O rapaz olhou ao redor com desagrado. Estava arrependido de ter concordado em trocar de turno naquela noite. O hospital desativado causava arrepios até durante o dia. As portas estavam sempre batendo, mesmo sem vento. A luminosidade era precária. As lâmpadas dos corredores dos dois andares estavam sempre piscando, ou queimando. Uma corrente de ar frio vinda não se sabe de onde, mantinha o lugar gelado. Alberto estava decidido, na semana seguinte pediria demissão. De uns tempos para cá nem conseguia dormir direito. Tinha terríveis pesadelos. O rapaz a quem estava substituindo, fora internado há dois dias com febre alta e delirando. Pedia socorro, e dizia que alguém queria mata-lo. Os médicos debelaram a febre, mas não souberam diagnosticar o que o afligia, e o mandaram para uma clinica de repouso. Ali ele estava sendo mantido sobre forte medicação e avaliado por psiquiatras. Pela vigésima vez, Humberto consultou o relógio. Ainda era uma hora da manhã. Ia custar para amanhecer o dia. Foi à cozinha pegou uma xicara de café, e se acomodou no sofá da antiga sala de espera para assistir televisão. Estava concentrado em um filme de ação, quando um baque vindo do andar superior o assustou. Era como se alguém tivesse caído. Humberto sabia que estava sozinho, por isso colocou na cabeça que estava imaginando coisas e voltou a se concentrar no filme. Alguns minutos se passaram, e um gemido alto vindo do segundo andar o fez pular do sofá. Com o coração disparado ele esperou que o som se repetisse, mas o silencio era total. Voltou a deitar no sofá inquieto. O filme já não o interessava. Ficou mudando de canal, só para ter com o que se ocupar. O barulho de passos descendo as escadas fez com que os cabelos da sua nuca se arrepiassem. Ficou com os olhos fixos naquela direção com o revolver nas mãos. Uma risada de mulher se fez ouvir, e o som dos passos cessou. Humberto queria achar uma explicação lógica para tudo aquilo. ”Será que alguém entrara ali durante o dia e agora estava brincando com ele?” Ouviu o apagador perto da porta de entrada ser desligado e gritou quando a sala ficou as escura. “Quem está aí?” “Estou armado e vou atirar!” Segundos depois a luz voltou ao normal. Humberto agora estava certo de que estavam lhe fazendo de bobo, e decidiu acabar com aquilo. Com a arma em punho subiu as escadas de dois em dois. Todas as portas do estavam fechadas. Foi abrindo uma a uma, e constatando que os quartos estavam vazios. Uma música suave vinha da sala de cirurgia, e mesmo apavorado ele se encaminhou para lá. Ao abrir a grande porta ele piscou incrédulo. Uma mulher estava sendo operada por dois médicos. Eles pareciam concentrados no que faziam, enquanto a mulher gemia dolorosamente com a barriga aberta. De repente um dos homens puxou com força algo parecendo tripas e jogou ao chão. Humberto gritou quando a coisa se transformou em um monte de cobras. Os homens levantaram o rosto e olharam para ele. Não havia olhos, apenas um buraco de onde escorria sangue. Desesperado Humberto correu e desceu as escadas. Não ficaria ali nem mais um minuto. Quando ele com as mãos trêmulas começou a destrancar a porta para fugir. Ouviu uma voz ao pé da escada: ”Me leva com você.” Ao olhar para trás, viu a mulher com a barriga aberta estendo a mão para ele. Quando amanheceu, o vigia que ficaria durante o dia, encontrou Humberto caído ao chão queimando de febre, e murmurando frases desconexas.
O rapaz olhou ao redor com desagrado. Estava arrependido de ter concordado em trocar de turno naquela noite. O hospital desativado causava arrepios até durante o dia. As portas estavam sempre batendo, mesmo sem vento. A luminosidade era precária. As lâmpadas dos corredores dos dois andares estavam sempre piscando, ou queimando. Uma corrente de ar frio vinda não se sabe de onde, mantinha o lugar gelado. Alberto estava decidido, na semana seguinte pediria demissão. De uns tempos para cá nem conseguia dormir direito. Tinha terríveis pesadelos. O rapaz a quem estava substituindo, fora internado há dois dias com febre alta e delirando. Pedia socorro, e dizia que alguém queria mata-lo. Os médicos debelaram a febre, mas não souberam diagnosticar o que o afligia, e o mandaram para uma clinica de repouso. Ali ele estava sendo mantido sobre forte medicação e avaliado por psiquiatras. Pela vigésima vez, Humberto consultou o relógio. Ainda era uma hora da manhã. Ia custar para amanhecer o dia. Foi à cozinha pegou uma xicara de café, e se acomodou no sofá da antiga sala de espera para assistir televisão. Estava concentrado em um filme de ação, quando um baque vindo do andar superior o assustou. Era como se alguém tivesse caído. Humberto sabia que estava sozinho, por isso colocou na cabeça que estava imaginando coisas e voltou a se concentrar no filme. Alguns minutos se passaram, e um gemido alto vindo do segundo andar o fez pular do sofá. Com o coração disparado ele esperou que o som se repetisse, mas o silencio era total. Voltou a deitar no sofá inquieto. O filme já não o interessava. Ficou mudando de canal, só para ter com o que se ocupar. O barulho de passos descendo as escadas fez com que os cabelos da sua nuca se arrepiassem. Ficou com os olhos fixos naquela direção com o revolver nas mãos. Uma risada de mulher se fez ouvir, e o som dos passos cessou. Humberto queria achar uma explicação lógica para tudo aquilo. ”Será que alguém entrara ali durante o dia e agora estava brincando com ele?” Ouviu o apagador perto da porta de entrada ser desligado e gritou quando a sala ficou as escura. “Quem está aí?” “Estou armado e vou atirar!” Segundos depois a luz voltou ao normal. Humberto agora estava certo de que estavam lhe fazendo de bobo, e decidiu acabar com aquilo. Com a arma em punho subiu as escadas de dois em dois. Todas as portas do estavam fechadas. Foi abrindo uma a uma, e constatando que os quartos estavam vazios. Uma música suave vinha da sala de cirurgia, e mesmo apavorado ele se encaminhou para lá. Ao abrir a grande porta ele piscou incrédulo. Uma mulher estava sendo operada por dois médicos. Eles pareciam concentrados no que faziam, enquanto a mulher gemia dolorosamente com a barriga aberta. De repente um dos homens puxou com força algo parecendo tripas e jogou ao chão. Humberto gritou quando a coisa se transformou em um monte de cobras. Os homens levantaram o rosto e olharam para ele. Não havia olhos, apenas um buraco de onde escorria sangue. Desesperado Humberto correu e desceu as escadas. Não ficaria ali nem mais um minuto. Quando ele com as mãos trêmulas começou a destrancar a porta para fugir. Ouviu uma voz ao pé da escada: ”Me leva com você.” Ao olhar para trás, viu a mulher com a barriga aberta estendo a mão para ele. Quando amanheceu, o vigia que ficaria durante o dia, encontrou Humberto caído ao chão queimando de febre, e murmurando frases desconexas.