O MOTIM DAS LETRAS
O senhor não 'tá entendendo, doutor! As letras todinhas saíram dos livros e vieram me enfrentar. Vieram me desafiar, doutor, onde já se viu!? Tinha letra de todo o jeito: baixinha, curtinha, gordinha, alta, enorme, pesada, de várias cores, formas, procedências..
.E que união! Que união, doutor...Como elas são unidas! Imagine um analfabeto?! Ia ficar doido. Não ia entender nada do que elas queriam. Elas o iam acabar matando !
Não gosto de nada fora do lugar...Eu tenho pavor de barata. Sou macho até debaixo d'água, mas se eu vir uma em minha frente, não sei não, nessas horas tenho dúvidas...
Primeiro saiu aquele A em negrito, de uns cinco centímetros de comprimento...olha, lembro até que a capa do livro era preta, encadernamento luxuoso, uns trinta centímetros de altura, uns vinte de largura e uns dez de profundidade, com letras trabalhadas e douradas. Uma coleção rara com as obras de Machado de Assis...
Pois é, pensei que fosse um inseto asqueroso que já mencionei anteriormente,
não gosto nem de repetir o nome! Cheguei a pegar o vidro de inseticida, que guardo numa estante, perto das naftalinas e borrifar sobre ela.
Esta emitiu um som, uma espécie de guincho estridente, um som de AAAAAAAAA... e esfacelou-se em mil pedaços, conquanto, rapidamente se recompôs e notei que ia ficando cada vez maior.
Foi chegando mais perto de mim e eu estava totalmente indefeso e paralisado de terror. Próxima ao meu rosto, constatei o que era e fiquei contemplando aquilo, maravilhado, sem saber direito o que ocorria...O A flutuou no ar ao meu redor, e nem me dei conta, como estava tão estupefato e hipnotizado por ele, nem notei a presença das milhares de letras espalhadas no meu escritório-biblioteca, transitando livremente... Olha, doutor, detesto bagunça, mas pior do que a fuzarca que elas estavam fazendo, era o meu pensamento totalmente sem direção. Pensei: será que não é tudo fruto da minha imaginação?
Esfreguei bem os olhos com as palmas das mãos, porém não havia ninguém em casa, se eu fosse chamar alguém teria que ir lá fora, ou telefonar, precisaria pegar a extensão ou celular, em um dos quartos, porque aqui, eu não gosto que nada me interrompa enquanto estou entretido com as minhas leituras...As letras podiam fugir, e naquele momento, tudo o que eu queria é que elas passeassem à vontade pelo recinto...
hieróglifos, ideogramas, quase todas elas sozinhas não faziam sentido algum para mim...Que mensagem elas me dariam? Eu sou ateu, entretanto nestas ocasiões ... Foi neste instante que todas elas se juntaram e formaram um grande buraco negro...
Imediatamente fui sugado por ele, e durante anos a fio, fui os protagonistas de todos os grandes clássicos da literatura universal, dos que já haviam sido escritos e dos que ainda estão por vir!
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Conto extraído do meu livro Gauche, a estranheza; publicado pela Lítteris editora.
COLEGAS, ESCUTEM MEUS ÁUDIOS MUSICAIS!
O senhor não 'tá entendendo, doutor! As letras todinhas saíram dos livros e vieram me enfrentar. Vieram me desafiar, doutor, onde já se viu!? Tinha letra de todo o jeito: baixinha, curtinha, gordinha, alta, enorme, pesada, de várias cores, formas, procedências..
.E que união! Que união, doutor...Como elas são unidas! Imagine um analfabeto?! Ia ficar doido. Não ia entender nada do que elas queriam. Elas o iam acabar matando !
Não gosto de nada fora do lugar...Eu tenho pavor de barata. Sou macho até debaixo d'água, mas se eu vir uma em minha frente, não sei não, nessas horas tenho dúvidas...
Primeiro saiu aquele A em negrito, de uns cinco centímetros de comprimento...olha, lembro até que a capa do livro era preta, encadernamento luxuoso, uns trinta centímetros de altura, uns vinte de largura e uns dez de profundidade, com letras trabalhadas e douradas. Uma coleção rara com as obras de Machado de Assis...
Pois é, pensei que fosse um inseto asqueroso que já mencionei anteriormente,
não gosto nem de repetir o nome! Cheguei a pegar o vidro de inseticida, que guardo numa estante, perto das naftalinas e borrifar sobre ela.
Esta emitiu um som, uma espécie de guincho estridente, um som de AAAAAAAAA... e esfacelou-se em mil pedaços, conquanto, rapidamente se recompôs e notei que ia ficando cada vez maior.
Foi chegando mais perto de mim e eu estava totalmente indefeso e paralisado de terror. Próxima ao meu rosto, constatei o que era e fiquei contemplando aquilo, maravilhado, sem saber direito o que ocorria...O A flutuou no ar ao meu redor, e nem me dei conta, como estava tão estupefato e hipnotizado por ele, nem notei a presença das milhares de letras espalhadas no meu escritório-biblioteca, transitando livremente... Olha, doutor, detesto bagunça, mas pior do que a fuzarca que elas estavam fazendo, era o meu pensamento totalmente sem direção. Pensei: será que não é tudo fruto da minha imaginação?
Esfreguei bem os olhos com as palmas das mãos, porém não havia ninguém em casa, se eu fosse chamar alguém teria que ir lá fora, ou telefonar, precisaria pegar a extensão ou celular, em um dos quartos, porque aqui, eu não gosto que nada me interrompa enquanto estou entretido com as minhas leituras...As letras podiam fugir, e naquele momento, tudo o que eu queria é que elas passeassem à vontade pelo recinto...
hieróglifos, ideogramas, quase todas elas sozinhas não faziam sentido algum para mim...Que mensagem elas me dariam? Eu sou ateu, entretanto nestas ocasiões ... Foi neste instante que todas elas se juntaram e formaram um grande buraco negro...
Imediatamente fui sugado por ele, e durante anos a fio, fui os protagonistas de todos os grandes clássicos da literatura universal, dos que já haviam sido escritos e dos que ainda estão por vir!
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Conto extraído do meu livro Gauche, a estranheza; publicado pela Lítteris editora.
COLEGAS, ESCUTEM MEUS ÁUDIOS MUSICAIS!