Deep World - Introdução Parte 1

Sinopse: Jean Vasconcellos é um jovem astro do jornalismo investigativo do Brasil. Após ganhar um importante prêmio por uma série de reportagens sobre o turismo sexual na região nordeste, Jean recebe uma proposta de um milionário anônimo que promete financiamento para um ambicioso projeto: a investigação acerca dos mistérios e das lendas encontradas na Deep Web. Sem nenhum conhecimento prévio sobre o assunto, Jean aceita a proposta e inicia um mergulho em águas profundas e um tanto sombrias.

Orã, Argélia; 15 de Novembro de 2012

Grandes casarões decrépitos postavam-se nas estreitas ruelas acidentadas daquele bairro há muito tempo abandonado à própria sorte. No século XIX, durante o período de domínio francês, aquela região havia abrigado os invasores europeus, que ostentavam todo o luxo trazido do velho continente, em suas mansões ao estilo art neveau; porém, pouco mais de um século depois, o lugar mais parecia uma cidade fantasma. Inúmeros projetos de revitalização foram propostos ao longo dos anos, mas, a verdade, é que ninguém gostava daquele lugar. Durante a epidemia de peste bubônica, de 1947, o então bairro da elite europeia, localizado próximo às margens do Mar Mediterrâneo, foi um dos mais afetados, ocasionando a morte de quase todos os moradores. No fim do século XX, após a independência da Argélia, a cidade de Orã havia se tornado um grande centro comercial, industrial e educacional do país, e aquelas ruelas estreitas apenas traziam más recordações à população da cidade. Alguns chegavam a afirmar que era possível ouvir o lamento das almas daqueles infelizes que haviam morrido no lugar. Assim, o bairro havia sido abandonado por todos – ou pelo menos pela maioria das pessoas.

Traficantes de drogas e de armas, prostitutas e membros de organizações criminosas tinham aquele lugar como um porto seguro para a prática de seus atos ilícitos. O policiamento na região era escasso, e os poucos policiais que por ali se aventuravam eram integrantes dos movimentos criminosos ou corruptos. Mas, naquela noite quente e úmida, em que o céu estava completamente encoberto e a escuridão no local era praticamente palpável, uma intrusa havia penetrado no antigo bairro francês. Esgueirando-se pelos cantos, Ania Petrova sabia muito bem que sua vida estava por um fio.

_Achem-na! _ gritou alguém.

_Ela não pode estar longe, senhor.

_Pois então tratem de encontrar essa puta!

A garota estava apavorada. Concentrando-se, ela tentou controlar a sua respiração. “Você foi treinada para isso, Ania!”, pensou ela. “Controle-se ou você será encontrada pelos cães!”. A simples nota mental a respeito dos cães fez seu corpo gelar, apesar do forte calor. A garota havia visto os animais apenas de relance, mas ela sabia que havia algo muito errado com eles. Levantando-se com cautela, ela seguiu descendo a ruela com as costas voltadas para os muros das antigas mansões. Ela precisava ser rápida.

_Onde você está, querida? _ gritou mais uma vez o perseguidor _ Os meus animais de estimação estão ansiosos para lhe conhecer!

E então uma série de latidos quebrou o silêncio. Ania foi novamente dominada pelo pânico. Aqueles latidos eram desesperados e guturais; a garota nunca havia ouvido um cão produzir um som similar. Abandonando a cautela, ela pôs-se a correr o mais rápido que podia na direção da saída daquele lugar.

_Lá está ela! Vamos!

Enquanto corria pelas ruas de pedra, Ania olhou rapidamente por cima de seus ombros e viu que os perseguidores estavam se aproximando. Agarrando firmemente o objeto que ela trazia em seu casaco, ela continuou a descida. Ela havia se sacrificado tanto para colocar suas mãos naquilo... ela não poderia morrer ali; não depois de tudo o que havia passado.

Com o espírito revigorado, ela continuou a corrida. Naquele momento, poucos metros a separavam da ampla avenida beira-mar. Quando chegasse naquele lugar, ela tinha esperanças que estaria a salvo...

_Solte os cães!

A garota ouviu o barulho de correntes. Logo os animais estavam em seu encalço. As luzes que iluminavam a avenida estavam cada vez mais próximas... Ela iria conseguir... Apenas mais alguns segundos... E então Ania tropeçou. Não era de se admirar. Aquele calçamento não era reformado há mais de um século. Certamente muitas pedras soltas espalhavam-se ao longo daquelas ruelas. Ania caiu e rolou. Quando finalmente parou, seu corpo colidiu dolorosamente contra uma árvore seca postada junto ao meio-fio. Sentindo-se zonza, ela tentou se levantar, mas suas pernas falharam. A garota podia sentir o sangue quente que corria pelo seu rosto a partir de um profundo corte em sua testa. Quando seus olhos conseguiram finalmente focalizar o que acontecia ao redor, ela deparou-se com a cena mais grotesca e repulsiva que já havia visto na vida.

Os “cães” que a perseguiam tinham uma aparência humana, mas ao mesmo tempo era coisa menos humana que poderia existir. Seus corpos eram descarnados e repletos de cicatrizes, como se tivessem sofrido severas queimaduras; suas “patas” eram na verdade membros humanos, amputados na altura dos cotovelos e dos joelhos, os ossos restantes haviam sido mutilados diversas vezes, de forma a criar, com a ajuda de ligas metálicas, novas articulações, permitindo às criaturas a locomoção; seus rostos conseguiam ser ainda mais horripilantes, os olhos haviam sido arrancados e dos globos oculares vazios escorria uma substância esverdeada e viscosa, os narizes haviam sido alterados de forma grotesca, dando-lhes e um aspecto de focinho, e as bocas dos monstros tinham lábios tão negros quanto os dentes apodrecidos, mas ainda assim afiados, com insetos e vermes saindo do interior.

Ania estava em estado de choque. Ela sabia que coisas terríveis estavam sendo realizadas naquele lugar, mas ela não conseguia imaginar que um humano fosse capaz de transformar um semelhante daquela forma.

_Soc... socor...soc... _ ela tentou gritar por ajuda, mas sua voz estava paralisada pelo medo. Os animais a vigiavam, emitindo rosnados ameaçadores. Logo os dois homens que haviam participado da perseguição se aproximaram. Ambos trajavam pesados casacos negros, e protegiam seus rostos com bizarras mascaras de palhaço.

_Muito bem, querida _ disse o que parecia ser o líder _ a brincadeira acabou. Agora me entregue.

_Do q-que você está falando?

_Você prefere continuar este jogo? Muito bem. Omar, deixe os cães atacarem.

_Não, por favor!

_Não se preocupe. Elas não irão te matar... pelo menos por enquanto.

Antes que ela pudesse reagir, as duas criaturas avançaram sobre seu corpo como um faminto em um prato de comida. Ela assistiu, em estado de choque, eles abrindo seu abdômen e devorando tudo pelo caminho. Pouco depois, ela já estava inconsciente...

Doylee
Enviado por Doylee em 08/04/2013
Código do texto: T4230860
Classificação de conteúdo: seguro