Noite de Halloween - DTRL

- Gostosuras ou travessuras?

- Ah, que gracinhas. O Juju vai dar alguns doces para vocês... Juju! Querido! Onde estão os doces?

Júnior apareceu carregando um saco de doces de maneira desdenhosa, se o saco se fosse maior estaria arrastando no chão.

- Vamos Juju, que cara é essa? Dê os doces as crianças!

Júnior obedeceu, entregando os pirulitos para a meia dúzia de pirralhos em frente a porta. Eles não sorriram nem agradeceram quando Júnior os presenteou, mas mandaram um aceno para sua mãe antes de saírem correndo.

- Eles não eram umas gracinhas? Você viu aquele pequeninho com...

O garoto deu as costas à mãe antes que o assunto se prolongasse, voltou para a cozinha largando o saco de doces sobre a mesa antes de ir para seu quarto.

Júnior tinha os problemas típicos de um pré-adolescente apático. Ele odiava o convívio social, odiava conversas que não girassem em torno dos assuntos que o interessava, mas mais importante, odiava a forma como sua mãe o tratava, como se ele fosse patético como todas as outras crianças. Igual nesse hallowen, onde ela o obrigara a usar aquela fantasia estúpida de múmia, com bandagens de segunda mão o cobrindo quase por completo.

O pequeno garoto sentou diante do computador, a única verdadeira distração de sua vida. Ele já se interessou por outras coisas, como pescar, fazia um bocado de pescaria com o pai enquanto ele ainda estava vivo.

É incrível como a vida pode virar de pernas para o ar de uma hora para outra. Num instante a criança Júnior estava sentado na cadeira da escola, rindo com os amigos sobre algo que não fazia mais sentido. No instante seguinte ele se viu na sala do diretor, com a mãe aos prantos indo buscá-lo e dizendo que o pai havia sofrido um acidente. As circunstâncias nunca foram bem explicadas, mas há três anos atrás foi o que aconteceu e há três anos Júnior ia se tornando mais vazio, mais solitário, uma casca que aos poucos vai perdendo o recheio da alma.

E com o interior quase vazio, Júnior vai para as únicas coisas que conseguem preenchê-lo, abrindo pastas no computador ele revê as velhas fotos tiradas com o pai. Fotos de tempos felizes, fotos de um tempo onde não havia um vazio em seu coração.

Mas o que Júnior não sabia é que o vazio em sua alma, motivo recorrente das preocupações de sua mãe, podia gerar mais problemas do que ela imaginava. Ali, na véspera do dia de todos os santos, momento no qual o tecido que afasta o sobrenatural do plano físico está mais fraco, estar com a alma vazia não é algo inteligente. Até porque, quando as almas vão para o outro lado, elas podem ser afetadas de maneiras até então impensadas...

- Juju! Querido! Venha aqui! Há mais doces para você entregar!

O garoto levantou com um sorriso travesso, o primeiro que dava em muito tempo. Mas não era sua alma que sorria... Quando o corpo de Júnior saiu do quarto havia uma tesoura em sua mão. Uma tesoura que promoveria o reencontro de um pai pescador com sua esposa e filho.

FIM

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Ando escrevendo muito sobre guerras, por isso tentei algo diferente, acabou meio rápido, mas se fosse me alongar não conseguiria terminar hoje :P

Espero que gostem!

Gantz
Enviado por Gantz em 30/04/2013
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