Cerrar dos olhos

Tudo estava... embaçado...

Arregalou os olhos repentinamente. Passou pesadamente uma das mãos pelo rosto na tentativa de tirar o sebo acumulado, apenas espalhando-o.

Estava cansado. Na verdade, estava exausto. Havia fugido tanto nas últimas horas que não sentia mais suas canelas. Olhou para as pernas verificando se estas ainda continuavam lá... sim... elas estavam lá... apen... apenas anes...

Sobressaltou-se. Havia quase dormido novamente.

Estapeou-se deixando sua face rubra. Mirou a lanterna em seu próprio rosto na esperança de que o facho de luz o deixasse mais alerta, porém tudo que conseguiu foi ficar com um enorme borrão preto em seu campo de visão.

Lembrou de sua mulher e do fato de que ela deveria estar naquele prédio. Passou a mão pelo cabelo e encostou a testa no joelho. Não poderia dormir! E se ela chegasse e ele estivesse adormecido? Como poderia abrir a porta? Não! Se ela estivesse em perigo... se estivessem atrás dela... ele... ele tinha que se manter acordado! Porém a qualquer momento sabia que atrás daquela porta poderia ouvir gemidos e grunhidos. Sabia que poderiam farejá-lo, que poderiam sentir seu suor e medo.

Estava cansado demais para chorar e se desesperar, mas sabia que o faria se ainda lhe restassem forças.

Sentiu sua testa começar a arder em contato com o jeans, mas não se importou. A dor era uma boa companheira para ele agora, a única que nunca o abandonaria.

Deu uma breve risada abafada.

“Ei dor...” disse baixinho, “quando ela... chegar, abre a... porta pra... pra m...”

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