CALAFRIOS NA NOITE - PARTE I

Severino já estava acostumado com aquele ritmo de trabalho, ele trabalhava em um Grande Hospital da Capital do Rio de Janeiro, exercia o cargo de Maqueiro, sim suas atribuições resumia em empurrar maca no Hospital, subia maca e descia maca.

Para falar de Severino é preciso voltar as suas origens, ele ainda menino de seus 7 anos, saiu do interior da Paraíba juntamente com seus pais e 10 irmãos, vieram em um pau de arara, era aquele o tipo de transporte disponível na época, um caminhão aberto, correndo risco de morrer. Saiu fugindo da seca que assola o Nordeste até os dias atuais. Por falar em seca para onde vai a verba destinada a seca do Nordeste? O que a SUDENE realiza com ela, se é que chega até lá, quem vai saber? O problema da seca é que não é resolvido.

Deixando a seca de lado, voltamos ao Severino, menino trabalhador e obediente, fazia de tudo para ganhar dinheiro nas horas vagas. Desde pequeno sonhava em estudar e melhorar de vida para poder ajudar seus pais, mas estudar de que jeito? Pobre Severino, se esforçava para ir ao grupo escolar, com os bicos que fazia e dava o dinheiro a mãe, esta comprava-lhe sempre um caderno e um lápis, apontado a faca, uma ponta fininha feita por sua mãe que se amedrontava em ver uma faca na mão de Severino.

Severino sempre muito dedicado nos estudos, em sala de aula prestava atenção a tudo o que a Professora ensinava, depois fazia o seu trabalho e quase sempre acertava tudo, Dona Doducha, sua professora orgulhava-se de ver tamanha dedicação. Se hoje a Escola Pública deixa a desejar, imagina naquela época, isso já se vai mais de sessenta anos.

Severino sempre muito determinado, dedicava-se a estudar e trabalhar, e o trabalho infantil? E quem se preocupava com isso? Era preciso levar alimento para a mesa, e assim Severino seguia sua infância, se é que pode chamar aquilo de infância. E as autoridades? Ninguém se preocupava com isso? Eles estavam mais preocupados em desenvolver o país, por que perder tempo com bobagens.

Com muito sacrifício severino fez até a 4ª série primária, recebeu o Diploma Primário das mãos de sua Professora táo querida e dedicada, D. Doducha.

Voltando ao presente, Severino com o seu Diploma de Primário

se preparou, estudou dia e noite dedicando-se aos estudos prestou um Concurso Público e passou, um dos primeiros colocado. Ele iria trabalhar em um Hospital Público, empurrando macas, carregando paciente vivos e mortos.

Severino, como a maioria dos nordestinos, era muito trabalhador, fazia a sua jornada de 12/36 e nos dias de folga tirava serviço para os colegas de trabalho, engordando assim o seu contra-cheque.

Passemos agora para o terror da estória, Severino como já mencionei anteriormente, passava os dias e noites empurrando macas naquele grande Hospital.

Naquela noite, houve alguns óbitos, e Severino foi chamado ao C.T.I. para carregar os pacotes.

- Severino, por favor leve esses corpos para a capela, tem que ser rápido, pois há muito trabalho a fazer, comece por esse aqui, em seguida leve nesta ordem.

- Doutor o que foi que houve? Por que tantos falecimentos nesta noite?

- Ora Severino, todos os dias nascem e morrem pessoas.

- Mas Doutor, hoje triplicou o número.

- Cada um morre na sua hora Severino. e deixe de conversa e faça logo seu serviço.

- Sim Doutor já estou indo.

Severino estranhando aquela situação, mas fez o seu trabalho.

Colocou o primeiro corpo na maca e saiu pelos corredores do Hospital empurrando a maca, as rodas faziam um certo barulho no silêncio da noite, os corredores mau iluminados, tenebroso, eu diria uma cena de terror e Severino empurrando os mortos.

Severino sentia muito medo de mortos, principalmente a noite, mas era o seu ganha pão, não podia reclamar de nada e continuava seu trabalho, levou os corpos um a um. Percorria um corredor transportando um corpo, quando sua atenção foi atraída por um gemido, ele estremeceu, sentiu calafrios na espinha. Pensou em largar a maca e sair correndo, mas não podia fazer aquilo, afinal era o seu trabalho. Foi se acalmando e percebeu que o barulho vinha do corpo na maca.

Continua...

Rivanda De Siqueira
Enviado por Rivanda De Siqueira em 12/04/2013
Reeditado em 23/04/2013
Código do texto: T4236627
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