História de morte
João foi despertado mais uma vez. Um som de gorgolejo na maca ao lado. Um senhor de idade segurava a cabeça entre as mãos, e vomitava algo fétido e sanguinolento. Todo o seu corpo tremia. João se virou para o outro lado com nojo. Passados alguns instantes, o silencio voltou a reinar. Devagarzinho João se sentou e olhou na direção do senhor que vomitara, o homem voltara a dormir profundamente. Decidiu novamente bater na porta, precisavam tirá-lo dali. Horas depois quando cansado de bater, João retornara a sua maca, Ouviu a porta sendo aberta e se levantou rapidamente. Um homem muito alto e de idade indefinida entrou. João começou a explicar a sua situação e quando disse que houvera um engano e que ele estava vivo, o visitante gargalhou de forma desagradável e falou: “O engano foi seu”. “Esse não é um local para os mortos”. Confuso João falou: “Se não estou morto e os outros também não, por que estamos presos aqui?” Ainda sorrindo com a boca de gengivas rosadas, o estranho disse: “Você quer sair? Fique a vontade. A porta está aberta”. Em um impulso João alcançou a porta, mas seus pés não conseguiram transpor o umbral. Por mais que ele se esforçasse não conseguiu sair. Chorando ele se voltou para o visitante. “O que está acontecendo, por que não consigo passar?” Sem responder o homem saiu e de novo encostou a porta. João se irritou e começou a gritar desaforos, palavrões, e a fazer ameaças. Até que exausto adormeceu. Ele não soube quanto tempo passou dormindo, mas quando acordou dessa vez percebeu que algo estranho estava ocorrendo. Todas as dez pessoas que estavam ali com ele, tinham despertado. E todas estavam de pé ao lado de sua maca o olhando de forma esquisita. O medo de ser atacado fez com que ele começasse a gritar esganiçada mente. Os dez pareciam não ouvir seus gritos. Seus olhos pareciam olhar para ele, sem o enxergar. De repente um barulho estranho partiu de uma mulher e uma grande quantidade de sangue lhe saiu pelo ouvido. Como se fosse um sinal, todos os outros começaram a vomitar, a evacuar fezes e sangue em abundancia. Não resistindo ao forte odor, João também passou a vomitar uma gosma esverdeada e quente. Sua cabeça parece que ia explodir, seus olhos arderam e um som estranho se fez ouvir. João desmaiou em meio a tanto horror. Muito tempo depois ele voltou a si e viu que alguma coisa mudara. Ao redor já não havia outras macas, e a sala em que estava agora era diferente. Notou que seus braços estavam presos e que estava ligado em aparelhos. Uma porta se abriu e por ela entrou o mesmo homem alto que o visitara antes. Desta vez acompanhado por uma moça morena. “Os dois sorriram e se aproximaram, e antes que ele dissesse alguma coisa o sujeito alto falou:” Bem vindo de volta à vida João. Por pouco não o perdemos.” A moça morena alisou o cabelo de João falando:” Vamos ver se daqui para frente, o senhor trabalha menos e cuide melhor da saúde. A maioria dos médicos não acreditava que depois de dois derrames e um mês em coma o senhor sobrevivesse. As lágrimas brotaram dos olhos de João e ele soube que o pior havia passado, que essa ainda não era a história da sua morte.