A menina de vestido preto

Não era a primeira vez que a via do outro lado da rua me olhando fixamente, com o olhar perdido, seu vestido preto de mangas compridas, sua pele bem branca, na verdade pálida.

A primeira vez que a vi, achei que ela tivesse pegado o ônibus que parou em sua frente, e não a vi mais.

Mas depois percebi que não era isso, pois comecei a ve-la em outras ruas, mas ela nunca olhava direto para mim, era como se olhasse através de mim.

Era estranho. Eu sempre desejava que ela me visse, que me encarasse, mas ao mesmo tempo tinha medo dela.

Havia algo de diferente naquela menina sinistra.

Eu sentia que ela também queria olhar para mim, mas ao mesmo tempo não queria, ou não podia.

Isso aconteceu há muito anos atrás quando eu ainda era criança e agora pensando bem, geralmente todas as vezes que eu a via, algo de ruim acontecia em minha vida ou com alguém da minha família.

E agora estou me lembrando, sim, ela estava lá, todas as vezes que alguém falecia de minha família.

Como eu não havia notado isso? Puxa.

Mas faz muito tempo que não a vejo. E obviamente nada de ruim tem acontecido com as pessoas de minha família.

6 meses depois....

Tive sonhos horríveis essa noite.

Ela estava lá novamente, do outro lado da rua, mas não era mais uma menina, era um moça já.

Mas o mesmo vestido, o mesmo olhar perdido. Mas quando ela ia se virar para olhar para mim, eu tive muito medo e virei o rosto.

Acordei apavorado. Desesperado.

Por que? Qual o motivo desse meu medo.

Durante toda a semana tenho tido os mesmos sonhos. A moça de preto, eu sinto que ela quer me olhar.

Eu sei que algo de ruim vai me acontecer quando ela me olhar.

Mas ainda assim são somente sonhos, não a tenho visto há muito tempo.

É só uma paranóia.

Na verdade tenho andado pelas ruas de cabeça baixa, para não correr o risco de ver a tal moça de preto.

Hoje, sinto que estou bem, e que a menina que virou moça só está nos meus sonhos, nada mais.

Vou até o mercado, o dia está muito bonito.

Faço minhas compras. e quando me dirigo ao caixa e olho para fora, meu coração dispara e meu corpo fica gelado, começo a transpirar frio.

Ela está lá, imóvel, do outro lado da rua.

O mesmo vestido preto de mangas compridas, apesar do calor.

Só que agora ela está olhando em minha direção. Tenho certeza que ela me viu, apesar de seu olhar perdido.

Pago as compras e fico sem saber o que fazer.

Já sei, ela sempre desaparece quando passa algum ônibus ou outro tipo de veículo, e aí eu aproveito e saiu bem rápido.

10 minutos se passam e continuo dentro do mercado.Ela continua lá.

A rua está com pouco movimento hoje.

Estou vendo um caminhão de entregas vindo, e vai estacionar bem próximo da moça.

É minha chance agora. Vou aproveitar e correr para casa.

Preciso ser rápido. Agora.

Desesperadamente saio a passos largos.

Só ouço o barulho ensurdecedor de um caminhão vindo sobre mim pelas costas.

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No jornal do dia seguinte, está estampado:

Homem morre atropelado por caminhão desgovernado que invade calçada.

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Dessa vez a menina que virou moça estava lá do outro lado da rua, quando o caminhão de entregas foi embora.

Ela olhava fixamente em meus olhos e estendia a mão para mim.

Me levantei, atravessei a rua, peguei sua mão e fomos caminhando pela rua, que agora estava deserta onde só estava eu e a menina que virou moça de vestido preto.