Deep World - A Cidade Abandonada Parte 1

Obs: Ler introdução primeiro! Boa Leitura!

Vërtop, Albânia; 12 de março de 2013

A intensa ventania oriunda das imponentes montanhas ao norte, que pareciam tão antigas quanto o próprio planeta, deixava claro a qualquer visitante que os primeiros sinais da primavera ainda tardariam a aparecer por aquelas bandas. O céu tinha uma coloração cinza-chumbo, e a total ausência da cor verde na paisagem demonstrava que a luz do sol não era lá muito frequente na região. Em fato, todo e cenário lembrava morte e devastação. As ruínas das construções em estilo gótico estavam há muito tempo abandonadas. As ruas do local constituíam um amontoado de casas e pequenos prédios sem vida.

_E então, Carla _ disse Jean _ diga-me se este local não é perfeito para um relaxante período de férias?

_Você deve estar maluco, seu filho da... _ uma rajada de vento particularmente forte abafou o final da frase.

_Ora, meu bem, se esta não é a viagem dos seus sonhos, eu estou isento de culpa. Quem escolheu o nosso destino foi o meu querido sobrinho.

O jovem, que seguia alguns passos atrasado, com os braços ao redor do corpo, tentando se proteger do frio, arregalou os olhos.

_Ei, eu apenas fiz o que o senhor me pediu, tio _ defendeu-se.

_Você está certo. Eu lhe disse: procure nessa tal Deep Web alguma lenda ou história estranha para nós investigarmos, e você nos trouxe para a Albânia!

_Correto!

_Mas você tem certeza que não havia nada de anormal acontecendo no Havaí? Ou em algum outro lugar quente? A Terra é um planeta razoavelmente grande... _ disse Carla, mal-humorada.

O sobrinho de Jean Vasconcellos chama-se Pedro Henrique, ou PH, como ele preferia. Aos dezenove anos, ele tinha mais conhecimento em informática do que uma pessoa normal conseguiria adquirir durante toda a vida. Ele era baixo para a sua idade – mal chegava a um metro e setenta – e tinha um corpo franzino; seu rosto era coberto de espinhas e ostentava um par de óculos quadrados com lentes grossas. Em vários aspectos, PH era a personificação clássica do estereótipo nerd.

O jovem era um assíduo frequentador da Deep Web; local onde participava de inúmeros fóruns de discussão de Hackers. Ao saber do novo projeto do tio, ele imediatamente voluntariou-se para prestar auxílio técnico. Carla continuava achando a história do misterioso milionário muito suspeita; assim como a mãe de PH, Janete. Mas Jean havia conseguido tranquilizar a irmã com um cheque de cinco mil reais pelos serviços do filho. Aquela quantia era ínfima perto do valor que o jornalista tinha recebido como adiantamento pelo seu trabalho.

Assim, PH introduziu Jean e Carla no mundo da Deep Web.

_Alguns afirmam que essa rede é dividida um camadas, como uma cebola_ explicou ele _ E que pra chegar aos sites mais secretos é necessário um longo caminho através de páginas e mais páginas. Dizem até que alguns endereços são protegidos por criptografia avançada...

Carla havia ficado horrorizada com o conteúdo daquele lugar, que parecia o paraíso dos pedófilos. Mas isso era apenas a ponta do iceberg. Quanto mais fundo eles iam, maior era o número conteúdos doentios. Zoofilia, necrofilia e todo a sorte de fantasias sexuais bizarras; automutilação, canibalismo e seitas demoníacas; fotos e vídeos de assassinatos, matadores de aluguel e relatos de atividades desumanas e grotescas...

_Não é possível que essas coisas aconteçam de verdade!

_Bem, só existe uma maneira de descobrir _ disse Jean _ PH, encontre uma história para que nós possamos investigar!

E assim, PH descobriu, em um fórum dedicado à morte, a lenda de Vërtop. Segundo a história, havia ocorrido na pequena cidade da Albânia, há apenas dois anos, um dos maiores suicídios coletivos de que se tem notícia: vinte mil pessoas, o que representava quase a totalidade dos habitantes do lugar, haviam tirado suas próprias vidas no mesmo dia. Poucos haviam sobrevivido ao ato, e esses indivíduos, segundo o texto, estariam vivendo em um manicômio, com a mente totalmente arruinada.

_Isso não pode ser verdade! _ disse Carla.

_E porque não? _ perguntou Jean com um sorriso infantil.

_Se algo assim realmente houvesse ocorrido, isso teria sido notícia em todo o mundo! Um fato dessas proporções...

_Ora, minha cara, você sabe muito bem que noticiar casos de suicídio é uma prática condenada em praticamente todo o mundo. Além disso, um fato dessa magnitude, divulgado, poderia causar pânico generalizado, ou pior...

_Então você acha que isso pode realmente ter acontecido?

_E porque não? Como jornalista eu tenho que estar aberto a todas as possibilidades... Talvez _disse ele com um brilho nos olhos _ o homem que nos contratou esteja certo. Podem estar acontecendo coisas no mundo das quais nós não tenhamos o mínimo conhecimento... Aliás, PH, como foi que essas pessoas cometeram suicídio?

_Essa é a parte da escabrosa da história! Nenhum deles seguiu um caminho “tradicional”. Todas as mortes foram absurdamente dolorosas; alguns se encharcaram de gasolina e em seguida atearam fogo, outros se mutilaram com objetos cortantes e até mesmo serras elétricas, um homem chegou a provocar um grupo de cachorros ferozes até eles dilacerarem o seu corpo lentamente... Vejam, há algumas fotos...

_Hum... _ murmurou Jean _ parece que nós já temos o nosso primeiro destino, não é mesmo Carla?

A mulher não respondeu, pois naquele instante ela estava correndo para o banheiro com forte enjoo. ..