Vizinhos

Morar perto de cemitérios, nem sempre é uma boa ideia. Principalmente se você tem o dom de ver gente morta como eu. Desde pequeno tenho essa habilidade, tanto que meus colegas de bate papo e brincadeiras, sempre foram já crianças falecidas. Meus pais achavam que era fruto da minha imaginação, por isso nunca se preocuparam. “Quando crescer isso passa.” Quando completei dezesseis anos, nos mudamos para uma casa de frente para um cemitério. Minha mãe relutou a principio, pois tinha verdadeiro pavor de gente morta, mas foi o único lugar que as economias do meu pai conseguiram comprar, depois de anos pagando aluguel. Na primeira noite na nova casa transcorreu tudo bem, mas na segunda noite fui despertado pelo movimento de alguém se sentando ao meu lado na cama. Acendi o abajur e me deparei com um rapaz com um lado do rosto sangrando. Não me assustei, mas não gostei de ter sido acordado. Irritado perguntei o que queria, e ele disse que só queria conversar. Pode? O cara me acordar apenas para conversar? Perdi as estribeiras e ordenei que saísse do meu quarto. Momentos depois escutei um grito vindo dos aposentos dos meus pais. Em desabalada fui até lá. Minha mãe tremia dizendo que alguma coisa havia puxado o cobertor e soprado em seu rosto. Nem precisei ouvir mais nada para saber que a tal, coisa era o jovem que me acordara. O cara de pau ainda estava por ali sorrindo descaradamente. Fiz sinal para que me seguisse. “Escuta aqui, você não tem o direito de invadir a casa dos outros para perturbar quem ainda vive.” Disse a ele com raiva. “O rapaz sorrindo com seus dentes horríveis falou:” Precisava falar com você, mas não quis me ouvir!”Para acabar com aquele transtorno me dispus a escutá-lo, mas ele disse que tinha que ser no cemitério, pois não podia se ausentar por tanto tempo. Vesti meu casaco de frio, dei uma olhada no quarto de minha mãe que voltara a dormir e o segui. Logo na entrada do cemitério fomos parados por uma jovem muito bonita, que sorrindo coquetemente, tentou me beijar. Seu hálito de coisa podre me embrulhou o estomago, e a afastei com firmeza. A moça não gostou e avançou em mim no ímpeto de me estrangular. O jovem que me acordara e que se chamava Paulo saiu em minha defesa a empurrando em cima de um túmulo. Continuamos nossa caminhada, mas fomos interceptados por um homem sem um dos braços, que escancarou a boca e começou a vomitar algo fétido, cheio de vermes. Seu intuito era me acertar, mas mais uma vez Paulo se posicionou em minha frente, recebendo todo o jato destinado a mim. O cara desistiu ao ver que não me atingiria, e se afastou. Ao nos aproximarmos de uma cova, uma mão descarnada se ergueu e me puxou com força. Desequilibrei e fui ao chão. Como que surgindo do nada, meia dúzia de caveiras se lançou em cima de mim gargalhando de forma demoníaca. Gritei, esmurrei, chutei, tentando me livrar em vão. Paulo mais uma vez entrou em cena agarrando e jogando para longe de mim, aquele monte de osso enfurecido. Sem mais contratempos, nos sentamos em cima de uma tumba para conversar. Eu estava exausto e doido para voltar para casa, mas o que o rapaz me falou despertou meu interesse e pela primeira vez na vida, medo.” Em breve você estará morando aqui. Seus dias entre os vivos se esgotaram. Esses mortos que hoje tentaram te atacar sabem disso, e não o querem por aqui e tudo farão para te prejudicar. Por isso fui te procurar para alertá-lo. “Seria bom que você dissesse aos seus pais que ao morrer, gostaria de ser enterrado em outro cemitério.” Apavorado perguntei ao Paulo: “E quando é que eu vou morrer”?”“ Hoje ao meio dia. O dia já está quase amanhecendo é melhor você voltar logo para casa e conversar com seus pais. “Só não diga que sabe que vai morrer, do contrário, a morte de sua mãe será antecipada da semana que vem para hoje.”

vânia lopes
Enviado por vânia lopes em 14/04/2013
Código do texto: T4240469
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