Os 7 Demônios: O Escolhido

Mais um dia se passava para aqueles que viviam apenas com a certeza que um dia morreriam e dali nada poderiam lucrar ou aprender. Para muitos, a vida é apenas uma passagem, quando acabar, perderão tudo que lhes foi dado, como a chuva que é projetada das nuvens terá apenas um destino: o solo. Belethor viveu nesses parâmetros, a sua vida era apenas mantida pelo singelo pedido de clemência de seus parentes, que imploravam para manter a sanidade para não participar de mais nenhuma atrocidade contra qualquer outro ser. Apenas mais um entre os 1 mil habitantes que ali em sua vila permaneciam, trabalhando e cultivando o seu legado para assim quando morrerem, ter onde se sustentar na vida após a morte. Para muitos, o material aqui plantado, seria colhido e bem atribuído para seu reino alado, onde todos os moradores dessa pacata vila de religiosos clamava ir. Mas não para ele, Belethor tinha pensamentos mais obscuros, criado por fazendeiros que moravam afastados da vila, nunca teve uma disciplina religiosa, pelo contrário, para ele, qualquer ser poderia se entitular santificado, bastava para ele atormentar os próximos, mantendo a sua imagem de ser superior, para ser respeitado, venerado. Nesse dia, nada foi como o planejado, Belethor estava em mais um de seus dias, procurando sua vítima para colocar diante praça pública para cegar os seus fiéis seguidores, clamando poder curar quaisquer doença que aparecera, mal ele esperava, que esta vítima não era um simples mendigo que poderia barganhar com algumas moedas de ouro.

- Te dou minha palavra, meu caro amigo, assim que você for "curado" por minhas mãos iremos para minha fazenda, onde lhe darei as tão prometidas moedas de ouro!

Belethor estende sua mão para levantar o mendigo, que mal conseguia se manter de pé. A sua rotina era essa, ia aos redores da vila a procura de uma alma quase caindo aos pedaços, para montar uma tragédia onde poderia manter suas mentiras.

- Como poderia acreditar em tuas palavras, meu Senhor? De nada eu tenho valor, morrer não traria preocupações a ninguém, quem me garante que tu darás a tua palavra e me trará moedas em troca de um favor tão chulo?

Ergue-se então o mendigo, recusando a mão de Belethor.

- Quem lhe ensinou tal palavreado, não ensinou-te as consequências de responder nesse tom a um Lorde.

Já impaciente, firma suas mãos e empunha sua espada, com um sorriso maléfico diante o pobre mendigo.

- Lorde? Quem és tu pra dizer-te Lorde, tu és apenas um mesquinho charlatão que mantém mentiras para conseguir fama e poder, de nada tens de santificado, é apenas mais um mentiroso qualquer.

O mendigo sem nada a perder, estende seus braços e deixa o seu peito livre para qualquer golpe, sorrindo termina:

- Aqui jaz um homem, que diante todas situações, manteve a verdade em primeiro lugar, o meu nome será lembrado em sua mente Belethor, o meu encontro com a tua pessoa foi planejado, um simples golpe da sua espada não irá ferir os meus ideais!!!

Belethor, engasgado com as verdades, crava sua espada no chão de terra, coloca a mão no ombro do Mendigo e complementa.

- Corajoso és tu, porém tolo, minhas forças não são humanas, tão menos perceptíveis a um ser qualquer, eu sou poderoso, minhas palavras ecoam nas entranhas dessa vila e todos dela temem ao me ouvir. Dentro de mim somam mais de mil, com um mesmo objetivo, tu sabes muito bem que não vim aqui para mais um show de santidades, já chegou a tua hora, Nyull van Eghresth.

As palavras de Belethor ecoam nos ouvidos do pobre Mendigo, que ao ouvi-las começa a tremer e borbulhar saliva, seus olhos já não enxergam mais nada, branco como as nuvens passam uma imagem de um ser totalmente indescritível. Belethor coloca sua mão nos olhos do mendigo, que imediatamente para de tremer, ao tirar suas mãos, os olhos do mendigo já não estavam mais brancos, parecia nada ter acontecido, logo, cai de joelhos e beija os pés de Belethor.

- Muito bem, Nyull, agora vá e faça a tua parte.

Belethor ergue o mendigo, que agora já não parecia aquele homem fraco, sem objetivos, seus olhos estavam demonstrando poder, sua visão já não pertencia mais a realidade, e sim, a Belethor.

Nyull então segue o seu caminho, sem saber deveras porque motivos fora escolhido, tão menos qual era o seu objetivo, apenas seguia o caminho, como se o seu corpo não lhe pertencia mais, porém, sua mente estava ativa, com perguntas inacabáveis, de como fora parar nessa situação. Chegando a vila, Nyull crava suas mãos ao solo e começa a falar:

- HUMANOS, AQUI VIM PARA DEVORAR SUA CARNE, NYAK ZAHR LINDULL, NÃO TEMAM, A SUA TERRA SERÁ MANTIDA ALADA, APENAS COM SANGUE DIANTE AS JANELAS.

O seu dizer era tão poderoso, que tremeu o solo, suas mãos então ressurgem, com garras afiadas sedentas por sangue. Nyull já não respondia por si, um ser habitava o seu corpo, sua mente permanecia intacta, porém de nada adiantava, as suas ações e seus dizeres não pertenciam mais a aquele homem puro e humilde que inconscientemente respondeu sinceramente ao Lorde Belethor, mal ele esperava que Belethor era um exilado.

Eis então que Belethor surge das sombras, acompanhado de seu povo fiel e cego, grita:

- QUEM ÉS TU DEMÔNIO, EU SOU O PROTETOR DESSA VILA, DE NADA ADIANTA TEUS DIZERES, FAREI TU ENGOLIR A PRÓPRIA LÍNGUA COM O PODER ALADO QUE ME FOI DADO!!!!

Nyull já não compreendia mais nada, tudo foi planejado, Belethor deixara pessoas amaldiçoadas, para então "salvar" a vila, fazendo o povo cego seguir os seus dizeres, alimentando a sua alma, deixando-o cada vez mais forte para seu objetivo final.

- Eu...... Não.......... SOU ESTE SER!!!!!!!!!!!

Nyull demora para projetar tais palavras, que fazem Belethor arregalar seus olhos, logo todos presenciam uma luta dentro de um corpo só, enquanto Nyull lutava com o demônio dentro de si, Belethor não queria perder o seu poder, logo empunhou sua espada e com um golpe enfiou nas costas de Nyull.

- Te achas forte, não é Nyull? Talvez fiz a escolha errada, mas acredite, você está dando um belo show para minha imagem.

Belethor sussurra para Nyull, que logo coloca suas mãos na espada de Belethor, derretendo-a em um simples toque, deixando a vista sua ferida, todos conseguem ver que dentro de Nyull, não existia órgão algum, e sim, energia, tal hora emanava uma luz negra, tal hora uma luz branca, denominando a luta interior de Nyull, para salvar sua alma das Trevas.

- NYULL, VOCÊ AGORA É UM DEMÔNIO, FAZEMOS PARTE DE UM SÓ CORPO, VAMOS JUNTOS MATAR BELETHOR, CONQUISTAR ESSE POVO MESQUINHO, MANDÁ-LO DE VOLTA PARA O PLANETA QUE PERTENCE.

Nyull falava em uma voz demoníaca, que não era a sua, todos presenciavam uma discussão de um corpo só, para o pavor de tantos, Belethor caíra inconsciente ao tocar em seu corpo.

- Não me apresentei, me chamo Gülag, você foi "abençoado" com um demônio akhanir, o meu poder é 100 vezes mais forte que Belethor, um mero ser mesquinho que roubou um livro profano de palavras e dizeres malignos, para conduzir e invocar demônios. O meu ser finalmente foi invocado, este babaca mal sabia ler o livro, que acabava invocando demônios tão fracos que até mesmo ele conseguia derrotar para manter suas mentiras. Para a decepção do mesmo, ele finalmente acertou a invocação, invocando um dos 7 demônios akhanir, eu.

Gülag então desperta, a luz negra que emanava no corpo de Nyull é projetada para fora, materializando um ser totalmente diferente, tinha 3 metros, era magro, usava uma roupa parecida com os de uma realeza, porém, totalmente pretas. A sua capa era tão sombria que tinha a impressão de mexer-se sozinha, como uma sombra. O seu rosto não dava para definir, apenas os olhos totalmente pretos dava para enxergar.

- Obrigado Nyull, você foi a porta para um demônio akhanir, receio que não lhe restará nenhum poder de mim, porém como a minha lei indica, sou totalmente leal a você, os seus dizeres serão minhas atitudes.

Nyull então percebe que sua ferida fora fechada, no lugar dela, surgiu um número e uma palavra, Nyull Ekh Zeth 192, assustado pergunta:

- Para que serve este número? Quer dizer que tu tomou posse de meu corpo, agora tenho que seguir os teus dizeres?

- Pelo contrário, Nyull, tu és meu, porém eu faço o que tu diz, meu mundo não é este, logo o que tu desejas será feito, porém, tu tens apenas 192 dizeres. Após este número, serei liberto e então, poderei ceifar-te como um ser qualquer.

Gülag sorri maleficamente e some. Sem entender, Nyull encosta em sua ferida, onde estão os números, e percebe que algo surge a suas mãos, uma foice, forjada com apenas um pensamento, ela vai direto ao pescoço de Belethor, que até então, estava inconsciente.

- O qu..e...... Acon..te.....ceu?

Belethor ergue-se, sem entender nada do que estava passando.

- Obrigado por libertar-me, Belethor, não nos apresentamos ainda, correto?

Nyull abre um sorriso tão grande e assustador que deixa Belethor impressionado.

- Me chamo Nyu....... GÜLAG, NYULL GÜLAG.

Belethor arregala os olhos diante tal situação, e termina com deboche.

- Gülag? .......... IMPOSSÍVEL! GÜLAG É UM DOS 7 DEMÔNIOS AKHANIR, TAL DIZER É UM INSULTO AO MUNDO DAS TREVAS!! BWAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHH

O povo então começa a gargalhar junto a Belethor, Nyull encosta sua foice no pescoço de Belethor e diz.

- Sim, Gülag, um dos 7 demônios akhanir, Zalok Bathor Nihhr, obrigado por me libertar, exilados costumam ser burros, mas você, você realmente não sabe com o que estava lidando, apodreça no inferno, sirva meus irmãos, verme!

Gülag controla o corpo de Nyull e em um simples movimento crava sua foice no pescoço de Belethor, todos presenciam o corpo de Belethor tremendo e mudando drasticamente de cor, até que o mesmo implode, voando seus pedaços no rosto de Nyull, que sorri incensadamente.

- ESTE ERA O SEU LÍDER, UM SER IMUNDO QUE PLANEJAVA CONQUISTAR ESTE MUNDO COM SUAS MENTIRAS, AGORA O MESMO LIBERTOU UM DOS MAIORES DEMÔNIOS DA HISTÓRIA, OBRIGADO, LIXOS!

O povo entra em desespero, atropelando quaisquer ser a sua frente, começam a correr desesperadamente, Gülag então sopra sua foice que faz uma chuva de lâminas a sua frente, devastando tudo e todos, uma verdadeira chacina propagava a pequena vila de crentes e céticos. Nyull estava inconsciente, não respondia mais pelo seus atos, vivendo dentro de si, apenas podia ver toda devastação que o demônio fazia, lá estava ele, em uma sala sombria e silenciosa, assistindo os atos de seu corpo sem poder fazer nada.

- Tudo não passa de um sonho Nyull, acorde... Acorde!

Inconformado com tal situação, tentava identificar onde estava, debatendo-se entre o chão e as paredes sombrias que reproduziam a imagem de Gülag desmembrando os restantes da Vila. Em um dia, um mendigo que mal pudera ser lembrado como pessoa, em outro, uma pessoa guardando sentimentos obscuros de raiva, sedento por vingança diante os Demônios. Mas o quê fazer? Por que Nyull fora escolhido? O que são os Exilados? Perguntas inacabáveis circulavam o seu interior, que sem perceber, surge um vulto a sua frente.

- Vlask Math Irr, Salakhanir, Nyull.

Com apenas raiva circulando sua mente, Nyull tenta atacar o vulto impiedosamente, sem nem sequer ouvir suas palavras que para ele soavam totalmente destorcidas.

- NÃO PERTENÇO A ESTE CORPO, ME LIBERTE, POR QUE INSISTE EM FAZER TAIS ATROCIDADES COMIGO?

Ao chegar em contato com o vulto, Nyull percebe entrar na escuridão que propagava palavras, onde agora as palavras sucumbiam o seu espírito, fazendo-o tremer em choque, ajoelhando-se diante a escuridão, Nyull começa a entender a linguagem que para ele era apenas palavras que soavam demoníacas.

- Vingue-se e mate-o, prospere, Nyull.

- Mas quem diabos é você? Estou preso dentro do meu próprio corpo, quem deveria estar no comando do mesmo sou eu, somente eu!

Erguendo-se, começa a tentar se tocar, que é em vão, Nyull é um vulto, como o ser a sua frente.

- Você acha que é o único aprisionado neste corpo? Estamos todos aqui, lembranças de Gülag e pessoas que foram fantoches como você, agora estamos todos aqui, acompanhamos as chacinas de Gülag sem escolhas, ele lhe fez tais promessas de prosperar e os 192 dizeres?

- Mas é claro! Disse-me que bastava eu dizer que meus pedidos seriam atendidos, porém, apenas teria 192 dizeres e após isso ele iria ceifar-me como um ser qualquer....

O vulto começa a rir impiedosamente e observa Nyull que começa a avermelhar, de raiva, pois agora como vultos apenas sua aura é perceptível.

- Essa marca projetada em sua ferida, Ekh Zeth 192, significa que você tem apenas 192 dias para se libertar do Demônio Akhanir, caso contrário, perecerá pela eternidade em suas jornadas, assim como nós.

Nyull em um momento viu sua vida sucumbir diante as poderosas garras de Gülag, presenciaria suas atrocidades e de nada adiantaria reagir ou tentar se rebater diante as paredes infinitas do Interior, porém, lembrou-se de sua vida, que não passava de uma vida sem sentido, não tinha nem forças para levantar-se de tamanha fome, era um peso morto para a sociedade, não valeria de nada se morresse ou continuasse a viver. O seu vulto começou a pulsar e crescer rapidamente, as sombras começaram a desaparecer e onde sua aura podia ser vista todos presenciaram uma explosão divina de luz!

- Minha vida não tinha valor algum, ninguém se importava com o que eu faria, escolheram a pessoa errada para aprisionar, agora, tenho um motivo para viver, agora, tenho um motivo para TRIUNFAR!

A luz era tão forte que amedrontou os outros vultos, que começaram a se esconder no restante de escuridão em seu interior. Gülag então sente uma pontada em seu corpo mortal, deliciando-se com o sangue que derrubara na Vila, não deu valor algum a tal acontecido, mal ele sabia que a luz estava a caminho.

Os 7 Demônios: Os Exilados - Breve