O diabo é sujo, o diabo é sujo
Ao som de "The Scientist" do Coldplay observava a linda paisagem que surgia em minha janela. Pássaros cortavam o céu azulado, crianças se divertiam à beira do rio límpido, cestas de piquenique decoravam o gramado. Podia sentir a felicidade exalando no ar.
Lembrei de quando ainda me julgava feliz, antes de estar preso a esta cadeira maldita de rodas! E ainda os infelizes me diziam " Tudo vai ficar bem, logo logo você volta a andar". Ouvi isso durante 4 anos da minha vida, até que cansaram de me iludir. Eu agora era apenas um aleijado, o coitadinho da família, sem amigos, sem ninguém, apenas eu e minha maldita cadeira.
O pior de tudo, era saber que o desgraçado que me causara tudo isso, estava andando a solta por ai, atropelando um aqui, outro ali, pelas estradas à fora. Jurei vingança, mas o que um desgraçado aleijado poderia fazer contra um rapaz rico e mimado? Nada! Foi o que pensei, até conhecer ele, o todo poderoso, o senhor das almas. Tudo aconteceu num dia de muita dor e despraguejamento. Ele chegara até a mim com um aroma doce e marcante, uma ótima aparência e vestia um belo casaco vermelho.
- Não fique assim meu caro- disse-me ele com um pequeno sorriso nos labios-Tudo irá se resolver, não diga nada, deixe apenas acontecer.. -e poof, sumiu de repente.
Passaram-se 7 dias e recebi a noticia de que o canalha que me atropelara havia morrido de uma forma misteriosa, fora encontrado com as pernas dilaceradas e sem os olhos. De certa forma me senti aliviado e intrigado ao mesmo tempo. Será que aquele rapaz de perfume agradável teria algo a ver com tal brutalidade?!
De acordo com o passar dos meses, o meu estado de saúde só foi piorando, estava emagrecendo, pesadelos atormentavam as minhas noites, um vazio corria o meu ser.
Agora já havia se passado 4 anos, e eu continuava ali, sentado , feito um vegetal, observando a felicidade dos outros, enquanto a tristeza cavava mais profundo em mim.
Já me preparava para tirar um cochilo, quando alguém bateu na porta do meu quarto.
- Estou deitado! - gritei. Devia ser alguém querendo tirar minha paciência, não gostava de ser incomodado.
Novamente uma leve batida, fui em direção a porta, com raiva já ia dizendo:
- Mais que merd...
Foi quando aquele cheiro maravilhoso envolveu minhas narinas. Fiquei surpreso, pois já tinha se passado muito tempo desde quando o vi.
- Surpreso? - perguntou ele abrindo um largo sorriso. - Levante-se e venha, dê me um abraço!
Ele só podia estar tirando sarro de mim.
- Mas isso é impo...
- Apenas levante-se e venha, confia em mim - disse me interropendo.
De algum modo ele passava serenidade e confiança. Com muito medo, tentei erguer o meu corpo, e como um milagre consegui ficar de pé, sentia novamente minhas pernas, uma alegria enorme tomou conta de mim.
- Nem sei como lhe agradecer! - não tinha como esconder a minha felicidade.
- Não agradeça, apenas voe.
-Como assim? isso não é possível!
- Confia em mim, você agora pode tudo!
Meio desconfiado e com medo segui em direção a janela, afinal de contas ele me concedera o prazer de andar novamente, por que estarias mentindo?
Subi na janela e fiquei agachado, observando toda aquela bela paisagem, será que eu poderia voar mesmo, ou era pura loucura? Antes que eu pudesse pensar, senti algo me empurrar com muita força...
O homem dançava e sorria olhando janela abaixo, estava no oitavo andar, exalando o maravilhoso perfume da morte!
- O Diabo é sujo, o diabo é sujo..