O homem atravessa o parque em direção a avenida com passo rápido de quem tem pressa. Passava pouco das dez e tudo estava solitário.
 
 Duas horas antes, muita gente que se dirigia do centro para o bairro passava por ali, mas agora, não se via mais ninguém. O parque tinha aspecto de deserto, comum naquele horário. O que durante o dia explode em vida, risadas e conversas à noite se transformam em avenidas de um cemitério situado num canto qualquer do mundo.
 
 O homem era advogado recém formado e chamava-se Henrique. Fora visitar um cliente com urgência e um pneu furado de seu carro obrigara-o a parar próximo ao parque. Pensou então que o melhor a fazer seria atender o cliente antes de substituir o pneu furado. A pé atravessaria o parque para ganhar tempo.
 
 Após alguns metros de caminhada uma sensação de inquietude quis tomar conta dele...
 
 Claro que era uma besteira qualquer, pois a cidade não registrava muitos assaltos noturnos, existem sim ruas perigosas, mas poucas. E ultimamente não tinham acontecido roubos naquela região.
 
 Não obstante, tinha a impressão que estava sendo seguido. Chegava a ouvir passos, ver sombras furtivas...
 
 
 Henrique apesar de pouco tempo na profissão já tomava rumos opostos ao que aprendera na faculdade. Suas atitudes ilícitas vinham demonstrando seu caráter a cada caso. O ultimo, e o maior deles evolveu um pequeno proprietário de uma loja para artigos religiosos e, dizem, ser praticante de magia vodu. Jean Pierre teve sua loja comprada a preço bem abaixo do valor de mercado por Henrique para satisfazer o desejo de um milionário para qual Henrique presta serviços.
 
 Ameaças à família de Jean Pierre o fez entregar sua única fonte de renda. E após todos os papeis assinados Jean Pierre foi vitima de uma emboscada que Henrique preparou, e, antes de morrer Jean disse olhando dentro dos olhos de Henrique que voltaria dos mortos para vingar-se.
 
 O advogado via as luzes da avenida através das arvores. Um suspiro de alivio brotou de seu peito. A noite soprava um vento frio e o passeio pelo escuro parque não estava sendo agradável.
 
 Balançou a cabeça na tentativa de esquecer o feiticeiro que jurou vingança. Por que, há vários dias vinha à sua mente essa lembrança?
 
 - Ele que vá para o inferno! Ninguém volta do outro mundo. Dizia em voz alta enquanto rumava em direção à saída.
 
 Aquela sensação novamente o fez sair de seus pensamentos. Agora os passos eram ouvidos nitidamente...

 
 Ao parar de repente quando ia em direção a ultima reta antes da saída teve a certeza de estar sendo seguido, e instintivamente levou a mão a sua cintura simulando sacar uma arma que ele infelizmente não tinha.
 
 Com voz tremula resmungou:
 
 - Quem está ai?
 
 Como resposta ouviu somente uma risada baixa...
 
 Então saltou do arbusto à sua frente um par de olhos brilhantes, a boca retorcida numa careta disforme com o crânio partido... Conseguiu ver o machado...
 
 Ainda pôde soltar um grito, levando as mãos ao rosto em total desespero. Porem, já era tarde.
 
 O machado partiu sua cabeça em duas. O sangue jorrou na grama fresca do parque onde o corpo de Henrique se contorcia num ato insano de estertor. O machado caiu mais uma vez, separando a cabeça do tronco.
 
 Ainda podia-se ouvir uma risada baixa...
 
 Os passos se afastaram rapidamente, alguém ganhava a escuridão com grande agilidade. O vento e a solidão levaram aquele som para longe dali.
 
 E tudo voltou ao mais profundo silencio.



Paulo Moreno
Enviado por Paulo Moreno em 16/05/2013
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