Sacrifícios Guiados Pelo Demônio

Havia um galpão, três cadáveres sobre mesas forradas com toalhas negras e dez pessoas imóveis, cada uma ocupando um lugar num pentagrama. Um grande sacrifício seria feito naquele dia, um sacrifício que, teoricamente, deveria consertar os erros que um garoto chamado Robert cometera uma semana antes:

“Era uma noite de sexta-feira, aparentemente, normal e sem graça, como sempre costumava ser. Estavam todos em casa: Senhorita Margaret, suas duas filhas, Suzana e Kimberly, e seu único filho, Robert. Este havia chegado aos 18 anos dois dias antes, sendo assim, havia atingido a ‘idade da luz’, como a família costumava chamar. Srtª. Margaret vinha tentando ensinar “magia pura” ao seu filho desde os seus 16 anos, contudo, ele nunca demonstrou muita aptidão à coisa.

Robert havia conhecido um homem naquela manhã: ele andava desatento quando, ao passar por uma ruazinha deserta, esse homem o parou repentinamente.

-Você é especial, garoto. – O homem falou apontando para Robert e se aproximando lentamente.

-Do que você está falando, senhor? Você me conhece de onde? –Robert perguntou assustado.

-Você tem grandes habilidades, eu sei, eu posso ver, e você é muito ambicioso também, mas não está conseguindo obter sucesso em nada do que sua mãe te ensina. – Ele continuou a falar. -Pegue, é desse livro que você precisa para alcançar o ‘poder’. –O homem misterioso entregou um livro de capa escura e sombria a Robert. Ele observou a forma como as palavras eram escritas, e as imagens obscuras de cada página.

-Mas, esse livro... –Robert falou, mas calou-se ao perceber que o homem já não estava mais lá.

Após o jantar, Robert se trancou no quarto, enquanto sua mãe e suas irmãs assistiam a alguns filmes na televisão. Ele pegou o livro que tinha recebido daquele senhor na rua e pôs-se a lê-lo. Tratava-se de magia negra, totalmente diferente do que sua mãe o ensinava. Ele se perguntava: ‘será que eu estou mesmo destinado a esse tipo de magia?’. Robert precisava saber, precisava tentar.

Na primeira página do livro, encontrava-se uma frase em letras grandes: ‘MORTE É PODER’. Robert já estava acostumado com esses tipos de enigmas que se encontravam em livros de magia, portanto, ele entendeu rápido o que aquela frase significava: ele precisaria matar pessoas para extrair o poder da morte delas. Robert agiu segundo a sua ambição, ele queria ser forte, poderoso.

Pensou um pouco e decidiu-se:

-Eu posso escolher quem usar, não precisa ser um pai de família ou uma boa senhora, o bairro está cheio de marginais... –Ele falou baixinho para ele mesmo enquanto olhava para um grupo de três rapazes traficando na esquina da sua rua.

Não havia mais o que pensar, ele correu até a porta, precisava ir ao mercado próximo de sua casa.

-Ei, para onde vai com tanta pressa? –Sua mãe perguntou.

-Já volto, mãe.

Ao chegar ao recinto, ele comprou dez velas de cor preta, seria útil para o que pretendia fazer aquela noite. Voltou para casa. Corria. Passou pela sala. Silêncio. Entrou no quarto. Colocou as velas no chão. Pentagrama.

Robert entrou no pentagrama que fez com as velas, pegou o livro e começou o feitiço. Palavras estranhas saíam de sua boca. Após alguns minutos, cortou seu pulso esquerdo com uma gilete, o sangue escorria e formava o contorno do pentagrama. As velas acenderam. Robert pensou nos três traficantes que estavam na esquina de sua casa e disse mais algumas palavras. A luminária de seu quarto explodiu. Ouviram-se gritos: os três rapazes haviam morrido.

Ele tentou sair do pentagrama, mas algo não permitia que se movesse.

-O que está acontecendo? O feitiço já acabou, por que não consigo me mexer? O que deu de errad... –Robert fez cara de espanto. Ele havia se lembrado da frase que sua mãe sempre dizia: ‘Todo feitiço tem uma consequência, meu filho, magia pura traz consequências boas, já magia negra, bem, costuma-se pagar com mortes. ’

Outro barulho. Parecia mais uma luminária quebrando, dessa vez, na sala. Acompanhando esse barulho, Robert ouviu sua mãe e suas irmãs gritando, um grito de dor, de alguém que está sendo torturado pelo demônio. As velas se apagaram. Robert saiu correndo e, ao alcançar a sala, viu todas elas, mortas.

Robert caiu em prantos, não sabia o que fazer, chorou, chorou e chorou, até que acabou dormindo sobre o sangue das pessoas que ele mesmo havia matado.

No dia seguinte, ele foi até a rua onde havia conhecido aquele homem que lhe deu o livro. Olhou para os lados e não viu ninguém, precisava encontrar aquele senhor, ao se virar, minutos depois, lá estava ele. Sorridente.

-Você fez, não fez? Fez o que eu esperava que fizesse? –Ele perguntou.

-Eu não, você fez isso, você sabia o que iria acontecer, por que você não me contou? Hein? –Robert gritou, segurando o homem pela gola da camisa.

-Você fez aquilo, não eu... E, eu não contei, porque... bem, o que eu ganharia em troca? Já ajudei você dando-lhe o livro, o que mais queria?

-Não importa, agora eu só quero consertar o que eu fiz. Você sabe se há algo que eu possa fazer?

-Na verdade, sim, há um feitiço de ressureição na página 666 daquele livro que te dei, olhe as instruções e traga sua família de volta a vida. –O homem disse. –A questão é: Quantas vidas você seria capaz de sacrificar para salvar apenas uma? E três? –Ele deixou a pergunta no ar, sumindo em seguida.

Ao chegar à sua casa, Robert correu para procurar o feitiço no livro e lá estava ele. Leu cada instrução e havia concordado com cada uma delas. Estaria pronto para fazê-lo.”

No galpão, três cadáveres, um pentagrama e dez pessoas: As duas tias de Robert, irmãs de sua mãe; seus três primos; a única avó que lhe restava; sua madrinha; seu padrinho e as duas babás que cuidaram dele quando criança. Estava tudo pronto.

Ele se direcionou ao centro do pentagrama, em uma mão, o livro, na outra, uma gilete. Pôs-se a falar, a pronunciar cada palavra que se encontrava no livro. Pegou a gilete e, dessa vez, cortou o pulso direito. Seu sangue formou o contorno do pentagrama mais uma vez. Continuou a dizer aquelas palavras desconhecidas e a única lâmpada do galpão explodiu. Olhou para as pessoas no pentagrama, o feitiço havia funcionado. Elas se contorciam, ouviam-se seus ossos se quebrarem, sangue escorria pelas suas narinas, seus olhos e ouvidos. Alguns vomitavam sangue e se engasgavam quando tentavam gritar por ajuda. Enquanto isso, nas mesas, os cadáveres se mexiam, eles estavam ganhando vida à medida que aquelas pessoas perdiam as delas.

Passados mais alguns instantes, as pessoas caíram ao chão e os cadáveres levantaram-se. Havia algo errado no rosto de sua mãe e irmãs, seus olhos, a parte branca estava totalmente escura, não havia sinal de vida. Robert se perguntava o que tinha dado errado. E como se tivesse escutado o pensamento do garoto, alguém respondeu:

-Elas não têm alma. –Era aquele homem da rua deserta.

-Como você entrou aqui? Como assim não tem alma? Você quer dizer que não funcionou?

-Funcionou, o corpo tem vida novamente, mas a alma delas, bem, a alma delas me pertence agora. –Ele gritou com uma voz rouca. –Só está faltando mais uma. A sua. –Ele voou na direção de Robert e, como uma sombra, atravessou seu corpo, derrubando o garoto no chão...

Sem vida e sem alma.

Obs.: Baseado em um sonho.

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 21/04/2013
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T4252581
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