu interior?

Gülag é um dos Demônis de Akhanir, eles somam 7, porém só Gülag pertence a este plano, os outros, trabalham em planos mais evoluídos.

- Você é o Demônio mais fraco entre os 7, de uma coisa te alerto, neste planeta existem 4 anjos caídos, não temos capacidade de saber quem é quem, nem mesmo a pessoa que foi abençoada com este poder sabe, até você chegar, Gülag.

Um mero mortal, um anjo caído? Sim, da mesma maneira que as trevas tem suas forças obscuras, o plano de luz sabe de tudo que planejam, existem 4 anjos caídos neste planeta, porém nenhum despertou ainda... Ainda.

Belethor então lê a frase que todos do mundo das trevas esperavam, neste dia, Gülag fora invocado, no corpo de um mendigo, o até então desmerecedor de tal poder, Nyull.

No processo de transação de planos, um Demônio de Akhanir mantém seus privilégios, ao invés de ser uma passagem direta, o Demônio passa por memórias que fazem o mesmo saber de toda a personalidade e história do corpo que ali permanecerá, facilitando para quando o dono do corpo tentar se libertar, o Demônio poderá usar o passado e histórias constrangedoras para afugentar o rebelde. Segue então Gülag, com mais de mil vultos o seguindo com correntes conectadas a ele, são seres escravizados, não tem mais escapatória para estes, apenas o frio e obscuro futuro de manter lealdade a um Demônio tão cruel. Na maneira que os anos passam, os milênios, os vultos que ali se conectaram ao Demônio começam a ficar rancorosos e com sede por sangue também, quando este processo chega a esse nível, o Demônio que afugentou as almas começa a ganhar mais força, mais poder. Aí que definimos a grandiosidade de um Demônio, quanto mais almas sedentas por sangue estiverem conectadas a ele, mais força o mesmo terá. Gülag era diferente dos outros Demônios, era o único que tinha aparência humanóide, gostava de manter essa aparência pois era mais fácil de conquistar e seduzir as pessoas, um homem alto, diferente dos outros, a única coisa que o definia como fora do padrão da realidade era suas vestes, não eram vestes comuns, era um manto de sombras que emana escuridão a todos que passam, mas essa é apenas a forma vista por aqueles que seguem o caminho da luz, já os outros sem crenças, ou aqueles que veneram o Demônio, o apreciam alegando tamanha beleza.

Pois bem, apenas fora explicado as trevas, onde fica a luz neste mundo tão cruel e absurdo? No mesmo processo que Gülag era invocado, mal sabia o plano das trevas que as divindades estavam alertadas sobre o tumulto que eles planejavam causar. Nessa época transtornada pela guerra e pela sede de sangue até mesmo as divindades procuravam se proteger, pois as trevas sempre foi uma amante da guerra, como a maioria nessa época procuravam poder e lutavam por qualquer motivo, as trevas estava muito alimentada por esses pensamentos e os patronos da luz estavam em minoria, que não tinham escolhas a não ser batalhar e fazer triunfar as divindades. O grande conselho estava armado, Divindades de todos cantos do mundo se reuniram para definir quem seriam os 4 anjos caídos deste planeta carente de luz.

- Com louvor, vos saúdo, irmãos, então foi chegada a hora, um dos 7 Demônios de Akhanir fora libertado, temos que definir os anjos caídos, não podemos manchar nossas mãos com sangue, já fizemos nosso juramento de bondade, cabe aos anjos esta tarefa.

Um homem alto, com barba branca e cabelos longos, parecendo um bruxo da idade média, todos reverenciaram como se fosse uma Divindade Maior.

- Mas Senhor... Como iremos definir os anjos caídos se nem treinamento lhes foi condedido?

Levanta-se Akatosh, Deus da Bravura, um homem robusto, com marcas de batalhas em seu corpo inteiro, carregando um manto com o símbolo de sua divindade, um urso polar com uma armadura metálica.

- Não será necessário, vou escolher 4 de vocês para distribuir 1/4 de seu poder para estas almas. Akatosh, Deus da Bravura, Morthar, Deus da Justiça, Auriel, Deusa dos Caçadores e Ogbad, Deus da Barbárie, erguam-se!

Os 4 Deuses se erguem da mesa e começam olhar um para o outro.

- Ogbad, você será encarregado do possuído por Gülag, é apenas um mendigo, com os objetivos ofuscados será entregue as suas forças com louvor, ele irá despertar da fúria, o seu trabalho é libertar este garoto do corpo que Gülag vai se infiltrar, dê a ele sua força!

Ogbad então começa a profanar algumas palavras, ao fechar os olhos todos presenciam uma energia saindo do seu corpo e partindo para Nyull, eis que surge a luz que o fará livre.

--- Continua.