Hospital do Horror

O ano era 1839. Na cidade de Génova o índice de morte por infeção era grande. Com a escassez de profissionais na área da saúde, o hospital da cidade era atendido por um único medico.

O “Hospital das Graças” como era chamado, além do atendimento servia também como maternidade, e era ali na ala da maternidade que o numero de óbitos era assustador.

Carlos era um dos poucos enfermeiros do hospital. Rapaz simpático de 28 anos, tinha passado por maus bocados até conseguir aquele emprego. Era um simples zelador até o dia em que o doutor Antunes o chamou em sua sala e sem rodeios, depois de mandar ele sentar-se, falou:

- Carlos, é esse o seu nome, Certo?

- Sim, doutor. - Respondeu Carlos cabisbaixo e temeroso de perder sua única fonte de renda, que servia para alimentar sua invalida mãe e mais dois irmãos menores.

- Carlos, venho notando seu serviço e percebo que é um rapaz esforçado, nunca pensou em ser um médico aqui no hospital?

- Como doutor? Eu mal sei assinar o meu nome, jamais conseguiria estudar em uma cidade grande!

- Você sabe que aqui nesse hospital eu sou o medico, o diretor e administrador, portanto, minha palavra aqui é lei. Se eu assim quiser, amanhã mesmo você passa a ser meu auxiliar, o que você acha?

Sabedor que nada nunca veio de graça pra ele, imediatamente Carlos perguntou:

- E o que eu teria que fazer para chegar tão longe doutor?

Levantando e dando a volta em sua mesa, o doutor Antunes postou-se atrás dele, e pousando uma mão em seu ombro falou.

- Eu sabia que você é um rapaz inteligente, e como todo homem inteligente deve saber também que a proposta que lhe farei agora deve ser mantida no mais absoluto segredo. Sim?

- Claro doutor, pode falar. Se eu achar que não serei capaz de atende-lo como deve ser, de certo esquecerei o assunto assim que cruzar aquela porta.

- Pois muito bem Carlos, você já deve ter ouvido por ai boatos de que o numero de óbitos na ala da maternidade esta grande, e como homem da ciência, tenho que estudar e descobrir o que estar causando esta infecção. Só que para estudar, eu necessito de material, e é justamente esse material que a lei não me dá direito.

Carlos não tinha ideia de onde o medico queria chegar, mas sabia também que se não fosse capaz de realizar o que o médico queria, sua demissão era certa. Interrompendo o discurso do doutor ele perguntou:

- Desculpe doutor, mais como eu, um simples enfermeiro posso ajuda-lo em um assunto tão serio?

- Calma rapaz, eu já estou chegando lá. Veja bem, as mulheres que vem morrendo de parto, geralmente tem família e jamais doariam o corpo para estudo. - Depois de uma pequena pausa ele continuou. - Eu preciso que você consiga alguns corpos. Não é difícil, você só precisa ir até o cemitério na mesma noite em que o corpo foi enterrado, desenterrar e trazer para o meu laboratório.

Carlos até pensou em dizer não e sair daquela sala. Apesar de pobre, sua mãe o criou na igreja. E a igreja dizia que profanar um tumulo era pecado, sem contar que... Se a lei não estava do lado do doutor, com certeza também não ficaria do lado dele se fosse pego.

Mas a necessidade sempre fala mais alto, e quando doutor Antunes falou quanto pagaria por cada corpo, Carlos selou o acordo com um aperto de mão.

Desde aquele dia já tinha se passado três anos e nada da doença ser descoberta. Para desenterrar os corpos ele contava com a ajuda de um velho bêbado que era dono de um boteco e vivia eternamente reclamando de tudo. Os corpos que eles desenterravam geralmente eram enterrados a tarde e se fosse da vontade do doutor, a noite era desenterrado e entregue no laboratório do medico, um lugar que não passava de uma sala nos fundos do hospital!

Na mesma noite antes que amanhecesse o dia, o velho bêbado encostava sua carroça nos fundos do hospital e juntamente com Carlos levava o corpo de volta para seu descanso eterno.

Certa vez chegou uma moça de seus 18 anos em trabalho de parto. Depois da moça ser recebida pelas madres voluntarias do hospital, Carlos foi chamar o doutor que estava terminando de almoçar. Levantando da mesa o medico se dirigiu a enfermaria onde a jovem mãe se contorcia de dores.

Carlos já tinha percebido que o doutor não usava luvas ou até mesmo lavava as mãos para fazer os primeiros exames na parturiente. Mais uma única vez que perguntou sobre o assunto, foi severamente repreendido pelo mesmo, que fez questão de lembrar que ele não passava de um enfermeiro desinformado.

Dessa vez não foi diferente, sem cerimonia ele levantou o lençol que a cobria e com as mãos em pelo e sem nenhuma higiene, fez os primeiros exames e da mesma maneira grosseira que entrou na enfermaria saiu depois de dizer que a criança ainda demoraria a nascer.

Naquela tarde Carlos passou todo o tempo ao lado daquela jovem, tentando lhe dar conforto. Lá pelas 10hs da noite ele foi chamar o medico dizendo que a moça estava com uma grande hemorragia.

As 11hs o medico saiu da enfermaria para assinar mais um óbito, naquela semana essa já era a segunda mãe que morria. Depois de assinar o atestado de óbito o medico chamou Carlos e falou:

- Quero esse corpo Carlos, com certeza ele vai ser enterrado só amanhã a tarde, procure desenterra-lo o mais cedo possível, quanto mais rápido eu estuda-lo mais chances eu tenho de descobrir este mal!

Já passava da meia noite quando Carlos pulou o muro do cemitério. Como sempre o velho bêbado não o ajudava em nada. Sua participação era só no transporte do cadáver em sua carroça. Para ele não passava de um aluguel como outro qualquer.

O esforço para cavar não amenizava o frio. A cada pá de terra que jogava pro lado, se amaldiçoava por mais uma profanação. Estava sempre jurando que seria o ultimo, porem sempre que olhava pra traz, via sua mãe e seus irmãos menores, hoje vivendo com o mínimo de dignidade por conta dessas extras que recebia.

No laboratório doutor Antunes estava impaciente! Nunca tinha desejado tanto uma mulher como desejava aquela. Ultimamente vinha meio receoso, Carlos já tinha percebido que ele fazia os exames sem o mínimo de higiene. Apesar do respeito que a cidade mantinha por ele, caso fosse descoberto que as infecções eram provocadas voluntariamente, ia ter que contar com muita sorte.

Depois de deixar o corpo da jovem mãe em cima de uma larga pedra de mármore, Carlos, como sempre fazia se despediu do medico e saiu.

Correndo até a porta, doutor Antunes passou o ferrolho sem esperar que a carroça se afastasse levando os dois violadores.

Com um puxão tirou o lençol branco ainda sujo de terra que cobria o corpo e sem nenhum pudor, arrancou o largo vestido que a moça tinha sido enterrada.

- Há... Como és perfeita! Ainda mais bonita que as outras! - Sussurrava enquanto alisava o corpo com uma mão e com a outra tirava sua própria calça.

O ato sexual tinha sido um dos melhores para o medico psicopata, pela primeira vez ele usou o corpo rígido por mais de uma vez. Mesmo depois de saciado, continuou ali parado apreciando o cadáver violado.

Já tinha amanhecido a muito tempo e doutor Antunes estava preocupado, pela primeira vez Carlos não tinha vindo recolher o cadáver para levar de volta ao seu tumulo como sempre fazia.

Depois de tomar um banho e um café forte, estava saindo para a visita diária de seus pacientes quando ouviu batidas na porta.

-Só pode ser aquele incompetente! Com certeza deve ter adormecido e agora veio saber como fazer para transportar o corpo a luz do dia.

As batidas voltaram a ser ouvidas, mas agora ainda mais fortes.

Caminhou já certo do que diria ao imbecil.

Mas sua surpresa foi grande ao se deparar com quatro policiais que sem deixarem ele dizer nada., deram voz de prisão:

- Doutor Antunes, o senhor estar preso por provocar mortes de jovens parturientes, profanar, violar e ocultar seus corpos.

Não sabia como tinha sido descoberto, mas sabia que de momento o melhor era se manter calado e seguir os policiais.

Na chefatura de policia, Carlos encontrava-se algemado em uma cela suja e fedida. Não podia acreditar. Como nunca desconfiou que a policia estava investigando os túmulos violados?

Na noite anterior, antes de chegar em casa, tinha sido abordado e sem direito de defesa foi jogado em uma carroça enjaulada e transportado para a chefatura. Não pensou em negar, ele tinha sido seguido e quando a autoridade maior chegou para colher seu depoimento não pensou duas vezes. Contou toda a verdade, desde o dia em que foi contratado para o cargo de auxiliar do doutor Antunes.

Eles não chegaram ao carroção que o conduziria a delegacia, quando uma população enfurecida e munida de foices e inchadas, tomou o doutor aterrorizado das mãos dos quatros policiais que o conduzia a chefatura, e em menos de 5 minutos, tudo que restava do único medico daquela cidade era uma grande massa deforme, coberta de sangue na rua empoeirada.

Era meio dia quando o guarda foi levar o almoço de Carlos na cela. Seus olhos não acreditava no que estava vendo. Pendurado em uma viga do telhado, o vento que entrava por uma janela gradeada balançava o corpo do rapaz que estava com o rosto roxo e a língua pra fora...

Cecilia Davila
Enviado por Cecilia Davila em 11/05/2013
Código do texto: T4285629
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