O elevador do medo
Os irmão Paulinho e Marcos, sempre passavam na frente daquela velha mina quando iam ou vinham da escola. Seus pais sempre os advertiam de nunca se aproximarem da entrada daquele inferno ( assim eram chamado por todos desde do ultimo acidente onde deixou soterrado mais de 40 empregados ) Naquele dia Paulinho que contava 15 anos vinha a frente de Marcos com 12 anos. Vinha chateado porque Aninha sua namoradinha tinha chamado ele para um sorvete na única lanchonete da pequena cidade e ele teve que recusar o convite porque sabia que se Marcos chegasse sozinho em casa era uma sova na certa.
Seus pais apesar de serem amorosos, não alisava quando o assunto era desobediência.
- Paulinho? Gritou Marcos tentando alcança-lo enquanto o sol do meio dia deixava mais difícil a longa caminhada da escola até sua casa no pequeno povoado onde moravam.
Sem dar importância ao irmão, Paulinho continuava andando sem olhar pra traz ou mesmo diminuir os passos.
- Inferno - Resmungava enquanto caminhava! se não fosse por esse guri eu podia estar agora tomando sorvete com a Aninha, mais não, eu tenho que tá pajeando esse moleque.
- Paulinho? - Insistiu o pequeno Marcos, agora quase gritando.
Virando-se para ver o irmão e com irritação na voz ele parou por alguns segundos e perguntou.
- Que merda você quer seu pirralho?
- Paulinho eu juro, na entrada da mina estava saindo fumaça.
- Não inventa seu pirralho de merda, essa mina foi desativada muito antes de nós dois nascer, como diabos pode depois de tantos anos estar saindo fumaça?
Mesmo não querendo acreditar no irmão ele continuou parado esperando que Marcos se aproximasse e continuasse a contar o que de fato tinha visto. Afinal a alguns dias quando eles passavam por ali, ele mesmo teve a impressão de ter visto fumaça saindo daquela entrada . Quando por fim o irmão chegou perto dele ainda ofegante com o peso da mochila e o calor escaldante ele continuou.
- Eu juro Paulinho, quando fui passando eu vir sair uma fumaça preta daquele buraco.
Depois de pensar um pouco Paulinho segurou no ombro do irmão e falou
- Escuta aqui Marcos, eu vou voltar lá com você e nós vamos verificar isso de perto, mais se você disser a papai ou mamãe que chegamos perto daquele inferno eu juro que amanhã quando voltarmos da escola eu te jogo lá dentro e digo a todos que não sei de você entendeu?
- Claro que não digo mano, e depois agente não vai chegar perto né? - Perguntou o menino demostrando um pouco de medo.
Batendo de leve na cabeça do irmão Pulinho falou.
- Seu moleque cagão, como vamos ver de onde vem a fumaça se não chegarmos perto?
- Mais eu não quero ver de onde sai a fumaça, só quero que você veja que tem fumaça.
Sem dar resposta Paulinho pegou o irmão pelo braço e voltaram até onde podiam avistar a entrada da mina. Ainda na estrada eles viram a fumaça, Paulinho ficou boquiaberto, então era verdade, não tinha sido só uma impressão da ultima vez que ele viu?
- Marcos vamos até lá embaixo, deve ter acontecido alguma coisa e mesmo depois de tantos anos o fogo foi reativado.
- Que fogo Paulinho, sempre ouvir dizer que essa mina foi desmoronada por cima dos empregados, nunca ouvir falar em fogo!
- Não sei, mais alguma coisa estranha estar acontecendo e eu vou descobrir o que é, eu não quis te falar mais outro dia eu também vir essa fumaça, mais quando olhei direito ela não existia mais, mais agora não, agora ela estar aqui e isso é fato, eu vejo e você ver, vamos lá moleque, temos que ser rápido para não nos atrasar...
A entrada da mina ficava em uma descida bem distante da estrada por onde as pessoas passava, só mesmo olhando pra baixo era que podiam ver a velha mina.
Deixaram suas mochilas em cima de um amontoado de mato na beira da estrada e desceram quase que se arrastando.
Quando chegaram, não existia mais fumaça nenhuma a velha entrada continuava como vista de cima, com seus velhos arames enferrujados,
- Mais cadê toda aquela fumaça Paulinho? - perguntou o irmão boquiaberto.
-Não faço ideia mano, parece que desapareceu do nada.
Quando já se preparavam para subir ouviram uma zoada vindo de dentro da mina. Sem pensar duas vezes correram para o mais próximo possível e o que viram os deixaram assustados.
- Paulinho o elevador da mina estar funcionado, caraca deve ter alguém lá em baixo. -Falou o irmão
Sem nada entenderam ficaram olhando aquela velha grade de ferro chegar sem ninguém. Depois de um tempo de 2 a 3 minutos o velho elevador voltou a descer, como se alguém o tivesse chamado lá embaixo. Eles se aproximaram o máximo possível mais a escuridão era total, nem mesmo o velho elevador era visto tamanha a profundidade do poço. Quando eles pensaram em voltar e contar no povoado o que viram, mais uma vez o mesmo barulho do elevador que não demorou muito e voltava a subir.
- Olha lá Marcos, lá vem ele outra vez, com certeza quem o chamou lá embaixo deve estar subindo.
- Mano é melhor a gente se mandar daqui, vai que é um ladrão?
- Deixa de ser cagão moleque, o que diabos um ladrão vai roubar em uma mina de carvão desativada a mais de 20 anos? Vamos esperar e ver.
Não demorou muito e mais uma vez a grade enferrujada que em outros tempos servia para transportar os trabalhadores nas descidas e subidas da mina chegou e mais uma vez vinha vazio.
- Marcos deve ter alguém lá em baixo ferida que não consegue subir no elevador.
- Então vamos chamar ajuda mano. - Falou o caçula já achando que aquela aventura tinha perdido completamente a graça.
- E se já for tarde quando a ajuda chegar? - Perguntou Paulinho já se preparando para descer.
- Escuta Marcos, eu vou descer, e você fica me aguardando aqui viu? Não se preocupa com a mamãe, quando ela souber porque nos atrasamos vai entender e quem sabe nós até ficamos formosos, como os garotos que salvou alguém que estava preso na velha mina?
- Sei não Paulinho e aquela fumaça toda que vimos lá de cima?
- De certo alguém a fez para chamar a atenção.
- Mais você mesmo disse que outro dia também a viu, então quem estar lá embaixo, se aguentou até agora pode aguentar mais um pouco até nós pedirmos socorro.
- Deixa de ser covarde moleque, se formos pedir ajuda os créditos ficam com as autoridades e nem vão falar de nós. - Quando falava isso ele pensava no orgulho que Aninha ia ter dele, sem contar que podia até ganhar uma gratificação em dinheiro dependendo de quem tivesse preso lá embaixo.
Já estava dentro do elevador quando Marcos mais uma vez ainda tentou.
- Mano se essa mina foi soterrada, como pode ter aluem lá em baixo?
- Não sei Marcos, isso só vamos saber depois que eu ver, fica tranquilo, não demoro, se não der para transportar quem tiver lá embaixo eu subo para pedir ajuda.
O elevador começou a descer assim que Paulinho acionou a maçaneta.
Passaram-se mais de 10 minutos sem sinal do elevador, agora o medo de Marcos era mais real que nunca, depois de esperar mais uns 5 minutos acionou a alavanca chamando o elevador, queria ter a certeza de que estava funcionado. Depois de duas tentativa, nada, só o barulho das velhas correntes que prendiam a grade de ferro se fez ouvir.
Tentou mais duas vezes e nada, depois de mais 15 minutos de espera por fim chegou a conclusão de que tinha que pedir ajuda, mesmo que para isso tivesse que enfrentar a fúria dos pais por ter desobedecido.
Subiu ofegante até a estrada e depois de colocar sua mochila nas costas pegou a do irmão na mão e passou a caminhar quase correndo.
Ao avistar sua pequena casinha cercada por um jardim florido que era o dengo de sua mãe quase entrou em pânico ao avistar seus pais de pé no alpendre com uma mão na testa tentando avistar ao longe.
Suas pernas tremeram, sabia que as explicações seriam muitas antes de ser entendido.
Assim que se aproximou sua mãe veio correndo ao seu encontro e antes que ele tivesse tempo para abrir a boca ela já gritava.
- Marcos meu filho, onde vocês estavam e cadê seu irmão?
Depois de ser praticamente puxado para dentro de casa, lhe foi servido uma agua e começou todas as explicações desde do primeiro instante quando ainda na estrada ele viu a fumaça que saia da entrada da mina.
O copo de bombeiro foi acionado na cidade, depois que o pessoal do vilarejo viu que, ou o menino mentia e aquele velho elevador nunca funcionou ou tinha algo muito estranho naquela história. Pois a entrada da mina permanência do jeito que foi fechada a 20 anos com a diferença de que o ferrugem tinha corroído quase todas as correntes.
O sol já se punha no horizonte quando por fim o bombeiro que desceu em uma corda até o fundo da mina fez sinal para que subissem a corda.
Quando chegou em cima chamou o chefe ao lado para que os pais e até mesmo a população não ouvisse o que ele tinha a dizer.
- Chefe tem certeza que o moleque caiu nesse poço hoje?
- Sim claro, pelo menos é o que os pais garantem, que os dois meninos saíram hoje cedo para a escola, a professora e os colegas estão ali mais a frente , e garantem que eles assistirão as aulas normalmente até as 11,30hs, só saindo depois que o sino tocou, mais porque essa pergunta criatura, diz de uma vez, o menino caiu ou não caiu no poço?
- Caiu sim chefe, pela foto que a mãe deu, com certeza é ele quem estar lá embaixo, mais a historia do garoto que o elevador subiu e desceu mais de uma vez não bate, não tem mais ninguém além do garoto da foto e o corpo estar todo inchado e já tem vermes entrando por ouvidos, boca e nariz! Chefe eu não sou legista mais tenho certeza que aquele garoto já estar morto a mais de 4 dias.
O mistério de Paulinho permanece até hoje no povoado Aguada. A estrada que passa próximo a mina foi desativada completamente e um ou outro desavisado que passe por lá ainda garante que ver fumaça sando da velha mina.