Confissões de uma Lenda Imortal
 
 
“Esse é um texto complexo escrito por uma mente dúbia e cínica. Para saber do que realmente se trata não basta apenas ler ou entender, primeiro deve-se asilar cada uma das realidades propostas nesse apinhado de letras abstrusas, intensas e alienadas, e em seguida aceitar as entrelinhas reais dessa fantasia cáustica”

  Pois bem, a vida é assim, e a morte?... Hum, a tal da morte sempre nos prega peças, peças de um quebra cabeça abstruso.

  No principio era tudo tão sereno, eu era como um filho, mas por fim me encontrei minudenciando o caos que migrava de minha mente mundana e perversa, o mesmo terror que saltitava tal qual uma criança louca de tranças atrevidas e saia rodada arrebatando meu coração a ponto de me prender a idéia atraente à minha frente.

   A humanidade surgiu com um propósito, um desejo paternal, de um instinto que nascera praticamente do nada, melhor dizendo de um todo. Era a caridade, o carinho, o querer amar se manifestando de forma convicta no imo de um ser que eu já chamava de pai. Maldita criação, raça medíocre.

  Não, em verdade vos digo que são Máquinas, é isso o que deveras se tornaram; hospedeiros de sistemas complexos, de sentimentos inversos, num universo que tanto conhecem e que por uma analogia mais completa, em contrapartida interpretam tão erroneamente.

  Deuses, anjos, santos? O que são essas criaturas invisíveis que teimam em nos dar esperança? O que é essa tal fé sustentada em um livro antigo, em escritos sagrados que não fazem milagres há tanto tempo? Afinal, de onde vem essa força que os sustem? Qual é o verdadeiro valor dessa lenda viva?

  Caminho há muito tempo por entre espinhos maculados em sangue, e distingo a natureza do amor e também do ódio, compreendo a virtude de uma alma pura e até mesmo as prerrogativas de se ser cruel. O mal jaz entre nós, e o bem hoje é uma força interferente que insistentemente luta com bravura indômita contra seiva do ininterrupto destino a fim de tentar reaver seu império perdido.

  Estou só, há anos vivo a dançar envolta de minha própria decadência, vivendo de migalhas medíocres, assistindo a filmes sem fim, a finais que eu mesmo construí. Sou tão ruim que mal sei o que o orgulho deveras me tornou.

  Não reconheço mais o assobio da noite nem tampouco as badaladas soturnas do relógio que paira por sobre a torre da igreja, tão calado e malcriado. O ponteiro dos segundos sempre foi mais veloz dentre os três, o dos minutos sempre dava a volta mais esperada e assistida, enquanto que em relação ao das horas era um divisor de águas, hora se torcia para que ele não se movesse, todavia outrora havia a vontade angustiante de empurrá-lo em direção ao sol.

“Maldito tempo que não para e que ao mesmo tempo não volta.”

  Sou a poeira engasgada na garganta, o próprio vicio curando o viciado. Sou eu, o passado feito presente desembrulhado amargamente, presente grego, pois bem; o futuro tem se adiantado para a humanidade. Possivelmente estamos nos aproximando do fim.

  As asas que carrego tem o peso da liberdade, o manto que trajo carrega a imortalidade, minha cor é neutra e pouco atraente, mas meu espírito emana magia, sou tão obscuro e tão indecifrável, é inimaginável minha dor.

  Já passei por pontes derribadas, por ruas desertas, vasculhei corpos a procura de almas e luzes acesas. Caminhei por veredas inóspitas e esgotos fétidos, meus pés já queimaram as próprias chamas, fui autor de outras tantas histórias.

  Mas hoje me retiro do próprio fardo, estou farto, peço o descanso quando o mesmo não me é oferecido. Já fui luz e fui trevas, agora quero ser sombra. Lembro-me do tempo em que meu pai e eu andávamos juntos, do tempo em que eu era seu filho pródigo, o mais querido e amado. Tempos que me trazem dor, dor e muita saudade.

  O brilho da coroa era tão intenso, o desejo de ser rei era algo surreal, simplesmente incontrolável.  Acredito que esse desabafo é um prenuncio do que há por vir. Sou uma lenda viva, criei o caos, mas foi quando venci a guerra que percebi que nada estava ganho, em verdade meu pai sempre foi perfeito, seus filhos é que sempre o desapontaram.

  Não entendo como ele pôde não ter ódio de mim, como ele é capaz de me perdoar depois de tudo que fiz? Como ele é capaz de te perdoar?

  Nem mesmo toda benevolência desse ser supremo ao qual chamei um dia de pai pode ser suficiente para que esqueça, que apague todo o passado. Não, minhas asas não voltarão mais. Estou morto há tanto tempo.

  Olho pela janela do inferno e assisto a tudo, vejo as labaredas ardentes, os ratos dentuços e asquerosos caminhando pelo esgoto das desilusões. Ouço o som irritante do choro das almas perdidas. A neblina me cega ás vezes, a densidade do sofrimento é tão intensa que sua energia causa lágrimas nos olhos amaldiçoados da morte.

  Caminho com meu tridente, carregando o cheiro do enxofre fétido que há de me acompanhar por toda a eternidade. Sou o retrato melancólico de um líder sem propósitos, já fui príncipe, me tornei rei, mas o que é um rei sem tesouros? O que é um rei sem um reino?

  Está destruído lá fora, demônios vagam a procura de sonhos, a fim de despedaçá-los, anjos estão sendo derrotados a todo tempo. Um Deus está sendo esquecido e um filho se sacrificou em vão. O espírito ainda reside pelos vales desolados de corações acalentados, mas até quando ele vai resistir?

  Queria que essa guerra acabasse logo, que tudo isso tivesse um fim. Admito que errei e isso é o máximo que posso fazer, mas enfim, o que posso fazer? Não posso parar o que comecei, são invejosos, são gananciosos, a mortalidade não é um prêmio que eles tem orgulho de carregar. Eles querem mais, querem possuir aquilo que possuímos, querem conhecer aquilo que conhecemos e usufruir do poder que tanto evitamos evidenciar.

  Homens? O que querem ser senão Deuses? No que querem acreditar senão no que lhes convém?
  Sou o Diabo, já me chamaram de Lucífer, já fui luz e trevas, mas hoje quero apenas viver na sombra, assistindo aquilo que tanto preguei ser seguido até mesmo depois de minha morte, mas quero que isso tudo termine logo.

 Sim, eu morri. Morri pelas mãos do homem, assim como Deus também está morrendo, somos anjos e Deuses decadentes de um mundo dominado por corações arrogantes que indubitavelmente menosprezam o poder da fé, ignoram de fato o que ela pode criar e o que a sua ausência pode destruir.

  Homens e Deuses não tem nada em comum.  A sabedoria de um Deus é a pura e perfeita simplicidade de suas decisões que são tomadas com tamanha clareza e cautela, ao mesmo tempo com sagacidade e sensatez. Humanos são movidos pelo bater de um coração, pelo bombear do sangue, pelo desejo intenso por um ultimo gole de vida. São apenas máquinas movidas por ansiedade e presunção, nada mais são que crianças a procura de um novo brinquedo, sempre em busca de chaves, segredos e códigos, e mais e mais, sem perceber que sempre tiveram tudo o que precisavam para sobreviver em paz.

  Realmente esse é um texto complexo, escrito por uma mente dúbia e cínica. Do que realmente se trata? Não basta apenas entender, primeiro você deverá asilar cada uma das realidades propostas nesse apinhado de letras abstrusas, intensas e alienadas. Esqueça-se que sou um mero escritor cheio de propósitos, sonhos e qualquer outro desejo mais. Saiba apenas que sou o demônio despido de qualquer maldade, apenas estou aqui para lhes dar uma ultima chance para salvar um pai que esqueceram, assim como o fiz.
 
Não vivo mais, pois não precisam de mim para espalhar o mal, ele é maior do que eu, sempre foi e sempre existiu. Eu, bem, fui apenas mais uma cobaia, uma simples e mera cobaia.


  Então, a vida é assim, e a morte? Hum, a tal da morte sempre nos prega peças, peças de um quebra cabeça abstruso. Não procure a imortalidade, quiçá um dia ela acabe te encontrando e tua dor poderá ser eterna.

Fim!

Sejam sempre bem vindos!

Espero que entendam minha crítica , e óbiamente  o texto nada mais é que pura ficção, visto que não me prendo a esse tipo de idéias e até as repugno.

Bem, quando o Luciano nos propôs escrever sobre lendas, estórias, e coisa e tal, logo me veio a mente essa figura que para mim nada mais é que uma fantasia, uma lenda mesmo, uma estória inventada há anos, e pensando bem, quantas verdades não são apenas mentiras bem sustentadas. Portanto por que não brincar um pouco com essa estória e fertilizar a imaginação? 


No mais, espero que tenham gostado.
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 15/05/2013
Reeditado em 15/05/2013
Código do texto: T4292248
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