Deep World - Introdução Parte 2

Obs: Está a continuação da história que eu postei anteriormente. Trata-se de um conjunto de contos ou talvez de um romance... Irei postando aos poucos para saber o que vocês acham, ok? Boa Leitura!

São Paulo, Brasil; 06 de Março de 2013

O tilintar de taças e as vozes alegres compunham o som ambiente daquela noite festiva. No elegante salão, enfeitado com imponentes vasos de mármore e tapetes importados, a nata da comunicação brasileira aproveitava o evento para trocar informações, discutir possíveis pautas e, também, para usufruir da boca livre. O Buffet oferecido era de primeira linha e, como diziam alguns, aquela era a única chance no ano que os jornalistas tinham a oportunidade de variar o cardápio, normamente constituído por um misto-frio devorado às pressas na padaria da esquina antes do retorno à redação para o fechamento da edição.

No centro do salão, trajando um elegante smoking alugado e exibindo o mais radiante dos sorrisos, estava Jean Vasconcellos. Com apenas vinte e nove anos, Vasconcellos era considerado um dos grandes talentos do jornalismo brasileiro – e aquela noite havia confirmado essas opiniões. Com sua série de reportagens sobre uma quadrilha responsável por uma rede de turismo sexual no nordeste brasileiro, o repórter havia faturado o prêmio Esso de melhor reportagem investigativa. Ele era o mais jovem jornalista a ganhar o prêmio, como o próprio havia feito questão de frisar em seu discurso de agradecimento.

Jean adorava o seu trabalho: a adrenalina da investigação, a satisfação da descoberta, o prazer de contar histórias... Mas, acima de tudo, ele adorava ser o centro das atenções. Assim, naquela noite, ele estava se sentindo como uma criança ao receber o presente tão esperado na manhã de natal.

_Muito obrigado, senhor! _ disse ele pela enésima vez, mas com o mesmo brilho em seus olhos castanho-claros, que eram emoldurados por um rosto bonito e arredondado, com uma boca fina, nariz levemente arrebitado e cabelos claros e encaracolados _ É realmente uma honra! Muito, muito inesperado... Tantos talentos na disputa...

_Você poderia ao menos fingir que está realmente surpreso_ disse-lhe Carla Esteves à surdina.

_Ora, meu bem, eu não a compreendo. Este prêmio foi realmente uma surpresa!

_Sério? Sendo assim, por qual motivo o seu discurso já estava pronto há mais de um mês?

_Você sabe muito bem que eu sou um homem precavido! _ disse ele com uma piscadela.

Carla Esteves tinha uma beleza distinta dos padrões vigentes. Seu corpo era um pouco cheio e seus ombros talvez um pouco largos demais; seu rosto era levemente quadrado, com uma boca reta, nariz pequeno para sua estrutura facial e gélidos olhos azuis. Ainda assim, Jean costumava dizer que ela estava “com tudo em cima” aos trinta e três anos. Ela trabalhava como repórter fotográfica e produtora do jovem jornalista há dois anos. Eles haviam se conhecido em um bar, no qual Vasconcellos estava embebedando uma fonte para obter informações confidenciais de um órgão de governo federal e ela estava afogando as magoas após ter abandonado o noivo no altar, ainda em seu vestido de noiva. Inegavelmente, essa história era um dos maiores sucessos do repertório de Vasconcellos.

_Veja, aí vem mais um! _ disse Jean ao verificar a aproximação de um estranho.

_Jean Vasconcellos? _ perguntou o homem em um português sofrível. Ele tinha a tez escura, com cabelos crespos e olhos negros; seu corpo era volumoso, e ele parecia desconfortável no traje de gala.

_Ao seu dispor.

_Eu tenho uma proposta a lhe fazer.

_Lamento, amigo, mas eu jogo em outro time. Em todo o caso, eu, em seu lugar, também não arriscaria nada com a minha companheira aqui; você poderia ter uma surpresa no dia do casamento _ completou Jean, rindo da própria piada.

_Tratasse de uma proposta profissional _ retrucou o desconhecido sem esboçar sorriso.

_Certo. Neste caso, eu peço ao senhor que me procure amanhã. Como você deve ter notado, nós estamos em uma festa e...

_Meu cliente deseja que este assunto seja resolvido o quanto antes.

_Seu cliente? Como nos filmes de mafiosos? Interessante! Então vamos ouvir a proposta de seu cliente.

_Poderíamos ir a um local mais reservado?

A contragosto, Jean, acompanhado por Carla, seguiu o homem até um ponto mais vazio do salão.

_Sua amiga poderia...

_Oh, não se preocupe! Ela é de confiança. A não ser, é claro, quando se trata de matrimônio.

_Muito bem. Eu represento um homem que tem grande admiração pelo seu trabalho. Ele deseja financiá-lo, para que o senhor possa investigar e escrever sobre um tema em específico.

_E qual seria?

_A Deep Web.

Jean olhou para Carla que parecia desconhecer o assunto tanto quanto ele.

_Trata-se de um conjunto de conteúdos da internet _ continuou o estranho levemente aborrecido_ não acessível através dos mecanismos de busca convencionais. Uma grande área secreta da rede. Alguns afirmam que ela é quinhentas vezes maior que a internet convencional. O local é uma terra sem lei, já que é possível navegar de forma anônima. Na Deep Web é possível encontrar informações sobre qualquer coisa, inclusive temas hediondos, como fantasias sexuais grotescas, tráfico de humanos e de órgãos, matadores de aluguel...

_Certo... Parece interessante _ disse Jean achando o homem um pouco louco _ Mas qual o interesse do seu cliente nisso tudo?

_Existem determinados assuntos na Deep Web que não são de conhecimento público. Coisas estranhas estão acontecendo no mundo e são relatadas apenas nesse submundo.

_Trata-se então apenas de um interesse antropológico? E ele está disposto a financiar esse trabalho? Qual seria o valor desse financiamento?

_O dinheiro não é problema para o meu cliente.

_Como eu gostaria de poder dizer o mesmo...

_Você terá os fundos necessários para ir a qualquer lugar do planeta. Além, é claro, dos seus honorários pelo trabalho.

_Ok!

_Ok?

_Sim. Eu aceito o trabalho! Quando eu posso conhecer o meu novo chefe?

_Meu cliente é uma pessoa muito reservada. Todas as negociações serão realizadas através de mim.

_Interessante!

_Aqui está o meu cartão. Caso o senhor realmente resolva aceitar a proposta, ligue-me amanhã. Nós poderemos acertar os detalhes.

Dizendo isso, o desconhecido virou as costas e deixou o local.

_Você acredita nisso? _ disse Jean à Carla.

_Eu não acredito que você tenha aceitado! Isso pode ser perigoso. Que tipo de homem esconde a sua identidade? Ele apenas pode ser um bandido ou um psicopata.

_Ora, meu bem. Onde está a diversão se não houver um pouco de suspense? Além disso, não se preocupe comigo, você estará lá para me proteger...

PS: Para quem se interessar em saber mais a respeito da Deep Web, é possível encontrar um grande volume de informações em uma pesquisa no Google!