Cybele III

Era sábado, a manhã estava nublada, apesar de na noite anterior terem bebido apenas sangue animal ainda se sentia um monstro, mas com Saturn a seu lado não pretendia desistir...

Precisava, primeiramente, se encontrar, pois se sentia perdida. Foi até o parque da cidade, sentou embaixo de uma grande árvore e respirou profundamente, mesmo que o ar já não fosse tão importante para ela, era bom poder fingir que o ato de inspirar enchia de vida seus pulmões. Recostou a cabeça sobre as mãos, ficou ouvindo o som dos pássaros, fechou os olhos...

Seu sossego foi repentinamente perturbado por um silvo alto, que doeu os ouvidos, não podia distinguir de que lado vinha, mas era tão forte que quase caiu desfalecida na grama. O som logo tomou forma, era uma voz finíssima que dizia em uma melodia irritante: “Pagas o preço, o peso do berço que traz a desgraça, e a maldição não passa, amargando como fel, absinto cruel, lasciva sede que domina e rende, loucura e lassidão” repetia milhares de vezes, sempre aumentando o tom, seus tímpanos zumbiam, tapou, em vão os ouvidos, parecia sair de sua cabeça!

-Algum problema com você?-sentiu um toque em seu braço, levantou os olhos.

O som neste instante foi interrompido.

-Não... Está tudo bem... Não se preocupe... -o homem, que antes sorria, agora a olhava com a volúpia para ela.

-Você parecia estar sentindo alguma dor, quer que te acompanhe a um medico? -olhou-a de alto a baixo- Ou quer ir tomar alguma coisa, em algum lugar...

Ficou observando-o, sentia uma vontade indescritível de segui-lo, era mesmo um monstro, então o que poderia um homem comum fazer de mal a ela?

Chegaram a um bar, sentaram-se no balcão, começaram a conversar. O assunto fluía, pois de algum modo inexplicável ela conseguia prever o que ele iria dizer, forjando assim afinidades. Quando ele pôs e mão em sua perna ela sorriu, porém olhou para o relógio depressa e disse que estava atrasada para um compromisso:

-Talvez pudéssemos marcar algo pra mais tarde, para terminarmos esta - olhou para a mão dele em sua perna provocantemente - conversa...

Foi para casa com um sorriso no canto dos lábios, mesmo atordoada com as estranhas palavras que ouvira no parque, não poderia deixar de pensar no que a noite reservava. Contou para Saturn, e combinaram de dividir a vitima. Falou também sobre a voz, ele ficou em um silencio mórbido, cenho franzido, olhar perdido em algum ponto no chão.

-É a profecia, geralmente dada em versos e cheia de metáforas, que condena as gerações do amaldiçoado. A palavra não se perde, continua existindo e circulando pelo cosmo a partir do momento que é proferida, você pôde ouvir a voz do passado...

Deixou-a atordoada, pois falou em loucura, lasciva sede, algo amargo... , já sentia tudo aquilo, mas o que não sabia era quanto tempo duraria...

***

-Nossa! Como você está linda!

-Obrigada...

Ele a envolveu pela cintura.

-Vamos a um café que tem aqui perto, é um ótimo lugar... -ela sorriu se resignando a segui-lo.

Ele era divorciado, tinha 35 anos, 13 a mais que ela, tinha 2 filhos, trabalhava em uma empresa de telecomunicações, alem de muito bonito parecia uma pessoa séria, quanto mais o tempo passava mais se afeiçoava a ele, se arrependendo do combinado com Saturn de sugar a vida do pobre. Quando ele virou para chamar o garçom para encher seu copo notou uma tatuagem na nuca dele, era uma suástica, ficou possuída por um ódio mortal, quem se atrevia a carregar uma marca destas!

-Estou ficando tonta, melhor não beber mais...

Ele sorriu e propôs, o que queria desde o inicio:

-Vamos até meu apartamento, podemos ouvir musica e conversar um pouco mais.

Quando chegaram, mal esperou entrar pela porta, começou a agarrá-la, tirando sua blusa e começando a lamber um de seus seios, enquanto suas mãos corriam livres por toda a pele, agora pálida, de Cybele. Quando olhou para aquele pescoço, e viu claramente veias e artérias levando sangue pelo corpo excitado do homem foi tomada pela sede incontrolável, rasgando-o com suas novas garras. Ele tentava se afastar assustado, muito tarde.... O sangue, que já jorrava para dentro de sua boca, exalava seu doce aroma, atraindo Saturn que a tinha seguido e só esperava o momento oportuno. Deleitaram-se no elixir carmim de um maldito, poderia um monstro achar justo tirar a vida de alguém por causa de uma idéia do passado que ainda inspirava maldade?

T Sophie
Enviado por T Sophie em 28/03/2007
Reeditado em 29/03/2007
Código do texto: T429212
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