O DEFUNTO E O PALETÓ AZUL MARINHO
 

--- Valha-me Deus! De quem é esse paletó que tá no varal?

Perguntou simplesmente por perguntar, sabia exatamente a quem tinha pertencido aquele paletó azul marinho. Era bastante familiar pra ter sido esquecido tão rápido.

Lembrou  de que aquele paletó havia sido usado em importantes ocasiões, batizados, bailes de debutantes, casamentos, e até em datas menos significativas, mas se não lhe falhava a memória aquele paletó também havia sido enterrado juntamente com seu pai.

Lembrou de que ela mesma o entregara ao funcionário da funerária responsável pela preparação do defunto e que ele havia comentado sobre a dificuldade que teve ao abotoa-lo devido ao inchaço  que o cadáver apresentava.

Não acreditou no que estava vendo, pensou que estivesse dormindo e sonhando, observou novamente aquele paletó pendurado no varal agitado pelo forte vento que soprava. Certificando-se de estar bem acordada sentiu arrepios e pediu explicação à mãe que tranquilamente lavava as louças do almoço.

---  O que tá acontecendo? Este não é o paletó do papai?

Perguntou com voz baixa e trêmula.


--- Você sabe né? Dona Esmerinda não tinha lugar pra ser sepultada e como boa cristã atendi ao pedido do padre Alberto de ceder uma gaveta no túmulo de seu pai para enterrar a pobre. Não podia deixar de atender a este pedido, seria até desumano dizer não. Tiveram de fazer uma limpeza lá e encontraram restos mortais de seu pai, ossos ainda inteirinhos e o paletó dele intacto, foi então que resolvi trazer pra casa. Tecido de fibra boa em? resistir a tantos anos...

Indignada não deixou que a mãe terminasse de se explicar.

--- Não acredito no que estou ouvindo!  Não me diga que trouxe ossos também...

--- Não filha, os ossos coloquei num saco plástico e deixei lá mesmo do lado do caixão de dona Esmerinda. Tua vó queria trazer mais disseram que é proibido ai achamos melhor esquecer.

--- Menos mal, não ia admitir tal absurdo.

A explicação da mãe não a convenceu de que aquilo não passava de uma atitude mal pensada e exigiu que o paletó fosse levado para o lugar de onde nunca deveria ter sido tirado.

--- Exijo que vá deixar esse paletó no cemitério ou em qualquer outro lugar.

Depois de muito debate entre as duas a filha acabou convencendo a mãe a se desfazer do paletó.

A mãe concordou em ir deixar o paletó no mesmo lugar de onde havia trazido, mas como o cemitério era distante de casa resolveu dar-lhe outro destino. Guardou-o enquanto pensava qual.

Na paróquia da cidade estava sendo organizado um bazar para arrecadar dinheiro para custear a festa da padroeira. Roupas, calcados, utensílios, qualquer coisa usada que estivesse em bom estado de conservação poderia ser doado para venda. Pareceu-lhe o momento ideal para resolver o problema e entre outras coisas que recolheu dos armários estava o paletó que foi bem aceito por estar limpinho e cheiroso.

O paletó foi o primeiro objeto a ser vendido no bazar para um sujeito que ninguém da cidade conhecia, depois de uma cerrada discussão com outro sujeito também desconhecido que mostrou interesse em compra-lo.

Ninguém nunca mais os viram.

Será que aquele sujeito era o falecido e aproveitou a oportunidade para resgatar seu paletó? 

E o segundo sujeito quem seria? Talvéz seu vizinho também falecido, quem sabe? 

Perguntas que por enquanto não sabemos responder, mas talvéz quando formos também vizinhos possamos desvendar este mistério....

RARARARARARARARARARARARARARARAR

 
 
 
 
 
 
 
 
Jorgely Alves Feitosa
Enviado por Jorgely Alves Feitosa em 11/04/2013
Reeditado em 19/10/2018
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