Os inquilinos
A solidão não estava ao meu lado, isso se solidão fosse sinônimo apenas de ausência de alguém. Todos os dias, ao despertar pela manhã, avistava duas pessoas dentro de meu quarto. No canto próximo a janela, uma mulher morena de face avermelhada que mantinha um colar de contas nas mãos, talvez uma índia, e próximo a porta, um menino gorducho vestindo roupas muito apertadas.
Eu era totalmente ignorada por eles, uma vez que estavam preocupados com algo que eu desconhecia. Nunca falaram comigo. Apenas estavam lá, absortos.
Noutros cômodos estavam os demais espalhados pela casa. Contei trinta e dois inquilinos, era assim que os chamava. Na cozinha estavam as crianças, na sala tomavam todos os sofás, ocupavam todos os quartos e também o pequeno banheiro.
E assim passaram-se anos. Todos estavam ali, mas eu não estava, não fazia parte daquele mundo silencioso e entristecido.
O dia dos mortos chegara naquele último ano em que tudo mudou. Foi também no mesmo ano que alguns dos moradores desapareceram. À noite resolvi orar por todos eles, e fui enumerando-os para que não esquecesse nenhum. O sono foi tranquilo, sem pesadelos ou qualquer outro incidente.
Entretanto, ao abrir os olhos pela manhã, pus-me imediatamente sentada quando me deparei com uma multidão curvada sobre mim, olhando-me com extremo interesse.