ENTRE CAIXÕES - PARTE I
- Mãeeeeeeeee!
Vinha Astrobaldo gritando pela rua. Corria esbaforido, quase sem ar, chamando pela mãe.
- O que foi menino? Por que tanta correria? Vamos fale logo.
Astrobaldo tentando buscar o ar para respirar, cansado de tanto correr, após poder respirar falou:
- Mãe você não sabe quem morreu?
-Vamos menino fale logo! Eu já estou ficando assustada.
- Foi, foi o Januário, o marceneiro da rua de trás.
A mãe de Astrobaldo ficou viúva há pouco tempo, com três filhos para criar, sem ajuda de ninguém. Astrobaldo era o caçula tinha oito anos de idade e já demonstrava gosto pelo ofício de Marceneiro, vivia xeretando o marceneiro falecido. Como sua mãe não podia comprar as ferramentas para ele trabalhar, ficava a ver navios. Com a morte do Marceneiro, veio uma ideia em sua cabeça. Pegou Astrobaldo pelo braço e saiu arrastando ele até a casa do falecido, para falar com a mãe dele.
- O de casa!!!!!!!!!!!!
Gritava a mãe de Astrobaldo na porta do marceneiro falecido. Quando uma senhora idosa, de cabelos grisalhos, a pele castigada pelo tempo, olhos chorosos, apareceu na janela. Era a mãe do marceneiro, sofrida pela perda do filho. Os parentes ainda estavam tratando do enterro. Ela veio até a porta, e quando a abriu dava para ver o corpo de seu filho estendido sobre uma mesa. A senhora falou:
- O que a senhora deseja?
- Me desculpe vir assim, em hora tão imprópria, mas é que receava que outro lhe fizesse a proposta.
- Que proposta?
- É que como sei que seu filho, que Deus o tenha, não usará mais as ferramentas, pensei que se a senhora podia me vender, para meu filho trabalhar e ganhar nosso ganha pão, a senhora sabe que perdi meu marido e tenho quatro bocas para alimentar. Não tenho dinheiro agora, tenho não, mas lhe prometo que pagarei até o último centavo.
- Vendo sim, que serventia me teria, não uso e seu filho fará bom uso delas, vendo satisfeita e sei que meu filho de onde estiver estará satisfeito com minha ação. Venha amanhã buscar, vou recolher tudo.
- Agradecida Dona Maria, que Deus abençoe a senhora e receba seu filho em seu seio.
A mãe de Astrobaldo saiu radiante de felicidade, Deus tinha olhado por ela, agora Astrobaldo ia trabalhar, e nunca mais passariam fome nesta vida.
Retornaram para casa e no dia seguinte voltriam para buscar as ferramentas. Astrobaldo quase não dormiu aquela noite, parecia que tinha ganho um brinquedo.
Ao amanhecer, os primeiros raios de sol penetrando as frestas da janela e invadindo o quarto de Astrobaldo, que pulou da cama e correu até a cozinha, onde sua mãe já de pé, levantou com as galinhas. colocava na mesa a mandioca quente evaporando fumaça e exalando o cheirinho de café da manhã na roça.
Os olhos de Astrobaldo brilhavam, não via a hora de começar a brincar de marceneiro. Tomou seu café, saboreou a mandioca e depois partiram.
Ao chegar na casa de D. Maria, ela já aguardava com tudo separado. Acertaram a forma de pagamento e começaram a carregar as ferramentas, pois dariam várias viagens.
Ao término do trabalho, arrumaram tudo no quartinho dos fundos, onde seria a oficina improvisada. Astrobaldo agarrando um pedaço de madeira deu início ao seu trabalho, tentando fazer uma cama de brinquedo. Trabalhou o dia todo. A noite parou e foi descansar, quando já tarde da noite bateram a sua porta, sua mãe foi atender, era um vizinho, que falou.
Comadre fiquei sabendo que seu filho agora é o marceneiro, por isso vim aqui falar consigo, é que o meu pai faleceu e como o marceneiro também faleceu, gostaria de saber se seu filho poderia fazer um caixão para o meu pai ser enterrado amanhã de manhã?
Astrobaldo olhando atrás da porta do quarto, ouviu tudo e ficou a se questionar: - Fazer caixão de defunto? Não isso não, tenho medo, ainda mais à noite.
Sua mãe combinou com o vizinho que logo pela manhã a encomenda estaria pronta. E chamando o filho, ordenou que pegasse daquelas madeiras que outrora foi do falecido e começasse o trabalho.
Astrobaldo apesar de medroso era muito obediente a sua mãe, e tremendo de medo falou:
- Mãe, eu tenho muito medo de defunto?
- Ora menino, deixe de besteira, os mortos não fazem mal a ninguém. Vamos vou ficar com você.
E vararam a noite a trabalhar, enquanto Astrobaldo dava forma a madeira, sua mãe polia as peças. Astrobaldo se borrando de medo, a cada barulho, ele estremecia. Ventava muito lá fora, as folhas das árvores faziam um barulho que assustava Astrobaldo.
Quando o galo cantou, o caixão já estava pronto e Astrobaldo cansado, caiu para o lado e dormiu, e viu o falecido deitado no caixão que acabou de fazer. Procurou sua mãe e não a encontrou, correu até a porta da frente e viu o marceneiro chegando em sua casa, e com medo correu, correu, e quando o marceneiro colocou a mão sobre seu ombro, ele despertou com sua mãe balançando o pelo ombro.
Continua...