Cabeça virada
luizcarloslemefranco
Um motociclista precisou fazer uma longa viagem, desde Londrina até Campo (do)
Mourão, no noroeste do Estado do Paraná, em uma noite fria e chuvosa para estar no velório de uma tia querida.
Como ciclista consciente, paramentou-se como manda a lei do trânsito: bota de couro, calça idem, capacete, luvas e uma jaqueta de couro, no caso, preta, por cima de uma camisa grossa de flanela, já que previa muito frio na estrada. Testou freios, lanternas, acelerador,bateria,buzina, sinalizadores, tanque de combustível. Tudo preparado, ao sair da garagem percebeu que estava frio o tempo e sabia que iria esfriar mais. Resolveu virar sua jaqueta e vesti-la coma parte inteira para a frente, onde tomaria mais vento e o abotoado para trás. Ficou confortável. Foi.
Condutor de veículo consciente, não andava em velocidade acima da permitida.
Motocicletou muitos quilômetros até que a solidão da estrada e o sono começaram a incomodá-lo um pouco. Parou num posto de combustível, lavou o rosto, descansou uns bons minutos e seguiu com todo o cuidado. A chuva havia acabado mas o trecho da estrada estava escorregadio e isto requeria atenção. Ele a tinha. Mesmo assim, em uma curva mais acentuada derrapou, bateu, por azar, em uma cerca de proteção, e caiu sem lesão, porém, inconsciente, no acostamento à sua direita.
Pouco tempo após, no mesmo sentido da estrada surgiu, vagarosamente, um bitrem verde, cujo motorista viu, no foco do farol a moto de Mário – era este o nome do rapaz – e pareceu-lhe um corpo deitado poucos metros adiante. Não viu sangue, nem rastro de freadas e impactos e nem outros veículos ou pessoas. Parou seu caminhão, desceu, olhou o local, viu o moço caído. Sabia que não deveria mexer no corpo e sim contatar um socorro. Assim fez.
Enquanto vigilantejava ali percebeu, intrigado, que a japona de couro estava com os botões para cima e o rosto para baixo. Ansiou-se e resolveu ajudar o acidentado, antes da presença do siate, que poderia demorar, por pensar que o mesmo poderia não estar respirando e morrer antes da ajuda. Aí não adiantava ele ficar esperando. Virou a cabeça do motociclista, que achou estar ao contrário.