PSICOSE OU CIUME
Se eu houvesse escutado minha voz interior jamais teria
me envolvido com ele. Jamais teria confiado minha vida a
ele. Mas era tarde para voltar, era preciso fazer algo.
Precisava deter aquele insano que me acoitava sem pena.
O doce sorriso do primeiro momento dera lugar a frieza de
um carater pertubado. A nossa casa era fria como seu
coracao. O primeiro ano fora o melhor, sim o mais
fantastico de minha vida. Mas logo que eu engravidei tudo
ruiu, minha paz fora arrancada. Lembro me como hoje de
como suas surras se tornaram frequentes. Lembro me da
noite em que a tempestade batia na janela, e ele estava
mais calado que o normal. Moravamos num sobrado, eu
estava no andar superior quando ouvi ele me chamar.
Dirigi me ate as escadas, eu mal podia caminhar, minhas
costas doiam terrivelmente. De repente no segundo degrau
senti algo me empurrar, mal tive tempo de segurar o
corrimao e rolei escada abaixo. Os vinte degraus agora me
pareciam bem mais, minha cabeca foi batendo, em vao
tentei proteger minha barriga. Nao sei quanto tempo
fiquei desacordada, quando acordei ele estava parado ao
meu lado. Parecia um demente, rindo, um riso diabolico
ecoando pela casa. Nao conseguia me levantar, mal
conseguia me mexer, tudo que consegui foi implorar para
que chamasse uma ambulancia. Nao sei quanto tempo fiquei
ali, mas, quando o socorro chegou entrei em choque.
Acordei dias depois no hospital, as enfermeiras, os
medicos nao cansavam de me cumprimentar pelo marido
atencioso e preocupado. Ele havia adquirido uma nova
personalidade, na frente de todos era generoso, amoroso,
mas quando ficavamos sozinhos ele se transformava.
Eu havia perdido meu bebe e tudo o que ouvi dele fora
que eu era so dele, de ninguem mais. Estava aterrorizada,
o pavor me imobilizava. Quando voltamos para casa ele me
privou de tudo. A aqueles que nos iam visitar ele alegava
que eu estava com uma depressao profunda, devido a perda
prematura de nosso filho. Mas na verdade ele me mantinha
em carcere privado. Todas as vezes que eu tentava afronta
-lo ele me batia, suas surras se tornavam cada vez mais
frequentes. Eu nunca sabia o que falar, o que fazer pois,
a ira que o possuia me dilacerava a carne. Os hematomas
estavam em todo o meu corpo, minha face de tracos
delicados, agora traziam cicatrizes das pancadas diarias.
Fora numa noite durante o jantar quando ele me pediu que
lhe preparasse um cafe. Eu havia colocado po a mais
deixando a bebida forte, ele se levantou irado e veio em
minha direcao. Agarrou me pelo pescoso, podia sentir suas
maos me estrangulando, meu corpo inerte no ar.
As lagrimas escorriam por minha face, eu tremia, de
repente ele me arremessou contra a mesa de vidro, meu
corpo espatifou o vidro. Podia sentir cada lasca do vidro
entrando em minha carne, uma dor aguda me dilacerando.
Mesmo assim ele nao parou, veio em minha direcao e
comecou a me chutar, sua ira o havia eloquecido.
Como um animal acuado fui me rastejando, ate um canto da
lareira, num lapso de loucura agarrei um espeto que
usavamos para mecher o carvao para aquecer a casa em dias
frios. Ele veio com o olhar em chamas de odio que jamais
comprendi, num gesto de desespero cravei o espeto em seu
peito, ele caiu, mas me agarrou pelos cabelos.
A dor e o desespero de ver a morte iminente diante dos
meus olhos me fez reagir. A dor que eu sentia nao era so
fisica, era na alma por um dia ter o amado. Num gesto
brusco enfie novamente o espeto em seu peito, cravando
ate que ele tombou a cabeca e sua boca sangrou.
Seus olhos estavam esbugalhados presos a mim, fui me
arrastando ate o telefone e chamei socorro. A policia nao
tardou a chegar, e quando eles chegaram ele estava morto.
Fui levada para o hospital, eu tinha fratura de maxilar,
hemorragia interna com romptura do baco devido aos chutes
e muitos cortes pelo corpo.
Quando fui prestar esclarecimento na delegacia o caso
fora arquivado, alegacao legitima defesa.
Por muito tempo carreguei o fantasma daquele homem, porem
eu havia me libertado.
Resolvi queimar a casa onde vivi os sete piores anos de
minha vida, resumindo tudo em cinzas.
Assim eu havia rompido com meu passado e estava preparada
para recomecar e encontrar minha felicidade.
CAMOMILLA