Nem tudo é o que parece ser !

Eles formavam um lindo casal, se conheceram no primário da escola, e cresceram juntos, namoraram e se casaram. Tiveram filhos, que também cresceram e se casaram.

Eram um exemplo de vida. Sempre unidos.

Mas com a idade chegando chegam também problemas de saúde.

E ela acabou adquirindo uma doença degenerativa que a deixou presa em uma cadeira de rodas, e totalmente dependendo do marido. Aos poucos foi perdendo os movimentos bem como sua capacidade de falar.

Ele fazia tudo por ela, a tratava como um princesa. Sempre preocupado com seu bem-estar.

Em uma manhã de sábado, ela não acordou. Ele ficou inconsolável. A luz de seu sol deixou de brilhar. As flores de seu jardim não mais se abriram.

Raramente saia de casa. Seus filhos queriam levá-lo para morar com eles mas ele não aceitava.

Dois meses. Esse foi o tempo que ele viveu sem ela.

Foi encontrado morto no sofá da sala. Seu coração não suportou a falta de sua amada.

Bem, essa é a história que todos ficaram conhecendo, mas seria isso mesmo o que teria acontecido??

Ou teria outras versões...??

Aquele doce casal teria outra versão.....

Simplesmente se odiavam, mas preferiram enganar a todos à sua volta.

Longe dos olhares, trocavam desaforos, palavras cruéis e maldades indescritíveis.

Quando ela acabou doente em uma cadeira e dependente dele, sua vida virou um verdadeiro inferno. Ele a maltratava, xingada muito, e ele não podia mais reagir e revidar. Estava presa em um corpo inválido.

O tempo foi passando, maldades e mais maldades.

Ele era muito cruel com ela.

Na noite anterior à sua morte ele ministrara uma dose cavalar de seus medicamentos, levando-a ao óbito.

Ele sabia que jamais desconfiariam dele. Eram um casal perfeito.

Tudo estava planejado. Tudo daria certo.

Mas 2 dias após o sepultamento, à noite, ele começou a ouvir barulhos estranhos, que pareciam vir do quarto dela. Eram gemidos, misturados com risos abafados, e até gargalhadas algumas vezes. Ele teve medo.

À cada noite os barulhos pareciam piorar. Ele já conseguia mais dormir. Ficava o dia todo dentro de casa. Tentado cochilar.

Uma semana se passou... há uma semana atrás ele havia posto um ponto final ao seu problema.

Mas não era o que parecia. Essa noite o barulho se transformou em choro, em lamento. Ele estava entrando em desespero.

Ele sabia que ela estava lá no quarto. Ele precisava ir até lá.

Mas tinha medo.

Agora os sons de choro não se limitavam apenas à noite, adentravam por todo o dia, levando-o ao desespero.

Até que em uma noite ele não aguentando mais, se levantou e se dirigiu até o quarto onde ela dormia.

Destrancou a porta devagar e entrou. Um cheiro de morte e carne putrefada entrou em suas narinas, fazendo-o dar um passo atrás.

Ela estava lá, deitada em sua cama. Coberta com um lençol branco e imundo.

Se aproximou e puxou o lençol devagar. O rosto dela estava apodrecendo.

De repente ela abre os olhos e num salto sai da cama e fica flutuando sobre a cama.

Os olhos fixos no marido que agora treme e deixa lágrimas rolarem pelo rosto.

Ela começa a falar com uma voz esganiçada e cheia de dor e ódio.

- Porque está tremendo e chorando?? Onde está aquele velho irritado e bravo que me maltratava e me batia quando ninguém estava vendo???

- Infeliz......covarde....

E com a força do pensamento o jogou contra a parede.

-Você se lembra a quantidade de remédio colocou em minhas veias naquela noite?

Se lembra???? Responda.........

-Pois essa é a metade da quantidade dos mesmo remédio que você vai colocar no copo e engolir agora..

Ela disse e soltou uma gargalhada.

Um vento tomou conta do ambiente, e risos pareciam ecoar por toda a casa.

Tremendo e apavorado, ele pega o copo com água que ficava sobre o criado mudo e coloca o remédio.

Ela continua flutuando e olhando para ele.

Seus olhos estão vermelhos. A vingança é agora.

Ele vai para o inferno.

Suas mãos tremulas seguram o copo, e numa última tentativa de pedir perdão ele olha para ela.

- Não seja covarde, engula tudo e vá para o inferno que é seu lugar..

Lágrimas correm pelo seu rosto enquanto o líquido desce pela sua garganta.

Tudo ao redor começa a girar. Ele sai cambaleando e se joga no sofá da sala, para ser encontrado tempo depois.

Ela desaparece levando consigo o cheiro de morte, os ventos e a escuridão.

Ele fica deitado no sofá, sem vida, inerte, à espera de alguém para encontrá-lo.

Essa é verdadeira versão da história, a versão que nunca ninguém saberá.

E serão lembrados como um lindo casal....para sempre !!!!

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 02/05/2013
Reeditado em 31/01/2014
Código do texto: T4270946
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