A Passagem

Primeiro dia

Nós estamos descansando, eu acendi minha vela e comecei a escrever, isso me acalma.

Chegamos há uma escuridão, a luz da lâmpada já não refletia e não havia mais paredes rochosas em volta, durante horas nós exploramos a caverna até achar o “salão”, uma abertura para o nada, pois saindo pela abertura, as paredes laterais iam para a direita, esquerda e para o alto indefinidamente, não possuíamos a visão de um teto na caverna, apenas a impressão que saiamos de montanhas rochosas por uma gruta e adentrávamos um deserto sem estrelas á noite.

Eu me lembrava de Dante, descrevendo os portões do inferno e imaginava criaturas fantásticas surgindo dentre a escuridão para nos recepcionar com os castigos pendentes pelos nossos pecados sobre a terra.

Não havia possibilidade de retornamos, e a esta a altura o nosso retorno significava apodrecer numa cela de prisão para o resto da nossa existência, os guardas já estariam ciente de nossa fuga e estariam á nossa procura pelas montanhas.

O homem que nos orienta, o velho Virgil crescera nestas montanhas e sabia da caverna, uma passagem conhecida por poucos, segura e rápida através das montanhas, mas obviamente não muito utilizada pelos supersticiosos montanheses, mas para nós, se quiséssemos uma fuga rápida e segura, seria através dela, o que não contávamos é que os anos passados na prisão fizesse desaparecer da memória do nosso velho amigo o caminho correto, e galerias e galerias de túneis depois nós estávamos lá, perdidos e tentando buscar um ponto de referência, na realidade nós não tínhamos mais já a certeza se estávamos indo ou vindo, só sabíamos que deveríamos continuar em frente até encontrar uma saída, sempre se chega a algum lugar quando se vai em frente, por mais que se demore a chegar, e certamente estas cavernas não são túneis infinitos.

Segundo dia

O querosene está acabando, agora nós só acendemos a lâmpada quando é absolutamente necessário, eu acendo novamente minha vela e escrevo enquanto todos descansam, eu preciso escrever, nós três temos medo, eu tenho que me acalmar, nós estamos seguindo pelo “Salão” a mais de 12 horas, talvez 15, é difícil ter uma noção exata do tempo nesta escuridão, nada, nenhuma parede surge, seguimos em frente cuidadosamente na escuridão amarrados uma ao outro por uma corda, eu preciso economizar minha vela, irei me restringir a rápidas notas.

Terceiro dia

Jesus abençoado, esta coisa não tem fim, estamos com fome, o pão que nós trouxemos acabou, caminhamos rezando juntos.

Quarto dia

O Velho Virgil sumiu enquanto dormíamos, para onde o velho desgraçado foi?, agora sou só eu e meu companheiro de cela, a água racionada acabou, ficamos mastigamos uns pedaços de couro para espantar a fome, continuamos em frente, nenhuma parede ainda

Quinto dia

Meu Deus me perdoe pelos meus pecados, quando acendemos a lâmpada eu vi um demônio, meu companheiro tenta me convencer que era algum tipo de animal deformado, eu estou ficando louco?

Sexto dia

Ele foi embora, correndo feito um louco, gritando como louco e depois nada mais, só o silêncio, a vela está acabando, eu vou morrer, não tenho mais forças para sair de onde estou, eu me sinto observado e comecei a ver olhos como os de gatos brilhando na escuridão, a vela vai acabar a qualquer momento, não há esperança, meu Deus e minha abençoada mãe, me perdoem pelos meus pecados.

Sétimo dia

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Extro
Enviado por Extro em 17/05/2013
Reeditado em 22/02/2014
Código do texto: T4294605
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