MINHA BISAVÓ VIRAVA ONÇA

A avó de meu pai morava num lugarejo aqui no nordeste do Pará, junto com ele e mais um filho cujo nome era Zacarias. A velha mulher estava nos seus últimos anos de vida e apesar de seu filho cuidar de trazer algumas latas de massa para mingau, ela fazia questão de comer uma mistura de farinha de mandioca que era mergulhada num pouco de água. A velha senhora preparava pela tarde, colocava perto de sua rede e comia isso a noite.

Certo dia meu pai e Zacarias apanharam algumas jacas, e trouxeram duas para comer em casa. Eles ofereceram a fruta para a idosa, que recusou dizendo:

“- há meu filho agente que é velho não come mais essas coisas”

Eles comeram uma enorme jaca e não conseguiram comer a segunda, que ficou sobre o jirau. Zacarias precisou fazer uma pequena viagem, enquanto Nilson saiu para trabalhar na roça.

Ao retornar, Nilson reparou que a jaca que deveria estar intacta tinha sido devorada, mais de uma forma incomum, pois os caroços, o talo e a poupa foram devorados, a única coisa que sobrou foi o “couro” grosso da fruta. Ele perguntou a ela se havia comido a fruta, mais ela negou.

O costume de caçar é hábito num ambiente em que as pessoas não dependiam mais do extrativismo, mais ainda faziam questão de preservar a cultura e se beneficiar de uma boa carne de paca, tatu etc...

Um tempo depois Zacarias foi caçar a noite. Pegou sua espingarda e uma lanterna, andou pela mata adentro e subiu no “Mutar” (uma estrutura de madeira que montavam sobre os galhos das árvores para esperar a caça rasteira).

Ele desobedeceu um conselho dado por sua velha mãe que dizia:

“ - Meu filho não caçe mais a noite, porque indo todas as noites pode acabar vendo coisas que não gostaria de ver, a mata tem mãe”

Ele disse que era destemido e não tinha medo de nada

Então esperou na escuridão da noite sem luar até que ouviu um barulho, logo pensou que fosse um animal rasteiro que caminhava quebrando galhos. Ele ligou a lanterna que alinhava com a mira da arma, apontou para a direção do barulho e viu olhos como brasa encarando ele sem medo, reparou que se tratava de uma onça sentada que esperava para que ele descesse para comê-lo, por isso Zacarias atirou, ferindo o animal com chumbo de sua arma na região dos quadris. Ela saiu ferida, e ele seguiu os rastros de sangue, até que estava ficando cada vez mais próximo de sua casa, então notou que o rastro acabava na porta.

Tratou de entrar para proteger sua mãe, mais ficou surpreso ao observar a velha senhora gemendo de dor.

- o que foi isso mamãe?

Ela respondeu.

- eu me feri num pedaço de tronco quando caminhava pelo quintal meu filho.

O estranho é que ela nunca mostrou o ferimento a ninguém.

Ao passar do tempo ela começou a piorar dos quadris até que foi levada para a casa de seu outro filho, num sítio há alguns quilômetros de distancia.

Ela encarava seus últimos dias de vida.

Na hora da morte, as pessoas da família observavam silenciosamente enquanto a idosa tentava subir numa árvore de mamão, arranhando sua base e rosnando como se fosse um felino.

HISTÓRIA VERÍDICA.

Tesla da escrita
Enviado por Tesla da escrita em 09/04/2013
Reeditado em 09/04/2013
Código do texto: T4232625
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