Coração de Metal
Cynthia o pegou com as mãos. O pequeno coração de metal, frio e brilhante, a fazia lembrar sua vida até aquele momento. Sua presença representava o único raio de luz em sua existência. Olhava para o colar e pensava como era pequeno e frágil.
Colocou o colar em volta do pescoço. Sabia que outros o queriam, apesar deste colar não ter nenhum atrativo especial. Era um simples colar em forma de coração. Mas, sabia que logo viriam atrás dele. Logo. Respirou fundo. Olhou em volta, para seu apartamento. Um lugar sombrio. Tinha medo do que poderia existir nos cantos escuros dele. Suas paredes pareciam respirar, lentamente. Um relógio, na parede, fazia um som estranho, quase como um coração pulsando a cada tic…a cada tac. Havia sussurros nas brisas que raramente conseguiam alcançar o interior da residência. O ar, denso e pesado. Mas Cynthia sabia que aquela era a menor de suas preocupações; que, de alguma forma, ali dentro, estava protegida, protegida de quase tudo.
Levantou-se calmamente. Andou em direção do seu quarto, abriu a porta e entrou. Deitou-se na cama e olhou para cima, para as sombras que se projetavam no teto do quarto; sombras vindas da rua, da noite. De quando em quando, elas formavam uma figura sinistra, a imagem de algum horror ancestral. E o tempo passou. E a noite ficou mais fria e escura. E Cynthia permanecia lá, deitada, tentando não pensar em nada. As memórias que a assombravam ficavam cada vez mais fortes à medida que a jovem tentava afugentá-las de sua mente. O rosto de Tomas cada vez mais nítido a cada segundo que se passava; seu sorriso esvanecendo.
Tentou não presta atenção nos seus próprios pensamentos. Levantou-se, então, e foi ver o movimento da rua que passava em frente a sua morada. Àquelas horas da noite, ninguém mais se atrevia andar a ermo por aí. Olhou para o céu noturno, para a lua minguante, que já se dirigia para o outro lado do mundo. Sabia que estava na hora.
Lá fora, a neblina ficava mais densa
Num assalto, fechou as janelas e todas as portas; trancou-se dentro de seu quarto. Sentou no chão, ao lado do criado mudo, e, então, esperou. Eles viriam.
Primeiro, o ar perdeu sua força e a casa inteira parecia se retorcer na presença deles. Cynthia agarrou uma foto de Tomas, seus olhos fecharam-se. E começou. BAM… BAM era o barulho que as portas faziam. E os gritos ecoavam no ouvido de Cynthia; Grunhidos e vozes indistintas pelo quarto, E Frio era tudo o que ela podia sentir; E vazia era tudo que ela poderia ser; Naquele momento. A dor perdurou por horas. Até o dia raiar. E Cynthia agüentou forte, nunca cedendo a um momento de desespero.
Tudo silenciou. Tudo ficou inerte.
Cynthia percebeu que eles tinham ido embora. Não poderiam levá-lo. Nunca. Levantou-se e retirou o colar do seu pescoço. Eles nunca o teriam. Sim, eles nunca a teriam. Cynthia lembrava-se agora de como fora difícil convencer Tomas. Cynthia sabia desde do início, quando o vira pela primeira vez, que os dois eram almas gêmeas. Porém Tomas não conseguia ver o óbvio, então Cynthia tivera que fazer algo para ajudá-lo. Quando ela prendeu a alma do seu amado num singelo coração de metal sabia que ficariam juntos para sempre. E nenhum deus ou demônio se oporia a isso…