O Erro
O suor parecia não lhe incomodar e os dedos continuavam a se mover em um ritmo frenético ao passo de que o olhar continuava fixo na tela do computador. Depois de trinta minutos de puro frenesi o homem finalmente parou um pouco e fechou os olhos, a dor de cabeça estava insuportável.
Quando por fim levantou da cadeira, olhou ao redor e se deparou com uma cena intrigante. Centenas de pessoas estavam sentadas de frente a computadores, todas aparentavam estar bastante focadas no que faziam. Telões gigantescos e milhares de fios completavam a cena digna de uma base tecnológica.
Rafael seguiu em direção à máquina de café, apertou alguns botões e logo estava bebendo um cappuccino. Pôs-se a pensar em sua vida e como a mesma havia mudado nos últimos meses, o rapaz havia dado um grande salto em sua carreira profissional. Passou de um mero professor de física para empregado do governo americano.
Dois anos antes de começar a trabalhar para o governo, escreveu um livro explanando uma teoria sobre a composição do universo. No escrito, afirmava que o Big-Bang não havia simplesmente criado infinitas galáxias, mas também infinitas dimensões.
O “As Outras Terras” foi ridicularizado por todos os profissionais da área científica, chamavam Rafael de louco, mas pouco tempo depois da publicação o professor recebeu um telefona de um número estranho. Atendeu e assustou-se quando a voz do outro lado revelou que presidente precisava de seus serviços. O governo precisa de mim? Poucas horas depois estava em um voo para a área 51.
Lá encontrou coisas que jamais havia imaginado existir.
-Cara, você precisa parar de tomar café, vai afetar seu intelecto. Disse uma voz, tirando-o dos devaneios.
-Hm? Ao virar a cabeça em direção ao som reconheceu Danilo, um militar.
-É sério, você precisa parar de tomar isso e dormir um pouco.
-Não tenho tempo para dormir, o portal precisa estar aberto até o eclipse.
-É, mas se você morrer não vai adiantar nada abrir esse tal portal. Disse o tenente, enquanto retirava o copo das mãos do homem e o puxava pelo braço, em direção aos corredores da base.
-Tá, tá. Dizia, enquanto era puxado. Quando por fim chegou ao seu quarto, passou o cartão de identificação em uma máquina e a porta abriu.
-Vê se dorme. Falava Danilo, enquanto saia.
Assim que deitou na cama o cientista adormeceu, não dormia há mais de vinte e sete horas.
(...)
-Você não acha que estamos indo longe demais?
-Está com medo? Não foi treinado pra isso.
-Não é medo, senhor . É receio do que pode vir a acontecer.
-Nada de mal vai acontecer, agora vá Danilo. Disse o general, enquanto abaixava a cabeça e começava a assinar uma papelada.
-Humpft. Ainda resmungou antes de girar os calcanhares e começar a caminhar em direção à saída.
Danilo tinha apenas vinte e dois anos, mas já era considerado um homem de confiança, quando completou dezoito o magricelo rapaz alistou-se para o exército Americano. Depois de sofrer bullyng dos outros por sua estrutura corporal visivelmente frágil, foi destaque no programa de treinamento.
A força vem de dentro, dizia aos outros sempre que riam dele.
Quando foi convidado para participar do projeto 57, não chegou nem mesmo a ler o relatório. Estava certo de que estava ajudando a nação.
Agora já não tinha mais tanta certeza.
O fato é que nos últimos dias estava percebendo o quão perigoso o plano estava se tornando, todos os dias pessoas se machucavam na tentativa de criar alguma coisa qualquer que o militar não entedia bem.
Física nunca foi bem seu forte.
(...)
O som penetrou os ouvidos com facilidade e despertou seus sentidos de maneira brutal. O salto proferido foi consequência do susto provocado pelo alarme, o rapaz não demorou muito para perceber o que estava acontecendo.
Com um sorriso no rosto vasculhou o quarto e vestiu as primeiras roupas que encontrou. Pouco tempo depois estava no grande saguão, onde uma estrutura circular e metálica disparava descargas elétricas em todas as direções.
-Conseguimos? Gritava, pra um colega de profissão que estava digitando freneticamente em um computador.
-Sim, a AntiMatéria foi fabricada em quantidade suficiente.. Mas só vai durar alguns segundos. A explosão vai ser grande!
Rafael correu em direção à cabine de segurança e esperou os outros. Todos os cientistas que entraram estavam sorrindo, pareciam partilhar de um mesmo sentimento.
Estavam trabalhando no projeto 57 há meses e só agora tudo estava pronto. Partiram do principio do “As Outras Terras” e iniciaram a construção de um portal para outras dimensões, depois de muito tempo analisando as possibilidades resolveram optar por utilizar a antimateria.
A ideia era chocar antimateria com matéria, e produzir uma energia tão forte que abriria um portal para outra dimensão conhecida como “57”. Lá esperavam encontrar fontes de energia ilimitada para a fabricação de armas e para o uso urbano.
Mas a realidade foi bem diferente.
(...)
O som e a luminosidade fabricada pelo choque das partículas foram absurdamente altos. Depois que o branco parou de lhe ofuscar, o físico abriu os olhos lentamente e viu uma coisa realmente fantástica e bonita.
Do centro do círculo de metal, uma espécie de energia roxa emanava alguns feixes de luz negros que tomavam formas geométricas e dissipavam no ar. Tomado pela curiosidade, abriu a porta e seguiu em direção á exuberância colorida.
-Então é isso? Conseguimos? Perguntou, a qualquer pessoa que estivesse escutando.
-Acho que si.. As palavras foram interrompidas quando um ser saiu de dentro do buraco e caminhou em direção ao centro do pátio. A criatura tinha feições humanas mas seu corpo era completamente preto e recoberto por escamas brilhantes.
-Olá humanos. O tom de voz era extremamente alto e grave, parecia que falava através de um megafone.
-Q-Q-Quem é você?
-Meu nome é Demetrius e eu venho do que vocês chamam de “Dimensão 57”.
O silêncio foi compartilhado por todos e logo o alienígena estava falando novamente.
-Acredito que foi um erro tremendo da parte de vocês abrir o portal. Existem coisas que devem ficar separadas.
-C-Como assim? Danilo foi o único com coragem suficiente para falar. A gagueira chegava a incomodar.
-Bem, nossos mundos já foram unidos uma vez, há muito tempo mas alguns decidiram que as coisas deveriam se separar. Vocês sabem.. meus filhos não deixariam que o seu mundo desenvolvesse e decidimos nos separar no que vocês chamam de “Dimensões”.
-Vocês quem? O soldado começava a caminhar em direção ao visitante, um brilho podia ser visto em seus olhos.
-Ora, quem mais poderia ser? Nós..Deuses!
Mais uma vez o silêncio tomou conta do local e Demetrius voltou a falar.
-Vocês humanos se acham muito inteligentes, mas não entendem que são uma das raças mais novas que existem no universo. Aliás, acho que vocês são a mais nova.. As de marte acabaram morrendo com o tempo.
-Existem outros como você? Perguntou Rafael, que pareceu ter se recuperado do trauma.
-Sim, alguns. A maioria morre quando suas dimensões são destruídas..
-E quem está destruindo as dimensões?
-Elas se destroem com o tempo. Guerras, fome, pobreza e desigualdade são os principais fatores.. É o que vai acontecer com vocês, daqui a um tempo.
-Como sabe disso?
-Garoto..eu criei vocês e conheço sua natureza... Mas vamos encerrar a conversa, acabo de perceber que minha criação é ainda pior do que eu imaginava. Está na hora de conhecer meus novos filhos! Assim que terminou de falar, o ser levantou os braços e imediatamente dezenas de monstros passaram pelo buraco.
As criaturas eram completamente brancas e tinham o corpo recoberto por placas brilhosas ao passo de que um par de asas ocupa as laterais de suas colunas. As primeiras investiram contra os cientistas mais próximos e logo estavam comendo os mesmos.
-CORRAM! O rebuliço provocado pela aparição foi tremendo, dezenas de soldados atiravam contra as criaturas, mas as mesmas esquivavam das balas com facilidade e logo estavam utilizando suas pontiagudas unhas para mutilar quem estivesse em seu caminho.
Por fim Danilo conseguiu atingir um monstro na cabeça, o soldado já estava rindo quando um grunhido ecoou por todo o salão. Dezenas de monstros, ainda maiores que os anteriores, invadiram o recinto.
Cabeças rolavam pelo chão ao passo de que membros eram jogados de um lado para outro enquanto o sangue pintava as paredes brancas como se fossem uma tela branca. Depois de alguns minutos não restou nada além do cheiro de morte.
-Acabem com o resto. Disse o Deus, antes de passar pelo portal.