"a bola de fogo misteriosa"
Há um tempo atrás, lá prás bandas do Riacho dos Campos – lugar encravado no Norte das Minas Gerais – pacato e muito especial pelo povo que lá vive; humilde e acolhedor; tendo a vocação para organizarem festejos e quermesses. Sempre torciam para que algum morador local, promovesse um evento a movimentar o lugarejo, que por sinal, já carecia algum tempo. Pois bem... Uma situação bem inusitada e depois tornou–se hilária. Tal caso ficou conhecido como “a bola de fogo misteriosa”. Nas rodas de conversas e nas reuniões locais, sempre o acontecimento esteve como pano de fundo.
Em abril de dois mil, quando ocorria uma festa de comemoração da família na fazenda Taboquinha do Sr. Pedro de Mariinha, a comunidade marcando presença, lá estava – mesmo porque, falou em festa, era uma alegria só – muita gente do comércio compareceu e das roças vizinhas também. Algumas pessoas, chegaram mais cedo para ajudar na preparação; outros, somente para aproveitar mais da farra prestes a acontecer. Eh! Festa animada o foguetório é indispensável; fogueira, comida típica e a famosa “caninha”, também conhecida por: canjimbrina, pinga, poca olho, incha pé e outros nome bem sugestivos; lambicada lá mesmo na propriedade do Sr. Pedro; a paçoca então! Hum! De primeira... uma pimentinha para dar o sabor ainda mais acentuado; uma delícia... O som, foi contratado para tocar até “raiá o dia”; sanfoneiro dos “bão”, teclado, violão, zabumba e triângulo; uma verdadeira banda de forró de pé-de-serra. Quem iria gostar dessa festa na roça era minha amiga engenheira; mas isso é uma outra conversa... As mocinhas – algumas – tímidas, debutando na festa, um contentamento. A animação era real, tanto dentro, quanto fora da casa. Casais também balançavam o “esqueleto” e se divertiam muito. Ainda acordadas, algumas crianças aprontavam correndo o tempo todo; mesmo que o horário já estivesse avançado para crianças. Alguns adultos se aconchegavam junto a fogueira abrasiva e cuspindo fagulhas intensas. O terreiro – pátio – onde acontecia a festança, fora bem limpo para acomodar as pessoas e muito espaçoso também, proporcionando alojar montarias e alguns veículos – poucos – mas veículos, já bem usados... bastante usados... mas eram veículos... E a festa continuava... e animada transcorria... Lá para às tantas horas mortas – depois da meia noite – quando as crianças já dormiam e os adultos – alguns – cansados pediam pouso e adormeciam, mesmo com todo aquele barulho; outros apimentados demais, não demonstravam cansaço. Pelos escuros, alguns casais faziam juras de amor e apreciavam a lua que de tão linda e clara, teimava em não se esconder. Perto da fogueira, João Carlos e Tonho de Manel, “proseavam” lembrando do passado e das coisas vividas quando mais jovens. Vez em quando, um estalo vindo da fogueira, lembrava-os de apontar as palmas da mão para a fogueira para aquecê-la e quando aquecidas, esfregá-las umas nas outras, diminuindo a intensidade do calor e a prosa continuava... Perto da sede da fazenda, bebericando e falando de futebol e mulheres, Velton - homem humilde, casado e pai de filhos, negociante dali perto mesmo e muito gozador, brincalhão, buscava nas coisas, situações, motivos para tirar um “sarro” de tudo – Zequinha – também pai de família, porém mais moço que o amigo, tinha nas brincadeiras do Velton, motivo para alegrar-se e compartilhava conjuntamente - conversavam alegremente e vez por outra, comentavam de nuances da festa. Naquele instante, aparece uma bola de fogo misteriosa e enorme, deslocando rapidamente pela frente da casa. Ficaram paralisados; todos... Os mais temerosos, correram para dento da casa; os pseudos corajosos; ficaram ali, observando. Os mais velhos, sem condições de correrem uma vez que a “perna acabou”, ficaram ali, parados, atônitos. Vendo que ninguém iria verificar o que era aquela bola de fogo, o Velton cutuca seu amigo Zequinha, e falando baixinho diz: “cumpadre, vamo lá ver o que é aquilo”? O compadre não se fazendo de rogado, concorda imediatamente. Momento em que o Velton diz ao pessoal: “gente, nós vamos lá ver o que foi aquilo”. Alguém mais quer ir? Silêncio... ninguém responde e nem arrisca a acompanhá-los. O Velton então, fala: “vamo lá cumpadre pegá aquele pote de ouro”! E partem em direção da bola de fogo misteriosa. O “cuchicho” é inevitável: “eles são doidos, pegar pote de ouro! E se lá tiver um “trem” de outro mundo? Crem Deus Pai”! Velton, como sempre fora preparado; lançou mão da lanterna que carregava no alforge da sela e rumaram... Lanterna na mão apontando para a direção da bola de fogo misteriosa, andaram por um tempo na perseguição e quando aproximava, a “bola” rompia... Velton e Zequinha, depois de caminhar um bom pedaço, resolveram voltar e deslocaram em direção à casa da fazenda. Ao retornar, o pessoal curioso se aglomera ao redor da fogueira e ele, Velton, faz mistério para contar o que havia acontecido. Uma senhora no meio da turma, desesperada brada: “Ô ome, conta logo! Fala o que se sucedeu lá!” Velton com gesto calmo e coordenado, espalma as mãos verticalmente, dando a entender para terem calma e esperar que iria contar. Fez “caras e bocas” e com um gesto, solicita a presença do amigo Zequinha ao seu lado e começa: ”Pois é gente! Eu e Zequinha, andamo um tempão atrás daquilo. De vez em quando, ela parava, ficava rodano e saía de novo. N´um foi Zequinha”? O amigo com o gestual de cabeça, confirma a sua fala. Que mais? Pergunta ansiosa D. Lindaura. Tá, vou continuar... continuou Velton: “A bola de fogo tinha uma claridade muito forte, uma luz que atrapalhava as vistas. Aí... saiu uma voz de dentro da bola de fogo; nós ficamos impressionados; nessa hora deu medo. N´um foi Zequinha”? Foi Velton, diz o amigo. E a voz continuava falando: “vão embora e volta aqui na quarta-feira santa, em horas mortas – depois de meia noite – vão passar muitas dificuldades”. Nesse momento, apareceu um enxame de marimbondo e a voz repetia: “Não insistir, hoje não”! Na quarta-feira depois das horas mortas”! “Aí, nós esperamo um pouco e a bola saiu rápido e sumiu. Saimo devagar e viemo para cá, sem querer contrariar”. A turma, de boca aberta, aguardando mais informações... curiosos e querendo perguntar, mas não sabiam por onde começar; ficaram ali, um olhando para o outro. Em meio ao silêncio, um dos ouvintes, “Zé da cana”, aproxima – o bafo de cana era latente – e em tom alto e com ciúmes, pois a atenção naquele instante era toda para o corajoso caçador da bola de fogo, dirige-se ao Velton e derrubando uma mesinha de madeira que estava logo ali, dizendo: “pros cês vê; vem um pião aqui, nem tem um torrão de terra debaixo da unha e vem querer explorar nossa região”! Nervoso, continuava jogando insultos aos dois caçadores de bola de fogo. Vendo a possibilidade de achar o “pote de ouro”, o Zé da Cana cresceu o olho no negócio e deveria expulsar os intrusos. Silêncio... minutos se passaram e evitando problemas, Velton e Zequinha resolvem ir embora, ainda que muitos fossem contrários a decisão. Agradeceram aos anfitriões, despediram dos demais, partiram em direção às montarias que estavam do lado esquerdo do curral, apertaram as selas, montaram e foram em direção à estrada. Depois de alguns metros, Velton dá uma olhada para trás e, ainda vê algumas pessoas em torno da fogueira. Chegando na terceira curva da estrada que dava acesso a um povoado chamado Ermita; logo perto de uma arueira frondosa, os dois pararam e debruçaram em cima da sela em risos... O Velton de tanto rir, quase cái de cima do cavalo. Zequinha, desce e puxa o animal pelo cabresto e Velton repete sua cena e os dois a pé, caminham “rachando de rir” da brincadeira que pregaram da turma. Os comentários são inevitáveis: “Cê viu Zequinha, a cara deles”? Sorrisos... apenas sorrisos... Zequinha tirando um “sarro” da situação: “E João e Tonho; viu as caras deles? Assustados com medo da bola de fogo voltar”? Risos e mais risos, até “rachar”... e andaram... sorrindo... muito...
Nota: Descobriram a brincadeira; todos ficaram chateados e revoltados com os dois. Não puderam mais aparecer naquela fazenda. O comércio de Velton... reduziu bastante seu movimento. Caso queiram conhecer o comércio de Velton e ele contar o caso pessoalmente, é só ir até às margens da BR-135, Km 40, Riacho dos Campos - Montes Claros \ Januária – MG. Por muitas vezes estive lá tomando uma cervejinha e comendo um tira-gosto – linguicinha de porco – e sorrimos muuuuuito....