Ego te Invoco - II

- Aceite de volta seu próprio sacrifício. Refazemos o que foi feito errado. Repetimos o que nunca foi dito. Corrigimos nossos erros de erros. Damos a ti o que queres. Devolva a nós o que nos pertence.

Ao dizer isso meu corpo se esvaiu. Não mais havia nada no altar. Eu podia retornar para onde era meu lugar. Mas ainda não estava completo o sacrifício. Eu devia continuar ali. Eu era obrigado a continuar a assistir, mesmo minha participação tendo acabado. Tommy perguntou:

- O que fazemos aqui?

- Acalme-se meu querido, Jimmy. Daqui a pouco terminaremos isso tudo e você será meu pirralho com manias lindas de matar animais inuteis.

- Jimmy?

- Levem-nos para o altar - Ordenou a mulher.

Os outros três adolescentes que até então estavam imóveis seguiram até Tommy e Donna e os levaram para o altar. Tommy se negava a ir. Esperneava, gritava, berrava. Eu não esperava outra coisa dele. Donna seguiu calma e lentamente. Não havia ninguém a induzindo a nada. Ela ficou nua, se deitou no altar e esperou. tudo com tanta calma que me espantou. Quando Harly se aproximou Donna fechou os olhos e esperou pacientemente. O atame estava prestes a perfurar os pulsos de Donna, mas essa com extrema agilidade chutou o atame da mão de Harly. Ela se armou do objeto encrustado e se pôs em modo de defesa.

- Não podemos suportar isso outra vez - disse o Homem - Dora, minha querida não reptamos o mesmo erro de antes. Aceite o que fazemos. É para o bem da familia. Não ofendamos o mestre. Não haverá uma nova chance.

- Meu nome é Donna. Não há um mestre para mim. Sou dona do meu próprio nariz.

Me intrometi. Não havia outra saída. Eu não ia vagar outra vez por mais dez anos atrás da nova geração. Voltei ao altar. Olhei para Donna que estava de costas para mim. Ela parecia estar decidida a não recuar. Me aproximei lentamente dela. Em um tom de voz monótono e confiante disse:

- Por favor, Donna, aceite o que eles pedem. Não irá doer. Não vê que estou muito bem? Eu renasci.

- Quem garante que irá me acontecer o mesmo?

- Eu garanto.

Ela soltou o atame. Achei que a tivesse convencido a desistir, mas estava enganado. Antes de o atame cair ela o pegou outra vez e me apunhalou o peito. Eu devia ter previsto aquilo, mas não previ.

Donna disse em uma voz grave e sobrenatural:

"Tangunt me quod malum est,

maledictum non me fundati.

Mimo, non est meum.

Et ego fidelis intelligibile.

non pervenire mortem mihi.

His contenti"

- Como ousas nos trazer um demônio? - perguntou o homem.

- Ela sempre foi isso. Foi ela que impediu o último sacrifício.

Tommy tentou se soltar, mas não conseguiu. Em mim crescia um fulgor. Aos poucos senti que meu corpo se modificava. Eu havia me tornado uma caveira. Aos poucos meu corpo ia adquirindo uma massa muscular vermelho fogo. Meu cabelos cresciam louros. Eu ainda estava nu, mas não havia sexo. Numa voz tenebrosa eu disse:

"Malum non repetitur,

fructus putres erit immolatus,

electio super tempore,

Non alia forte liceret."

Retirei o atame do meu peito e cortei a jugular de Donna. Harly tomou das mão de Still a adaga e cortou os pulsos de Donna. O corpo imóvel foi posto no altar. O homem fez a conjuração e o corpo de Donna voltou a vida, mas como Dora. Jimmy ficou e não ofereceu resistência.

Luiz Antônio
Enviado por Luiz Antônio em 28/05/2013
Reeditado em 28/05/2013
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