Noite Sombria (nº 1)

A noite começava e o caçador seguia a bruxa.

Nathan tinha de admitir, a desgraçada era ardilosa, como só criaturas de sua estirpe sabiam ser. Ele a caçava já havia três semanas, ela havia destruído dois vilarejos, Shantyville e Goodsburg, matou mais de duzentas pessoas e a meia dúzia de sobreviventes se alternavam entre a loucura negra de alguém que presenciou terrores inimagináveis e o estado catatônico de puro desespero dos que não conseguiram aceitar o que viram. A bruxa havia invocado criaturas sombrias que massacraram as pessoas enquanto elas dormiam, mas o pior destino foi das almas as quais a bruxa escolheu para seu ritual demoníaco. Nathan encontrou apenas os restos dos pobres diabos na praça central dos vilarejos: runas escritas em sangue, símbolos demoníacos, e pilhas de corpos com buracos negros onde deveria estar um coração, para ele estava claro, a criatura estava roubando a essência vital de inocentes para um ritual extremamente poderoso.

Nathan havia se deparado com caminhos sem saída duas vezes na floresta, a bruxa havia deixado rastros em toda parte para confundi-lo, mas assim como a águia que tudo vê de seu reino dos céus, o caçador percebeu as distrações da bruxa antes de perder o rastro principal.

A noite caia como um véu de escuridão, deixando atrás de si um silencio sepulcral interrompido apenas pelos uivos dos wargs que habitavam a noite, Nathan pegou uma pedra do meio das folhas que cobriam o solo e sussurrou um encanto -Atherin- fazendo-a emitir uma luz alva como a do primeiro raio da manhã para iluminar seu caminho.

O caçador corria silencioso como uma raposa, pois sabia que tinha pouco tempo, a lua negra estava á surgir e apenas durante esse evento um ritual de tamanha magnitude poderia ser feito. A trilha negra da magia profana que emanava da bruxa estava cada vez mais poderosa, ele podia cheira-la, um odor ocre de putrefação, ele estava a menos de mil passos de sua presa.

Então, duzentos passos à frente, Nathan viu a clareira e soube que a criatura havia armado uma emboscada para ele, a bruxa tentaria mata-lo na clareira onde ela realizaria o ritual. De imediato ele soltou a pedra, que se tornou comum novamente, e fez gestos arcanos em sua mão esquerda, agora livre, deixando um feitiço pronto para ser lançado e, com a espada desembainhada entrou na clareira.

A bruxa estava no centro da abertura na floresta, tinha a aparência de uma velha com um manto negro e capuz em sua cabeça, era corcunda e tinha a pele carcomida com vermes rastejando nas chagas abertas que a manchava, ela abriu um sorriso macabro de dentes afiados para o caçador e disse com sua voz aguda e arranhada como de uma gralha negra:

-Ora, ora, achei que caçadores eram mais...

Nathan não a deixou terminar a sentença, quando ainda jovem na fortaleza de Kez Gortan a primeira coisa que aprendeu foi: não confabule com as criaturas das trevas. Ele avançou, a espada descrevendo um arco no ar noturno, quando o chão tremeu em seus pés, e seis necrófagos cavaram seu caminho de dentro do solo e o cercaram.

Deveria ter previsto que a maldita estaria acompanhada, pensou o caçador, mas com um movimento de relâmpago ele girou seu corpo para a direita e desceu a espada no necrófago mais próximo, decepando-lhe a cabeça. Antes de a bruxa proferir algum feitiço negro, Nathan apontou a mão esquerda para onde ela estava e gritou a plenos pulmões:

-Thrae Svent!

De sua mão saltaram três setas brilhantes que acertaram dois necrófagos, jogando-os para trás e abrindo buracos do tamanho de laranjas em seus peitos, a última seta atingiu o alvo desejado, explodindo o ombro da bruxa em uma nuvem de sangue negro, porém não teve o efeito esperado pelo caçador que queria tê-la enviado para as trevas o mais rápido possível.

Nathan aproveitou que sua presa estava no chão se contorcendo de dor e focou nos três necrófagos que avançavam em sua direção com sua eterna fome por carne humana. Por um momento ele teve pena das pobres almas que corriam em sua direção, antes eram aldeões comuns, tinham famílias e profissões, mas agora eram mortos-vivos amaldiçoados a servir uma criatura das trevas até que alguém os liberasse de seu sofrimento, mas o caçador não dispunha de tempo para sentir pena dos perdidos, o melhor que ele poderia fazer era manda-los para o lar de seus deuses e vinga-los acabando com seu algoz.

-Ixen!- gritou o caçador, pois não havia tempo de dar forma a seu feitiço – e de sua mão pularam chamas quentes como o sopro de dragão transformando dois monstros em cinzas, o ultimo caiu perante a espada do caçador, que agora se virava em direção à bruxa, esta havia se levantado e estava proferindo um feitiço negro contra Nathan. Ele saltou em direção da bruxa sob o brilho prateado do luar da meia-noite, a espada como uma extensão de si mesmo, no mesmo momento a bruxa terminou seu feitiço sombrio e fogo negro saltou de sua mão, mas por sorte do destino ou proteção dos deuses, a bruxa não calculou bem o seu alvo e as chamas apenas lamberam o ombro esquerdo do caçador, que não parou seu movimento sublime mesmo com o seu ferimento.

O caçador cravou a espada no coração negro da bruxa, que morreu com a expressão de surpresa nos olhos vermelhos. As almas amaldiçoadas foram vingadas e libertas de seu sofrimento, mas Nathan não pensou nisso, para ele era apenas uma questão de quanto ouro estava em jogo, pois não há trabalho que não possa ser feito se a bolsa do caçador se mantiver cheia e agora ele tinha apenas que entregar a cabeça da criatura na cidade mais próxima e retirar o ouro de sua bem merecida recompensa.

Luiz F R Caravelo
Enviado por Luiz F R Caravelo em 28/05/2013
Reeditado em 04/06/2013
Código do texto: T4312735
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