O VIZINHO

Carlos brincava sozinho no quintal de sua casa quando com um chute mais forte viu sua bola voar para o quintal do vizinho.

- Droga! É quase certo que perdi minha bola, esse velho ranzinza jamais a devolvera - Pensou ele enquanto coçava a cabeça.

Muitas e muitas vezes seus pais o advertiu sobre esse vizinho, enquanto pensava em uma solução para reaver sua preciosa bola, lembrava das palavras da mãe:

- Carlos, aconteça o que acontecer, nunca passe na calçada do Sr. Isaías, muito menos suba em seu muro, ele e seu pai não se gostam e mais de uma vez já brigaram feio.

As palavras de sua mãe não saiam de sua cabeça, mas perder sua bola não, isso nunca! Certo de que estava fazendo errado, pegou uma escada na garagem e levou até o alto muro que dividia as duas casas.

Do topo da escada ele pode ver sua preciosidade logo ali, era só pular o muro, jogar a bola para o seu quintal e fazendo escada por cima de um velho tanque de cimento que tinha junto a parede, escalar de volta. Seu planos eram perfeitos e tinha que ser realizado rápido, tinha que aproveitar o soninho que sua mãe tirava todas as tardes, ela não podia perceber, do contrario era uma surra na certa.

Apesar da casa estar silenciosa, ele não se enganava, sabia que o velho estava em casa, ele quase nunca saia, mas todo final de tarde colocava sua velha cadeira na calçada e ficava ali horas e horas sem da uma palavra com ninguém a não ser quando a gurizada que brincava na praça que ficava em frente por qualquer descuido deixava sua bola chegar até perto dele, nessas ocasiões ele resmungava:

- Malditos moleques, cheguem mais perto e eu faço sarapatel de vocês!

Com esses pensamentos ele colocou seus planos em pratica! Com certeza como sua mãe, o velho também devia estar tirando um cochilo.

O salto foi tranquilo, ele tinha calculado bem a altura e caiu exatamente como previa, sem perder tempo pegou sua bola a jogou para o seu quintal. Já estava encima do tanque para escalar de volta quando sentiu suas pernas serem seguras e puxadas para baixo, sem apoio nas mãos caiu e bateu com a cabeça na quina do tanque, perdendo os sentidos.

- Maldito moleque, agora seu pai vai saber onde a ferida doi!

Isaías era um senhor de seus 60 anos. Morava naquela casa com seu único filho até que o mesmo se envolveu com drogas. Mesmo sabendo do vicio do filho, não acreditava que ele um dia tentasse assaltar para sustentar seu vicio. Assim aconteceu, em uma noite que os vizinhos saíram para visitar um parente, ele aproveitou para entrar pelo quintal e já estava saindo com algumas joias da família quando o casal chegou e o pegou com o furto na mão.

Não adiantou Isaías pedir para os mesmo não denunciarem seu filho. Na mesma noite a denuncia foi feita e seu filho foi detido, como réu primário e um bom advogado ele seria liberado no dia seguinte, mais seu menino não se conformava com o escândalo que no dia seguinte sairia nas paginas policiais, durante a madrugada tirou sua calça e se enforcou amarrando a mesma nas vigas da cela.

Ele estava preparando um café quando ouviu o baque surdo da bola no quintal, quis pega-la e corta-la em pedacinhos, mais preferiu aguardar e ver se o moleque tinha coragem de vir pega-la, não deu outra, não foi nem 10 minutos e voltou a ouvir outro baque, só que dessa vez era diferente, o baque foi mais forte, e o que ele tanto almejou por fim tinha acontecido, nem acreditou quando viu o menino de seus não mais de 8 anos jogar rapidamente a bola de volta e subir em seu tanque para voltar.

Quando entrou na cozinha estava ofegante, seus quase 60 anos, mais a falta de exercício físico tinha dificultado o transporte do moleque que apesar de magro pesava um bocado, mesmo sendo arrastado pelos pés.

Soltou os pés do garoto no chão e se abaixou para ver se ele ainda estava vivo. Para seu deleite, apesar do ferimento na testa o moleque ainda respirava. Juntou as duas mãos e o amarrou com um sinto nos pés da mesa.

Depois de verificar que o nó era seguro, levantou-se e foi terminar de fazer seu precioso café.

A noite já se aproximava e dona Alzira estava em pânico. Quando acordou a tarde e não encontrou Carlinhos no quintal, acreditou que ele tivesse desobedecido e saído para a pracinha encontrar seus amiguinhos, mas a bola estava lá, ele não sairia sem ela, mesmo assim depois de ver com seus coleguinhas que ele não tinha aparecido na pracinha, procurou por toda a redondeza antes de ligar para o marido, que achando que o menino estava na casa de algum coleguinha, não deu muita importância, até chegar em casa e ficar sabendo que a esposa já tinha ligado para todos que ele poderia estar.

Na casa vizinha, Carlinhos estava em pânico, depois de acordar do desmaio e se ver amarrado com aquele velho o olhando com um sorriso macabro no rosto, sabia que algo de muito ruim iria lhe acontecer. Apesar de seus 8 anos ele era um menino esperto e o aviso dos pais para não se meter com aquele velho não saia de sua cabeça. Apesar de não chorar seu corpo todo tremia de pavor, depois que o velho acabou de tomar seu café, foi até a pia e pegando uma grande faça de cortar carne se abaixou próximo a ele e disse com seus dentes amarelados e o mesmo sorriso macabro.

- Sabe menino, eu sempre sonhei com esse momento, só sinto não ter seu pai aqui para ver seu olhar de pânico a implorar pela vida .

Carlinhos só viu a grande faça vindo em direção a seu pescoço, sentiu que sua boca se enchia de um liquido adocicado e começou a se engasgar com o mesmo. Não houve tempo para saber o que estava acontecendo, mais uma vez viu o mundo escurecer e dessa vez não voltaria mais a ver a luz do sol.

O velho Isaías sentiu um grande prazer quando colocou um balde embaixo da cabeça do menino, ele sabia que tinha que deixar todo o sangue sair, não queria sangue espalhado em sua cozinha, apesar das chances de desconfiarem dele serem muitas, preferiu não correr riscos, já sentia o prazer que seria ver o pai dele desesperado a sua procura, bom mesmo era olhar nos olhos daquele maldito e contar o prazer que sentiu em sangrar seu filho. .

Os pais de Carlinhos foram até a delegacia, Luiz Alberto conhecia as leis e sabia que oficialmente o desaparecimento do filho só seria registrado depois de 24 hs, mas ele conhecia o delegado e pretendia apelar para essa amizade.

Extra oficialmente as buscas a Carlinhos começaram naquela mesma noite.

Depois de ver escorrer todo sangue, o velho pegou um cutelo que tinha em seu armário de ferramentas uma bacia de alumínio grande e com toda calma começou a cortar junta por junta, não teve muito trabalho, quando jovem era açougueiro e sabia como recortar um animal. Sentia um prazer mórbido em retalhar o filho do homem que tirou a vida de seu filho. A bacia estava cheia quando ele terminou, pegou um grande saco de pano e colocou todo o conteúdo da bacia, depois o enrolou em um tapete grosso que tinha na sala e jogou dentro de um guarda roupa em seu quarto.

- Pronto, agora é só esperar a hora certa e seu pai jamais vai ter a oportunidade de lhe dar um enterro cristã. - Pensou em voz alta enquanto esperava a madrugada chegar.

As buscas a Carlinhos já passavam da terceira semana, a hipótese de sequestro estava descartada já que até aquele momento ninguém tinha pedido resgate. Os pais estavam em total desespero a esperança de encontra-lo com vida já era quase nula.

Certa manhã um carroceiro foi até um areal onde costumava encher sua carroça com areia de jardim para vender as madames que mantinha seus belos jardins, quando a pá que cavava bateu em algo solido, mesmo receoso ele continuou a cavar e não demorou a descobrir um velho tapete, curioso, puxou o embrulho pra fora e ao desenrolar o tapete viu um saco ainda com marcas de sangue.

Depois de descobrir o corpo de Carlinhos a policia não teve muito trabalho de chegar ao criminoso dando inicio a novas investigações onde novas buscas pelas redondezas foram feitas. O delegado cismou com a escada que segundo o pai do menino sempre ficou guardada na garagem e ele não lembrava de tê-la usado nos últimos dias. Só foi necessário uma visita do delegado a casa do velho Isaías.

Mesmo limpando com esmero,em toda a cozinha foi encontrada marcas de sangue.

Sem reagir a prisão o velho confessou o assassinato ainda dentro de sua casa, onde além do delegado e sua equipe estava o pai de Carlinhos.

Antes de entrar no carro da policia, o velho olhou dentro dos olhos do sr. Luiz Alberto e falou.

UMA VIDA POR UMA VIDA, SEU FILHO PELO MEU FILHO.

Cecilia Davila
Enviado por Cecilia Davila em 27/04/2013
Reeditado em 28/04/2013
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