Ego te invoco - Parte I

O que estava em debate era simples "Quem será o primeiro a ir?"

Tommy estava decido a não ir, era demais para ele. Enfrentar uma casa assombrada, vazia, com um cemitério no quintal? Nunca. Ele relutava veemente.

- Não há o que possam fazer para que eu mude de ideia.

- Deixe de ser medroso. É só uma iniciaçãozinha de um clube bobo.

- Mais um motivo para eu não ir.

Ali haviam cinco crianças. Na verdade adolescentes. Mas para causar raiva em ambos eu dizia que eram crianças. Eu sou John Silver, quero dizer, por hora eu sou John Silver. não sei quem serei amanhã. Eu tinha a tarefa de levar cinco almas para a casa. Eu havia escolhido os quatro. Seria interessante testá-los antes da Grande Coisa. Tudo começou numa clássica segunda-feira 9. Pode não representar nada. Mas se fazer uma continha básica perceberá onde quero chegar.

Conheci os quatro em pontos variados de uma cidade qualquer. Eu construí toda uma vida em uma semana. Conquistei amigos e garotas, mas são detalhes. Selecionei quatro crianças: Tommy, Still, Donna e Harly. Ambos eram completos estranhos. Haviam se conhecido naquela noite e se deram muito bem. Tão bem como seria o encontro de um leão faminto com um cervo machucado. Tommy era extremamente estúpido e Senhor de Si. Still era prestativo e Senhor da Situação. Donna era ágil e Senhora do "Que Se Dane". Harly era retraída e Senhora de Nada. O único elo entre eles era eu.

Combinei separadamente com cada em ir à casa da Rua 13. Ambos concordaram no mesmo instante. Todos deveriam chegar às 20h. Dito e feito. Chegaram nesse horário. Eles se olharam e nada disseram. Quando cheguei olhei para cada um e os cumprimentei. Abri os pesados portões de ferro e adentrei a Mansão. Os outros entraram sem pestanejar. Dentro da casa não havia nada. Exploramos o lugar, que nem era tão grande. A única coisa que se encontrou foi uma pintura de 7 adolescentes. Quatro desses adolescente estavam presentes ali.

- Por que somos um quadro pintado? - perguntou Donna.

- Os antigos donos da casa pintou os filhos deles como recordação antes de matá-los para o Grande Ritual - expliquei - Não são vocês.

- Está brincando conosco, certo?- perguntou Still.

- Não. Vocês não são eles.

- Eles é que são a gente - replicou Harly - Percebam como estão e como estamos. Percebam o que são e como somos. Não somos eles.

- Deixa de ser estúpida, garota. Sabe qual a possibilidade de isso ser possível? - perguntou Donna.

- O palpite dela está certo - observei - Eles são vocês.

- Onde você está então? - perguntou Tommy.

- Aqui. Ao seu lado.

Seguimos na procissão pela casa. Encontramos uma sala oculta ao tentarmos retirar o quadro. A sala possuía uma parede revestida de carne humana e fedia a algo podre. Uma luz rubra tomou conta do local. Still olhou para o auto e perguntou:

- Por que a cabeça do Tommy está no teto sendo usada como lampada?

Todos olharam para o alto. Não houve espanto. De repente um grito gutural e feminino foi ouvido. A porta da tal sala se fechou com um estrondo. Ficamos presos ali. Não havia o que fazer.

Donna se aproximou de um dos lados da parede e percebeu que ela era costurada. Calmamente Donna foi desfazendo a costura até um pedaço de pele cair completamente. Não havia nada atrás dele. Ela continuou a desfazer a costura até poder atravessar . Não havia ninguém prestando atenção nela, exceto eu.

- Podemos atravessar por aqui - ela sugeriu.

Não houve resposta. E eu respondo porque. Todos estavam fazendo a mesma coisa. Todos haviam desfeito a costura e chamado os outros. Mas ninguém esperou a resposta de ninguém. Harly olhou para todos e se sentou num canto. Talvez ela visse mais que os outros. Nunca descobrirei.

- O que devemos fazer, John? - me perguntou Tommy.

- Ir ao cemitério. Faremos uma visitinha para seus corpos.

- Ótimo!!! - exclamou Donna excitada.

Seguimos para o fundo da casa. Havia um pequeno cercado feito de pedra.

- Quem vai primeiro?- perguntei - Tommy? É o mais corajoso entre nós. Vai primeiro?

- Nunca. Não há o que possam fazer para que eu mude de ideia.

- Deixe de ser medroso. É só uma iniciaçãozinha de um clube bobo.

- Mais um motivo para eu não ir. Que clube bobo?

- Não contei a vocês? Vou fundar um clube nessa Mansão.

- Sendo assim eu sou a primeira - disse Harly.

- Você? - perguntou Tommy sarcástico.

Sem dizer mais nada ela entrou. Todos ficaram parados do lado de fora esperando algum grito desesperado, alguma gargalhada monstruosa. Mas nenhum desses veio. Harly saiu cinco minutos depois. Ela sorriu para todos e começou a cantar alegremente. Depois ela começou a gritar num tom divertido:

- Mamãe, mamãe. Onde estão os outros? Quero brincar - dizendo isso ela entrou na mansão toda sorridente.

- Quem é o próximo? - perguntei com um sorriso encantador.

- Eu vou - respondeu Still.

Ele entrou com um sorriso cínico e depois de cinco minutos saiu. Ele começou a gritar:

- Mamãe, não vou fazer aquilo que me mandou. Não posso simplesmente matar um familiar meu - ele estava indignado.

- Alguém se habilita? - perguntei.

- Vamos os três - respondeu Donna - Não quero sair idiotizada de lá, menos ainda do jeito que aquele tal de Still saiu.

- Por mim tudo bem - concordei.

Entramos os três juntos. Harly e Still voltaram e se juntaram a nós. Dentro do cemitério havia um casal trajando preto, três crianças de vermelho e um altar de mármore branco.

- Que bom que vieram meus filhos - disse a mulher - Sentimos falta.

Still e Harly traziam em mãos uma caixa de velas cada. Eles se aproximaram do casal e entregaram as velas.

- Bons filhos vocês - disse o homem.

A mulher desenhou um circulo em torno do altar, enquanto o homem acendia e distribuía as velas em torno do circulo. Sobraram 10 velas. Elas foram entregues para cada um dos presentes. Subi ao altar e tirei toda a minha roupa. Fiquei deitado ali. O homem possuía um livro nas mãos e o abriu e uma pagina qualquer. Em voz alta e grave ele recitou:

"Ego te invoco.

Qui juxta me est semper.

Ipsae me ad me et eius essentia.

Show utilitatis haberet.

Oh, ipse Deus

Corporis et Sanguinis mei curam mei extinguere.

Et bibent saporem. "

- Venha a nós, Mestre - disse a mulher.

- Aceite nosso sacrifio surreal. Tome de volta um filho teu. Um demônio que nos ajudou. Libertamo-os e nos libertamos.

Still pegou uma adaga de prata e cravou na minha jugular. Eu continuava lucido. Depois Harly pegou um atame encrustado de esmeralda e cortou meus pulsos.

- Aceite de volta seu próprio sacrificio. Refazemos o que foi feito errado. Repetimos o que nunca foi dito. Corrigimos nossos erros de erros. Damos a ti o que queres. Devolva a nós o que nos pertence.

Luiz Antônio
Enviado por Luiz Antônio em 21/05/2013
Reeditado em 23/05/2013
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